Censo nacional revela que a presença do lobo decresceu em 20 anos

A área de presença do lobo em Portugal reduziu 20% e o número de alcateias detetadas decresceu 8% para as 58 em duas décadas, encontrando-se principalmente a norte do rio Douro, revela o Censo Nacional 2019/2021.

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Lusa
16/12/2024 12:00 ‧ há 2 horas por Lusa

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Lobos

Os dados constam no relatório e portal do Censo Nacional do Lobo, coordenados pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e consultados hoje pela agência Lusa.

 

Entre censos, as alcateias estimadas passaram das 63 (2002/2003) para as atuais 58, sendo que se confirmou a presença de 56 e se considerou provável a presença de duas.

Embora seja difícil concretizar o efetivo em cada alcateia, o estudo estima que a "população de lobos em Portugal é de cerca de 300 animais", o que corresponde aproximadamente ao valor médio da estimativa de 190 a 390 lobos, um intervalo que representa a oscilação do número de animais ao longo do ano, nomeadamente entre o final do inverno, antes dos nascimentos, e o outono, no final da época de reprodução.

A maioria das alcateias encontra-se a norte do rio Douro, distribuídas por três núcleos populacionais (Peneda/Gerês, Alvão/Padrela e Bragança), existindo apenas cinco a seis alcateias no núcleo Sul Douro.

Os resultados apontam ainda para uma redução na ordem dos 20% da área de presença de lobo em Portugal nas duas últimas décadas, nomeadamente na região de Trás-os-Montes e a sul do Douro.

De acordo com o relatório, na Peneda/Gerês registou-se um aumento de alcateias, das 16 para as 24, tendo-se verificado uma diminuição nos restantes três núcleos, principalmente no Alvão/Padrela, onde o número de alcateias estimado sofreu uma redução superior a 50% (das 13 para as seis).

O relatório refere que a deteção de novas alcateias na Peneda/Gerês, poderá estar relacionada com "o maior esforço de amostragem aplicado" no trabalho ou "o aumento da disponibilidade alimentar associada ao aumento do número de bovinos em pastoreio livre, em algumas áreas".

Entre os principais fatores que estarão comprometer a conservação do lobo, encontram-se a "mortalidade por causas humanas" (atropelamento, laços, tiro, envenenamento), o ataque do predador ao efetivo pecuário (bovino, ovino ou caprino) que conduz a uma menor tolerância à sua presença, baixa disponibilidade de presas selvagens ou a instalação de infraestruturas de comunicação e produção de energia.

A presença do lobo sofreu uma redução acentuada em Portugal, entre os finais dos séculos XIX e início do XX, à semelhança do verificado no resto da Europa, possuindo, a nível nacional, o estatuto de ameaça "em perigo" desde 1990.

O primeiro censo nacional dirigido ao lobo decorreu em 2002/2003 e, cerca de 20 anos depois, quis-se atualizar o conhecimento sobre a espécie: a área de presença, alcateias existentes e locais de reprodução.

O objetivo é contribuir para "assegurar a necessária compatibilização das atividades humanas com a presença da espécie, contribuindo para que seja alcançado um estado de conservação favorável do lobo".

Coordenado pelo ICNF, o trabalho de campo foi executado por entidades como as universidades de Aveiro e Trás-os-Montes e Alto Douro, Grupo Lobo, Palombar, a A.RE.NA. Asesores en Recursos Naturales e a ARCA People and Nature, recorrendo a métodos como a prospeção de indícios (dejetos), armadilhagem fotográfica e acústica ou dados disponibilizados pelos 16 projetos de monitorização em curso durante o estudo.

Os resultados obtidos no atual censo revelam que não foram alcançados os objetivos estabelecidos há 20 anos para melhorar o estado de conservação do lobo em Portugal.

No relatório são defendidas medidas que promovam o aumento da área de presença do lobo a norte e sul do rio Douro: - manter e recuperar habitat adequado para refúgio e reprodução da espécie, proteger locais de reprodução, aumentar a presença das presas selvagens de lobo (corço) e reduzir o furtivismo e outras causas de mortalidade não natural, garantir a permeabilidade das infraestruturas existentes (estradas, barragens), reduzir o conflito associado à predação de lobo sobre efetivos pecuários através da melhoria e agilização do sistema de compensação por prejuízos e promover a cooperação com Espanha.

Leia Também: Caso de animais mortos em fogo vai a julgamento: "Decisão histórica!"

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