O Presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, afirmou que "Mário Soares não é uma figura histórica, não faz parte do passado", defendendo ainda que o antigo chefe de Estado acreditava que o parlamento era a "solução" e não o "problema".
Na sua intervenção na comemoração do centenário de Mário Soares na Assembleia da República, Aguiar-Branco acrescentou ainda que, há uns tempos, dizia que Mário Soares era fixe, mas corrigiu essa afirmação para o presente, dizendo "Mário Soares é fixe".
O Presidente da Assembleia da República destacou o papel de Soares na política portuguesa e além fronteiras, realçando que "procurou um lugar de destaque europeu".
Destacou ainda o sentido de humor e de estado do ex-Presidente da República e que "se deslocava de um lado para o outro em função do que acreditava ser melhor para o país. Abdicando, quando em causa um bem maior, de dogmatismos, tanto ideológicos como partidários. Sem inflexibilidades, sem intransigências"".
José Pedro Aguiar-Branco salientou também que Soares fez "tudo para garantir o equilíbrio que, um dia, desenhou para o seu Portugal amordaçado, mesmo antes da Revolução do Cravos [...] um Portugal europeu, um Portugal democrático, um Portugal pluralista", referindo ainda que, embora hoje os tempos sejam outros, "os desafios não são menores" e que "o que hoje discutimos, já Soares tinha antecipado".
"Como bom republicano que era, acreditava que esta sala [hemiciclo] onde estamos hoje não pode ser um problema", acrescentando que "esta sala era, é e tem de ser a solução".
Mário Soares, prosseguiu Aguiar-Branco, acreditava que "a polarização não se resolve com proclamações de virtude, mas com política, fazendo política no sentido nobre que a palavra tem, discordando com lealdade, negociando com abertura, construindo o futuro com rasgo e visão".
"Concordemos ou não, Mário Soares nunca deixou de assumir todas as suas decisões e as consequências das mesmas, mais ou menos populares, mais ou menos difíceis, com coragem e sentido de responsabilidade, mesmo que à custa de votos, apoios ou até amigos. Uma boa prática que foi caindo em desuso nos nossos tempos", considerou José Pedro Aguiar-Branco.
Em relação ao presente, o presidente da Assembleia da República advertiu que, sete anos depois da morte de Mário Soares e cem anos depois do seu nascimento, esse presente só aos atuais políticos diz respeito.
"É nossa responsabilidade preservar a capacidade de sentar todos na mesma sala para que se entendam nos seus desentendimentos, para que concordem discordando, para que sejam iguais nas suas diferenças. Preservar este seu legado não é uma questão de estima pessoal. É uma necessidade do próprio sistema político" desta nossa democracia, frisou.
No seu discurso, José Pedro Aguiar-Branco apontou que esta é a segunda vez em democracia que o parlamento homenageia um político numa sessão solene. A primeira foi com Francisco Sá Carneiro, em 1990, altura que Mário Soares era Presidente da República.
O presidente do parlamento referiu que Soares, na sua intervenção, explicou que Sá Carneiro marcou "pela sua personalidade inconfundível, frontalidade, patriotismo, coragem e inteireza de caráter uma época decisiva do percurso democrático, tão repleto de dificuldades vencidas".
"O Presidente Soares era, por aqueles dias, a chamada força de bloqueio aos governos de Cavaco Silva, mas achou mais importante homenagear Sá Carneiro do que marcar posição no xadrez político da ocasião. Em algumas sociedades, acredita-se que um Homem viverá o tempo em que for lembrado, viverá o tempo em que lhe forem exaltadas as virtudes. Só isso justifica as elegias, os elogios, as estátuas e as homenagens. Lembramos para não esquecer, lembramos para manter vivo um legado", salientou o presidente da Assembleia da República.
José Pedro Aguiar-Branco recordou o fundador do PS como "o homem" da admiração por Álvaro Cunhal e da amizade com o general Spínola, o protagonista do 25 de novembro de 1975 e o responsável do resgate do PCP, o decisor da amnistia às FP-25 de abril e da reabilitação dos homens da extrema-direita do MDLP, "o homem" da Constituição de 1976 e do apoio convicto a sucessivas revisões constitucionais.
No final da sua intervenção, José Pedro Aguiar-Branco revelou que, em 2025, haverá um busto de Mário Soares na Assembleia da República.
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