A 'sorte de varas' pode regressar ao parlamento açoriano, depois de ter sido chumbada pelo Tribunal Constitucional, em 2002, e rejeitada, em 2009, admitiu o secretário regional da Agricultura e Alimentação, no dia 24 de janeiro, no Fórum Mundial da Cultura Taurina, que se realizou em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira.
Tudo aconteceu depois de o membro da comissão organizadora do fórum, José Parreira, ter realçado que "o tema jamais ficou esquecido", porque considera que "a tauromaquia ficou mais pobre" com o fim da prática.
"Na altura devida voltaremos a incomodar os nossos representantes com aquilo que para nós é uma prática essencial. É pela reposição da sorte de varas que recomeçaremos a ganhar o futuro", atirou.
Em resposta a isso, António Ventura desafiou a Tertúlia Tauromáquica Terceirense a voltar a sondar a possibilidade de a sorte de varas a ser discutida no Parlamento, segundo a Lusa, alegando que a arquitetura atual, com oito partidos e sem uma maioria absoluta, "pode ser uma vantagem".
"Não vai ser uma tarefa fácil. Teremos de fechar os ouvidos e os olhos a muitos ataques, mas nos Açores mandam os açorianos e mandam através do seu parlamento regional, primeiro órgão da nossa soberania", afirmou, acrescentando que "gostar dos touros e viver a festa com os touros é ser açoriano".
Palavras estas que provocaram indignação entre muitos açorianos. A Associação Vegana Açores lançou uma petição pública, apelando para que esta matéria "não tenha parecer positivo" dos partidos que compõem a Assembleia Legislativa Regional dos Açores e que não volte a legalizar "um ato bárbaro deste tipo".
Em poucos dias a petição já recolheu mais de 800 assinaturas.
Segundo esta associação, a sorte de varas consiste em "picar o touro de forma bastante violenta, causando graves lacerações e danos musculares e neurológicos” e “colocando em causa a sua vida".
"Isto é uma forma de crueldade e tortura que não se coaduna com as declarações do senhor Secretário Regional da Agricultura e Alimentação dos Açores, António Ventura, que afirma que a tourada é a melhor escola de cidadania que conhece", vincaram.
Para Jessica Pacheco, presidente da VegAçores e primeira peticionária, "voltar a legalizar este tipo de violência é um enorme retrocesso civilizacional, ainda mais quando se tenta passar uma imagem dos Açores como destino de natureza e bem-estar animal".
O BE/Açores e o PAN/Açores também já se manifestaram contra o regresso desta 'arte' tauromáquica.
Declarações polémicas. "Na tourada há dignidade"
"Na tourada há dignidade, há responsabilidade, aprende-se a trabalhar em grupo, aprende-se a cumprir as regras, há disciplina. Eu não encontro uma escola de cidadania melhor do que a tourada", afirmou António Ventura, acrescentando que "é uma falácia dizer-se que não há bem-estar animal na tourada".
"Não conheço nenhum animal que seja tão protegido como o touro, em legislação, em regras. O touro é um elemento central de qualquer tourada e o que mais existe é legislação a proteger esse animal", apontou.
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