Os mais de 463 crimes identificados no processo Tutti Frutti envolvem casos de corrupção e negociatas em diversas freguesias de Lisboa que, na última semana, levaram à suspensão e renúncia de mandatos por diversos deputados, da Esquerda à Direita.
Confrontado com os vários arguidos do PSD envolvidos no processo, o líder parlamentar do partido, Hugo Soares, admitiu na quarta-feira que a acusação é "muita fruta" e envolve "muita confusão", pedindo aos social-democratas envolvidos que suspendessem o "exercício das suas funções". Não foi preciso esperar muito para se verem as primeiras renúncias.
O primeiro foi, ainda na terça-feira, o deputado do PSD Luís Newton, que pediu a suspensão do mandato como parlamentar, apesar de dizer ainda desconhecer a acusação do processo Tutti Frutti.
Seguiu-se, no mesmo dia, o vereador Ângelo Pereira, num anúncio feito pelo presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, explicando que o social-democrata pediu a "suspensão de funções" e que o autarca aceitou "de imediato".
Na quarta-feira era a vez da primeira - e única, até agora - 'vítima' do lado do PS, a vereadora na Câmara de Lisboa Inês Drummond que, apesar da acusação do Ministério Público (MP), afirmou estar "muito tranquila" e "convicta da lisura" que garante sempre ter aplicado na "defesa do interesse público".
Antes da semana terminar, na sexta-feira, houve ainda tempo para mais duas suspensões. Seguindo as expectativas de Hugo Soares, o deputado do PSD Carlos Eduardo Reis anunciou que iria suspender o mandato no final do mês, mas não sem antes deixar algumas críticas à liderança do grupo parlamentar a que pertence, sublinhando ter percebido que lhe foi retirada a "confiança política".
"Não vou passar a deputado não inscrito. Não vou continuar na bancada contra a vontade da direção do meu grupo parlamentar. A minha opinião é que deveria continuar, mas, no final deste mês, cumprindo as obrigações que tenho até lá, suspenderei as minhas funções no grupo parlamentar", afirmou Carlos Eduardo Reis em entrevista à SIC Notícias.
Poucas horas depois, o presidente da Junta de Freguesia do Areeiro, Fernando Braamcamp, eleito pelo PSD, também suspendeu o mandato e justificou a decisão com "motivos de saúde". No entanto, a CNN Portugal avançou que a demissão estará relacionada com o processo Tutti Frutti - onde o presidente da junta de Freguesia surge como acusado de 39 crimes de corrupção passiva.
Entre os restantes arguidos estão várias outras pessoas ligadas ao PS e PSD, como é o caso do ex-deputado 'laranja' Sérgio Azevedo, do ex-deputado municipal social-democrata Rodrigo Gonçalves da Silva, do presidente da Junta de Freguesia de Santo António, Vasco Morgado (PSD), do presidente da Junta de Freguesia do Areeiro (PSD), de Ana Sofia Soares da Silva Figueiredo, do ex-presidente da Junta de Freguesia da Penha de França (PS), de Rui Paulo Figueiredo, do deputado municipal da AML (PS) e da Assembleia da República, entre outros.
Recorde-se que a operação Tutti-Frutti investigou desde 2018 alegados favorecimentos a militantes do PS e do PSD, através de avenças e contratos públicos, estando em causa suspeitas de corrupção passiva, tráfico de influência, participação económica em negócio e financiamento proibido.
A investigação arrastou-se durante uma década, alegadamente por falta de meios, mas também porque se tratava de um processo de grande complexidade.
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