As falhas ou atrasos na resposta do serviço 112 e no encaminhamento para os CODU, do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), devido à greve dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar, têm gerado uma forte polémica e já terão levado à morte de pelo menos nove pessoas. O Governo relativizou as queixas, mas reconheceu que não esperava o "impacto" da paralisação.
Esta posição do Governo foi manifestada pela secretária de Estado da Gestão da Saúde, Cristina Vaz Tomé, ao ser interrogada sobre o aumento das queixas no que diz respeito à resposta do INEM.
A governante entendeu que o tempo de espera das chamadas é "equivalente ao de 2019", com críticas à comunicação social, que disse estar com "anemia".
"Se estivessem atentos, nos últimos anos houve várias queixas; aliás, nós temos os dados desde 2019, para não ir mais atrás, e o tempo de espera que nós temos das chamadas é equivalente ao que nós tínhamos em 2019, portanto não há aqui um exagero em termos dos atrasos", atirou a secretária de Estado, numa visita à hospitais em Coimbra, em substituição da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, que cancelou a agenda devido a uma "indisposição".
Contudo, Cristina Vaz Tomé reconheceu que o Governo foi surpreendido com o impacto de duas greves em simultâneo na segunda-feira - dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar e da Função Pública -, mas confirmou que o Executivo teve "conhecimento do pré-aviso de greve".
A informação, note-se, confirma a notícia adiantada pelo Expresso, de que o Ministério da Saúde teve dez dias para travar a greve dos técnicos do INEM.
"Aliás, já houve greves semelhantes a estas; a última foi em 2023, não estávamos à espera do impacto, que resulta efetivamente da conjugação de duas greves na segunda-feira, isso não estávamos à espera", disse.
Quanto aos casos fatais, a governante lamentou "o que está a acontecer", mas ressalvou: "São situações que nós não podemos controlar; nós não sabemos se tivesse havido socorro, os casos podiam ter acontecido, portanto, são situações lamentáveis e por isso é que nós estamos a tomar as medidas que estamos."
"Não esperávamos um impacto tão severo"
Também o presidente do INEM, Sérgio Janeiro, admitiu, em entrevista à SIC Notícias, que não era esperado um "impacto tão severo", uma vez que, após a comunicação recebida a 10 de outubro, foram tomadas medidas "no sentido de alterar as escalas de modo a torná-las menos permeáveis à greve ao trabalho suplementar".
"Houve um atraso significativo no atendimento das chamadas, principalmente durante a manhã e início da tarde de segunda-feira. Imediatamente começámos a telefonar e a redirecionar todos os esforços para mobilizar os técnicos para o atendimento de chamadas de forma a mitigar a situação que se percebeu que estava a escalar, tendo-se conseguido ao fim do dia controlar o volume de chamadas em espera e o tempo de atendimento", disse.
Marcelo insiste em soluções rápida para o INEM. Montenegro diz que problemas não se resolvem com demissão da ministra
No dia de ontem, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, insistiu que é preciso soluções rápidas para os problemas no INEM, mas recusou comentar se a ministra da Saúde tem condições para se manter no cargo.
"Na vida das pessoas o que importa é isto: havendo situações que precisam de socorro, é preciso encontrar soluções que proporcionem resposta, que proporcionem esse socorro", defendeu Marcelo Rebelo de Sousa, no fim de uma visita ao Bazar Diplomático, no Centro de Congressos de Lisboa.
A comunicação social questionou várias vezes o chefe de Estado sobre o modo como a ministra da Saúde geriu os problemas no INEM e se deve continuar em funções. "Eu percebo as vossas perguntas, mas eu quero focar no que é essencial. E focar no essencial é: as pessoas que estão doentes, e que estão sobretudo numa situação de emergência, esperam respostas de emergência", argumentou o Presidente da República, insistindo que "o que interessa é encontrar respostas rápidas para os portugueses".
Antes, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, tinha defendido que os problemas "não se resolvem" demitindo Ana Paula Martins, referindo que isso se aplica a "todos os membros do Governo".
"A consequência política, quando há problemas, é resolvê-los; essa é a consequência política. A consequência política não é, para ser direto a responder à sua pergunta, mudar pessoas para o problema continuar; é o contrário, é resolver o problema para que nós possamos continuar cada vez mais a prestar bom serviço", salientou Luís Montenegro, em declarações aos jornalistas portugueses em Budapeste, no final de uma reunião informal do Conselho Europeu.
Além disso, Luís Montenegro havia dito que não tinha tido conhecimento, anteriormente à sua publicação, do pré-aviso greve às horas extraordinárias desde 30 de outubro - entretanto suspensa - dos técnicos de emergência pré-hospitalar, rejeitando também que se tenha perdido tempo para desmobilizar o protesto.
"Não se andou a perder tempo. [...] Não é uma questão de demorar tanto tempo [porque] nós estamos em diálogo permanente com todas as áreas e profissionais da administração pública, [mas] evidentemente que nós não podemos andar todos os dias atrás de pré-avisos à greve e a fazer reuniões de emergência", referiu o primeiro-ministro, frisando que "a situação não foi descurada".
Recorde-se que greve foi suspensa na quinta-feira, dia em que a ministra da Saúde convocou o sindicato representativo dos técnicos para uma reunião, a qual levou à assinatura de um protocolo negocial com a tutela.
Na segunda-feira, a greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar obrigou à paragem de 44 meios de socorro no país durante o turno da tarde, agravando-se os atrasos no atendimento da linha 112.
Recorde-se que o Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH) denunciou no sábado as primeiras duas mortes que terão acontecido.
Após esta denúncia, vários outros casos foram noticiados, tendo o Ministério Público aberto inquéritos a algumas destas situações, bem como a Inspeção Geral das Atividades de Saúde (IGAS).
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