"Justiça para Odair Moniz", lia-se numa faixa presa junto à associação de moradores A Partilha, do Bairro do Zambujal.
Os moradores, pelas 20:30, tocaram uma música cabo-verdiana, entoaram palavras de ordem em crioulo e largaram balões brancos junto à casa de Odair Moniz, ao lado da associação.
"Estamos juntos", gritou-se em coro, em crioulo, seguido várias vezes de "Justiça", a que depois juntaram "para Odair".
Pouco depois, os moradores, entre os quais muitas crianças, algumas de 't-shirt' branca com a cara do cidadão cabo-verdiano estampada, largaram os balões brancos que seguravam e foi-se ouvindo o barulho do seu rebentamento, que se misturou com o de pequenos petardos lançados aqui e ali, e insultos para a polícia e os 'media'.
Após mais algumas palavras dirigidas aos moradores, a vigília encerrou com mais uma música de Cabo Verde, tocada por alguns participantes, e uma mulher desabafava que agradecimento não era suficiente e que "justiça seja feita".
"Temos direito a uma habitação digna, a equipamentos, a uma rede de transporte, a tudo o que qualquer pessoa que trabalha tem direito", disse à Lusa Flávio Almada, do movimento Vida Justa, advogando que tem de se parar com essa ideia de que o que se faz para os bairros é "uma esmola, uma caridade".
"Não, nós trabalhamos, nós produzimos e temos direito a uma vida digna", acrescentou.
Para Nuno Ramos de Almeida, porta-voz do Vida Justa, salientou que as necessidades dos bairros "não passa apenas pelo policiamento", mas "faltam políticas" que promovam a reabilitação dos bairros e a criação de infraestruturas de apoio social para os moradores.
"Odair era verdadeiramente formidável e de uma grande humanidade", descreveu João Marques, 33 anos, morador no mesmo prédio do cidadão cabo-verdiano, que "ajudava as pessoas do bairro".
"Hoje às 20h, sete dias após o seu assassinato pela polícia, Odair Moniz será homenageado no seu bairro do Zambujal. Este será mais um momento para exigir justiça e para afirmar que sem justiça e verdade os moradores dos bairros não terão paz", anunciou numa mensagem publicada nas redes sociais a família do cidadão cabo-verdiano.
"Estaremos presentes para apoiar os entes queridos de Odair neste momento difícil. Estejam connosco também!", acrescentou-se na publicação, difundida pelo movimento Vida Justa.
Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de 21 de outubro, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois, no hospital.
Segundo a PSP, o homem pôs-se "em fuga" de carro depois de ver uma viatura policial e despistou-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca".
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação "séria e isenta" para apurar responsabilidades, considerando que está em causa "uma cultura de impunidade" nas polícias.
A Inspeção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos, e o agente que baleou o homem foi constituído arguido.
Na semana que passou registaram-se tumultos no Zambujal e noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados e vandalizados autocarros, automóveis e caixotes do lixo, somando-se cerca de duas dezenas de detidos e outros tantos suspeitos identificados. Sete pessoas ficaram feridas, uma das quais com gravidade.
[Notícia atualizada às 22h47]
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