No segundo dia do julgamento da luso-francesa, de 54 anos, acusada de torturar a filha, de 13 anos, e deixá-la morrer à fome, dois dos seus oito filhos testemunharam contra ela, no Tribunal de Justiça de Héraut, em Montpellier, França, chocando e comovendo todos os que assistiam à sessão de terça-feira, 21 de janeiro.
"A minha infância foi um inferno na terra todos os dias […] Acordávamos às 5h para limpar a casa, éramos esbofeteados, agredidos e sacudidos. Às vezes até perdíamos o autocarro para a escola. A violência não tinha fim, só sabíamos quando começava. A nossa única salvação era fazer 18 anos e partir", relatou Cassandra em tribunal, segundo a publicação francesa Midi Libre, contando que houve até um dia em que a mãe partiu-lhe "a cabeça com um cabo de vassoura".
Os serviços sociais foram alertados, várias vezes, sobre o que se passava, mas Sandrine obrigava os filhos a mentirem. "A minha mãe obrigava-nos a mentir. Gozava com o facto de irmos parar a uma família adotiva e sermos não só espancados como violados. Fazia-nos escolher, basicamente, entre a peste e a cólera", lembrou a jovem, de 28 anos.
Após a morte de Amandine, Cassandra garante que não só nunca viu a mãe "triste" como a apanhou "a tentar estrangular Amber", a irmã mais nova. "A minha mãe precisa bater e deixar alguém roxo para se livrar da sua raiva", disse ainda.
Segundo ela, dois dias após a morte de Amandine, a mãe foi ao cabeleireiro, tal como tinha reservado, como se nada tivesse acontecido.
Quem também testemunhou foi Jérémy. Tal como a irmã, o jovem, de 29 anos, descreveu a casa dos horrores onde vivia. A certa altura, "por ter deixado cair um vaso de cerâmica", a mãe quase o estrangulou. Depois, à refeição, colocou-lhe um único feijão no prato, humilhando-o.
As ameaças de morte eram uma constante. A certa altura, Jérémy e Cassandra tiveram mesmo que ficar ajoelhados durante horas sobre uma régua de madeira, segurando um dicionário com os braços estendidos acima de suas cabeças.
Revoltado com estas memórias tão repugnantes, o jovem dirigiu-se à mãe mãe: "Reconhece que és uma criminosa! Assume a responsabilidade!", atirou, lembrando que Amandine tornou-se no bode expiatório da mãe, desde a mais tenra idade.
Depois destas declarações - e de ouvir um áudio gravado por vizinhos, em 2019, onde se ouve a menina a chorar - Sandrine admitiu ter "torturado" a filha.
Se for condenada, a mulher arrisca passar o resto da vida na prisão.
Recorde-se que, segundo o Le Figaro, Amandine, de 13 anos, morreu após uma "provação sem fim". Media 1.55 metros e pesava apenas 28 quilos. Estava desfigurada, tinha vários hematomas, tinha falta de dentes e pouco cabelo. Os seus restos mortais, "extremamente magros", estavam cobertos de "intoleráveis" lesões e escaras.
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