A ex-autarca, que cumpriu três mandatos consecutivos como presidente da Câmara de Setúbal eleita pela CDU em 2009, 2013 e 2017, afirmou na cerimónia de inauguração da sua sede de campanha, na Praça do Bocage, que está a ser vítima de uma "perseguição política", alegadamente promovida pelo PS e "com o apoio inequívoco da CDU".
"A perseguição política está patente no texto de uma auditoria que foca em particular a minha pessoa. E que diz inclusive que se quer comparar o meu mandato com outro. Uma auditoria que quer judicializar a política e que tenta politizar a justiça com denúncias anónimas, feitas por cobardes que sabem que o que insinuam não corresponde à verdade", disse Maria das Dores Meira perante cerca de duas centenas de apoiantes.
A ex-presidente da Câmara de Setúbal referia-se a uma auditoria proposta pelos eleitos do PS, aprovada pela maioria CDU, PS e PSD, após uma notícia do jornal Público de 29 de agosto e uma investigação da estação televisiva SIC transmitida no dia 23 de outubro sobre a alegada utilização abusiva dos cartões de crédito do município e recebimento indevido de ajudas de custo no mandato de 2017/2021.
De acordo com a proposta do PS, há "suspeitas da prática reiterada dos crimes de peculato, falsificação de documentos e enriquecimento ilícito", mas a ex-presidente e candidata à Câmara de Setúbal revelou hoje que um grupo anónimo lhe fez chegar um conjunto de documentos que lhe permite desmontar as acusações de alegada utilização abusiva de cartões de crédito do município.
"Na peça da SIC é insinuado que fiz uma refeição de lagosta por 200 euros e aluguei uma limusine. É insinuado que tudo isso foi pago com dinheiro do município através dos cartões de crédito. Pois bem, tenho aqui um conjunto de documentos que provam que o que foi dito é mentira", disse Maria das Dores, assegurando que se tratou de um almoço de 203,04 dólares para cinco pessoas (29,95 dólares, ou 27 euros, cada uma) no restaurante Lobster Place, que, por acaso, tem lagosta (Lobster) no nome.
Quanto à alegada viagem de limusine, no valor de 96 dólares, que também foi paga com cartão de crédito do município, Maria das Dores Meira esclareceu que se tratou do transporte para o aeroporto - numa carrinha e não de limusine -, assegurado por uma empresa de táxis, que tinha o nome de Sammy's Limo.
No que respeita a alegadas irregularidades nos pagamentos efetuados numa viagem ao Japão em 2019, Maria das Dores Meira disse que a delegação da Câmara de Setúbal "não andou a fazer turismo, fez reuniões de trabalho incluídas no âmbito do trabalho do Clube das Mais Belas Baías do Mundo".
Assegurou ainda que, nas duas viagens, a Nova Iorque e ao Japão, a Câmara de Setúbal foi reembolsada de todas as despesas pelo Clube das Mais Belas Baías do Mundo.
Sobre os boletins itinerários de alegadas viagens que teria feito em 2020 a Moçambique e a Espanha em datas coincidentes, Maria das Dores Meira exibiu documentos comprovativos de que a viagem a Quelimane (Moçambique) foi cancelada depois de já ter sido feito o boletim itinerário, tendo nessa data participado numa outra atividade, em Espanha.
"Os documentos na Câmara não se evaporam, razão pela qual se podem encontrar dois boletins, mas uma das deslocações não se realizou", salientou a ex-presidente do município sadino, que agora se recandidata, como independente, à presidência da Câmara de Setúbal.
"Mais uma vez custou zero à Câmara Municipal de Setúbal. Não tenho o dom da ubiquidade, não consigo estar em dois lugares ao mesmo tempo, mas tenho o dom do trabalho honesto. E não admito que coloquem a minha idoneidade em causa", frisou Maria das Dores Meira.
Sobre as propostas da candidatura à Câmara de Setúbal nas eleições autárquicas de 2025, Maria das Dores Meira admitiu que já tem definidas algumas prioridades que passam por ter o espaço público limpo e cuidado, constituir um corpo de polícia municipal, preparar a candidatura a Setúbal Cidade Verde e a Capital Europeia da Cultura, lutar para que a travessia para Troia tenha preços acessíveis e resolver o problema do estacionamento tarifado na capital do distrito.
"O problema central [do estacionamento tarifado] está numa implementação que não corresponde ao que foi acordado. Faltam as bolsas de estacionamento gratuito, falta a construção faseada de dois parques de estacionamento subterrâneo e temos zonas com parquímetros que não deviam ser tarifadas", disse.
Maria das Dores Meira foi presidente da Câmara de Setúbal entre 2006 e 2021, primeiro em substituição de Carlos de Sousa (também eleito pela CDU), que renunciou ao mandato por ter perdido a confiança política do PCP, e depois como presidente eleita em 2009 (com 38,83% dos votos), tendo sido reeleita por duas vezes com maioria absoluta, em 2013 (41,93%) e 2017 (49,95%).
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