Pedro Vilas, um dos fundadores da Fundação Portugália, uma organização que representa a comunidade residente na Polónia, disse à agência Lusa que esta "nova diáspora" se destaca de todas as outras porque, "primeiro integra-se na comunidade polaca, e só depois procura os outros portugueses" que lá vivem.
"Somos a primeira geração de emigrantes portugueses na Polónia", disse, afirmando que muitos conheceram este país quando frequentaram o programa Erasmus e, mais tarde, elegeram o país para trabalhar.
"A maior parte chegou com cursos superiores e já com contratos arranjados em Portugal", disse, indicando que as áreas das finanças, energias renováveis, informática, banca, inovação e tecnologia são algumas em que os portugueses se destacam na Polónia.
Hugo Rufino Marques, presidente desta fundação, que também dá voz à comunidade portuguesa nos países bálticos, disse à Lusa que tem crescido o número de empresários portugueses que chegam à Polónia para trabalhar em multinacionais, mas que depois optam por abrir o seu próprio negócio.
Esta diáspora jovem, essencialmente masculina, tem formado família com a comunidade polaca, numa integração "muito boa", que se expressa no crescente número de crianças luso-polacas entretanto nascidas.
"Estamos a fazer, na Polónia, o que os portugueses fizeram há 40 ou 50 anos na Europa e no Brasil", disse.
Segundo Pedro Vilas, pelo menos um terço dos portugueses que emigram para a Polónia chegam a chefes de serviço ou de empresas ao fim de poucos anos.
A boa integração e o sucesso desta diáspora não livram de algumas dificuldades os emigrantes portugueses, sendo a sua resolução um dos propósitos da Fundação Portugália.
"A Polónia não nos reconhece os documentos europeus e exige o passaporte, mesmo para abrir uma conta bancária. Já tivemos portugueses que viram os seus créditos bancários recusados por não ter cartão do cidadão polaco", disse Hugo Rufino Marques.
Esta diáspora também reclama uma maior representação diplomática portuguesa na Polónia e mais apoios na preservação do português.
Na Polónia existe apenas uma escola secundária que oferece aos seus alunos a aprendizagem da língua portuguesa, o Liceu Ruy Barbosa, em Varsóvia, mas Hugo Rufino Marques disse que já foi feito um pedido para a abertura de uma escola portuguesa em Cracóvia.
"Há o perigo de as novas gerações de luso-descendentes terem como única ligação a Portugal as férias", alertou, defendendo por isso um aumento da aprendizagem do português e da cultura portuguesa.
E defendeu mesmo uma redistribuição dos apoios de Portugal para os assuntos consulares e o associativismo "neste lado da Europa", identificando uma escassez de membros do corpo diplomático na região.
A fundação também tem promovido o apoio psicológico à comunidade, nomeadamente durante o inverno, quando anoitece muito cedo e aumentam os sentimentos mais negativos e as depressões.
Trata-se do Apoio Psicológico Internacional (API), que disponibiliza consultas de psicólogos portugueses, o que ultrapassa as dificuldades da língua, mas também das caraterísticas culturais portuguesas, que nem sempre são entendidas por profissionais polacos.
A Fundação Portugália já deu a conhecer aos grupos parlamentares portugueses os objetivos da organização e, num último encontro na Comissão dos Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, os seus dirigentes alertaram para a necessidade do voto eletrónico nos atos eleitorais em Portugal.
"Os portugueses nos Bálticos (Letónia e Lituânia) não têm acesso às eleições presidenciais e europeias, porque não há voto postal, disse Hugo Rufino Marques.
E acrescentou: "Mesmo na Polónia, para atos eleitorais das presidenciais e europeias, os portugueses têm de ir a Varsóvia e fazer 400 quilómetros. Muitos portugueses acabam por desistir".
Leia Também: Polónia confiante na instalação da base dos EUA 'Forte Trump' no país