Em reunião pública, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), reiterou o apelo dirigido aos sindicatos de trabalhadores da higiene urbana para que a greve geral nos dias 26 e 27 de dezembro e ao trabalho extraordinário entre o dia de Natal e a véspera de Ano Novo possa ser desconvocada.
Ressalvando que respeita o direito à greve, Carlos Moedas disse que a paralisação "terá um grande impacto na cidade", um impacto que será de nove dias, e destacou a relação de negociação com os sindicatos durante os três anos de governação de PSD/CDS-PP.
Contudo, acrescentou, neste caso não houve oportunidade para qualquer tipo de negociação e "não negociar é inexplicável".
Criticando a liderança PSD/CDS-PP, a vereadora do PS Inês Drummond disse que Carlos Moedas foi "muito mais rápido" a convocar uma conferência de imprensa do que a agendar uma reunião com os sindicatos de trabalhadores da higiene urbana, lamentando a postura do social-democrata de que "a culpa é sempre de todos menos sua".
Dirigindo-se a Carlos Moedas, a socialista insistiu que o problema da recolha do lixo da cidade não é culpa dos sindicatos, nem da greve anunciada, nem dos trabalhadores, nem das juntas de freguesia, nem dos lisboetas.
"A culpa é sua, é da má gestão que tem feito no que diz respeito à limpeza urbana", acusou.
Inês Drummond criticou ainda a contratação externa de 16 trabalhadores para varrerem as ruas quando "o problema da cidade é mesmo a recolha do lixo", questionando onde estão os 400 trabalhadores contratados neste mandato e lembrando que foi por proposta do PS que no próximo ano a câmara pode contratar mais 300 funcionários para a higiene urbana.
Da vereação do PCP, João Ferreira referiu que o acordo celebrado em 2023 entre a câmara e o Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML) "não foi cumprido" e disse que o presidente do executivo municipal "não pode agora vir fingir em cima do Natal que quer resolver tudo de repente ou dizer-lhes que vai resolver o que não resolveu num ano".
O comunista falou ainda sobre a falta de obras nos postos de limpeza, que "estão num estado deplorável", e de espaços de refeições para os trabalhadores, lamentando o desinvestimento nesta área.
Questionando quantos funcionários saíram além dos 400 contratados, João Ferreira respondeu logo de seguida que "hoje existem menos 170" do que quando a gestão PSD/CDS-PP iniciou funções, em outubro de 2021, segundo números dos sindicatos.
João Ferreira criticou também a "incapacidade de gerir" por parte de PSD/CDS-PP e revelou que uma das preocupações dos trabalhadores da higiene urbana é a "externalização de serviços", desconhecendo-se o caderno de encargos.
"Se diz que não há nada a temer, deixe-nos escrutinar para termos a certeza de que realmente não há nada a temer", pediu.
Da parte do Livre, Patrícia Gonçalves considerou que o problema na área da higiene urbana "é da responsabilidade inteira" de Carlos Moedas, avisando que esta greve reflete a "situação limite a que se chegou", inclusive pelo incumprimento do acordo celebrado em 2023.
De qualquer forma, acrescentou, a greve deve ser evitada "a todo o custo" e "é imprescindível para Lisboa assumir um compromisso credível e cabal com estes serviços e com estes trabalhadores".
Beatriz Gomes Dias, do BE, referiu que a informação dos sindicatos contradiz a indicação do executivo camarário de falta de disponibilidade para negociar, com a queixa de que foi a câmara que falhou com o que foi acordado com os trabalhadores.
Ainda da parte da liderança PSD/CDS-PP, o vice-presidente da câmara, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), manifestou esperança de que haja abertura para negociação, elencando as intervenções realizadas pelo executivo, como as obras de melhoramento em várias instalações dos trabalhadores.
"De uma forma geral, cabal, o acordo tem vindo a ser executado, cumprido", assegurou Anacoreta Correia, sublinhando a importância do diálogo social que permite "sempre melhorar" as condições dos trabalhadores.
Contudo, admitiu, "nunca vai haver um momento em que se possa dizer que tudo está bem, tudo está ótimo e não carece de melhorias".
O executivo da Câmara de Lisboa, que é composto por 17 membros, integra sete eleitos da coligação "Novos Tempos" (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança) - que são os únicos com pelouros atribuídos e que governam sem maioria absoluta -, três do PS, três do Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre), dois do PCP, um do Livre e um do BE.
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