"A única memória que tenho é de ir [com o carro] na direção dela [ex-namorada] e, a partir daí, não me lembro de mais nada", afirmou o arguido, de 43 anos, perante o coletivo de juízes do Tribunal de Matosinhos, no distrito do Porto.
Durante o seu depoimento, o alegado homicida, que à data do crime estava em liberdade condicional depois de ter sido condenado por ter matado uma ex-namorada com uma faca, contou que conheceu a vítima mortal em 2022, através de uma aplicação de encontros, e que começaram a namorar nesse ano, tendo a relação, que durou até 2024, sido sempre atribulada.
No final de março de 2024, a vítima mortal, de 37 anos, bloqueou-o nas redes sociais e mandou-lhe mensagem a dizer que não queria mais contactos, frisou.
Depois, continuou, percebeu que tinha um novo namorado com quem já vivia.
O arguido contou que, no dia do crime, a 06 de junho, foi de carro até casa dela e, quando a viu sair, buzinou-lhe para a chamar e conversar com ela, mas ela seguiu em passo acelerado.
"Desnorteado decidi ir atrás dela de carro e senti uma grande raiva por ela me estar a ignorar", esclareceu.
Depois, acrescentou, direcionou o carro na direção da ex-namorada e a partir daí não se lembra de mais nada, alegando ter tido "uma branca".
"Foi tudo muito rápido", atirou.
Questionado pelo coletivo de juízes se a queria matar, o arguido respondeu dizendo que lhe queria fazer mal e que, depois, pretendia suicidar-se.
A acusação sublinhou que a 06 de junho, o arguido, que está em prisão preventiva, deslocou-se no seu carro até ao local de trabalho da ex-companheira, em Matosinhos, esperou que saísse e começasse a caminhar pelo passeio.
A mulher estava a caminhar quando este "acelerou fortemente", subiu o passeio e embateu com o carro contra ela, projetando-a para a estrada, acrescentou.
"De seguida, por sete vezes (em manobras de avanços e recuos) o arguido passou com os rodados do veículo por cima do corpo da vítima, com especial incidência na zona da cabeça, provocando-lhe a morte", descreveu a acusação.
Contudo, acrescentou o Ministério Público, ao ser surpreendido por um popular que acorreu em socorro da mulher, o arguido decidiu prosseguir a marcha, invadir a faixa de circulação contrária e ir contra aquele, só não o atingindo porque conseguiu saltar para o meio de dois carros estacionados.
Admitindo não saber como fez as manobras descritas na acusação, o arguido vincou que o "único `flash´" que tem na memória é de ver um homem a fazer-lhe sinais.
Tendo a defesa pedido a realização de uma perícia psiquiátrica no Instituto de Medicina Legal (IML), o alegado homicida terminou o depoimento dizendo que estava muito arrependido do que fez tendo, por causa disso, de tomar vários ansiolíticos.
"Sinto uma dor muito forte pelo sofrimento que causei", concluiu.
Os pais da vítima mortal pedem uma indemnização de 400 mil euros.
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