Esta aventura, que já abrangeu cerca de 600 alunos de várias escolas da região do Vale do Côa, começa na pré-histórica e tenta demonstrar, ao longos de várias fases de aprendizagem, a evolução das comunidades de caçadores e recoletores do Paleolítico Superior, que ocuparam o território há 25.000 anos, até aos cientistas do século XXI.
Em declarações à agência Lusa, a coordenadora da Escola de Ciência Viva do Museu do Côa, em Vila Nova de Foz Côa, explicou que, ao longo de uma semana, são dinamizadas oficinas, visitas, 'workshops' e atividades laboratoriais, nas quais as crianças exploram as diversas atividades da época, como caça, produção de fogo, fabrico de utensílios domésticos, técnicas de gravação na rocha, entre outros, até que por fim, desempenham o papel do arqueólogo entre outros cientistas.
"As crianças durante cinco dias vão pertencer a tribos de um mesmo acampamento e vão realizando atividades, até regressarem à atualidade, num percurso de milhares de anos, começando como caçadores e recoletores do Paleolítico Superior e terminando esta ventura como cientistas do século XXI, que os levam numa viagem no tempo", indicou Vera Lúcia Carvalho.
Nesta viagem no tempo, o Vasco, um aluno do 1.º ciclo do Agrupamento Tenente-Coronel Adão Carrapatoso em Vila Nova de Foz Côa, não escondia a ansiedade em aprender a construir lanças, uma arma rudimentar de madeira e sílex, mas uma grande descoberta para as comunidades de caçadores do Paleolítico Superior.
"Gostava aprender a fazer lanças, tal como os homens primitivos, que serviam para caçar a trazer alimentos para as tribos e para a família. (...) A vida dos homens pré-históricos era muito difícil, porque tinham de fazer fogo com pedra ou confecionar as suas vestimentas para se agasalhar do frio", contou o aluno de 8 anos.
Já Maria Dias, uma aluna da mesma escola e da mesma idade, considerou esta viagem no tempo realizada no Museu do Côa muito gratificante, após tudo aquilo que viu e viveu e que pôde observar e experimentar.
"Estou a gostar muito e o que me chamou a atenção foi esta viagem no tempo, em que nos contam histórias com representações de há 25.000 anos", disse esta aluno do 3.º ano que não escondia a emoção da jornada.
Outros dos aspetos que chamaram a atenção de Maria foram a cenas do quotidiano das comunidades do Paleolítico que estão representados nas gravuras inseridas nas rochas do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC), e que foram reveladas numa aula de arqueologia experimental.
"Gostava muito de aprender estas técnicas de picotagem para fazer gravuras da pré-história", disse.
"Nunca tinha feito, mas gostava muito de aprender. Elas representam imagens que parecem entrar em movimento, dando a ideia de que mexem a cabeça para um lado, para proteger alguém. Parece-me uma história aos quadrinhos de há 25.000 anos", observou a futura cientista.
Numa outra sala, estava já um outro grupo de crianças que começava a sua descoberta na área científica, através de pequenas experiências de grande significado relativamente ao comportamento da matéria.
Nesta fase do percurso didático, são utilizados materiais simples que permitem às crianças ver o comportamento da matéria perante simples reações químicas. Para este caso foi escolhido um ovo.
A Joana, uma aluna também de 8 anos, mostrava-se atenta ao comportamento do ovo que se transformou numa "bola saltitona", depois de a sua casca amolecer e ficar mais transparente e maleável. Outros das experiências, foi tornar o ovo em espuma, com a adição de uma formula química simples.
"São coisas simples que podem mudar o mundo. Ao acompanhar esta reação química, notei coisas muitos fixes no comportamento da matéria e esta experiência ensinou-me muito, porque vi como os elementos se podem transformar em coisas distintas", disse a pequena aluna.
Um dos objetivos desta aula, explicou a arqueóloga Marta Mendes, da Fundação Côa Parque, é dar aos alunos a oportunidade de conhecerem as matérias-primas e os materiais que eram utilizados nas armas de caça.
O projeto teve o seu início em 2022, numa primeira fase abrangia só o território do Vale do Côa, tendo expandido para os concelhos vizinhos de Mêda, Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel, Trancoso, no distrito da Guarda, e Penedono e Sernancelhe, no distrito de Viseu. Também o concelho de Torre de Moncorvo, no distrito de Bragança, faz parte deste grupo de escolas.
A integração do Museu do Côa nos centros de Ciência Viva veio, segundo a presidente da Fundação Côa Parque, Aida Carvalho, trazer uma nova área à instituição, no campo da comunicação da ciência.
"Trata-se de uma forma de desconstruir a ciência junto dos mais novos e comunicar de forma simples aquilo que acontece no domínio científico - [para] que as crianças possam ambicionar a serem investigadores - e, ao mesmo tempo, demonstrar que todos os territórios são de oportunidades e que no Vale do Côa, também se pratica e comunica ciência. É todo um ecossistema que se alimenta em torno do Musse do Côa", vincou esta responsável.
Este projeto da Escola de Ciência Viva é financiado por fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
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