ModaLisboa acusa Portugal Fashion de "pressionar" criadores
A diretora da ModaLisboa acusou hoje o Portugal Fashion de "pressionar" criadores a deixarem de apresentar coleções na capital, mas a organização da iniciativa sediada no Porto garantiu que "não pede exclusividade" aos designers de moda.
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A organização da ModaLisboa divulgou hoje o calendário de desfiles da próxima edição, que decorre de 06 a 09 de outubro e onde serão apresentadas coleções para a primavera/verão do próximo ano, do qual ficaram de fora cinco nomes habituais: Alexandra Moura, Miguel Vieira, Pedro Pedro, Carlos Gil e Nair Xavier.
De acordo com a diretora da ModaLisboa, Eduarda Abbondanza, em declarações à Lusa, Nair Xavier está numa fase de "reestruturação da marca", mas os outros quatro não irão apresentar coleções por "pressão do Portugal Fashion".
Carlos Gil, em resposta à Lusa, confirmou que "dadas as exigências e compromissos atualmente assumidos pela marca" não irá apresentar coleção na ModaLisboa, mas acredita tratar-se "apenas de uma curta interrupção" e que "retomará em breve a parceria de sucesso". Miguel Vieira remeteu declarações para mais tarde e não foi possível contactar Alexandra Moura e Pedro Pedro.
Contactado pela Lusa, o presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), João Rafael Koehler, que organiza o Portugal Fashion, confirmou a presença dos quatro criadores na próxima edição da iniciativa e afirmou ter "a certeza de que os que estão no calendário da ModaLisboa estão lá porque não têm espaço no Portugal Fashion".
"Temos o calendário mais ou menos esgotado e temos muitos designers que querem estar no nosso evento, mas não temos espaço", afirmou.
Para João Rafel Koehler, "não faz sentido apresentar uma coleção no estrangeiro, no Portugal Fashion e na ModaLisboa".
"Mas não pedimos exclusividade", garantiu.
Eduarda Abbondanza contou que enviou uma carta ao presidente do Portugal Fashion em que alertava para uma situação que lhe parecia "descabida em ética de trabalho".
A responsável referiu ter-se apercebido da "pressão [aos quatro criadores] no sentido de não poderem fazer a passerelle de Lisboa" nas habituais reuniões que tem com cada um, para fazer balanço das edições anteriores e planear a seguinte.
Eduarda Abbondanza salientou que a "plataforma do Porto tem mais financiamento, nomeadamente de fundos comunitários: o financiamento da ModaLisboa é na ordem dos 40% do orçamento total e no Portugal Fashion de 85%".
"É a entidade com maior financiamento em Portugal. Não serve para canibalizar outras organizações, serve para ajudar a moda em Portugal", defendeu.
A diretora da ModaLisboa defende que "deveria haver colaboração, como contribuição para o país", até porque a plataforma de Lisboa "continua a fazer o trabalho de base necessário".
João Rafael Koheler "não percebe como seria possível" as duas organizações trabalharem em conjunto.
"A ModaLisboa não é uma associação sem fins lucrativos. A ModaLisboa é um evento com fins lucrativos, nós não", disse. Contudo, segundo os estatutos daquela entidade, a ModaLisboa "é uma organização sem fins lucrativos que tem como missão a promoção e desenvolvimento da indústria de moda em Portugal, bem como do capital criativo nacional".
Alexandra Moura, Carlos Gil, Miguel Vieira e Pedro Pedro, com o apoio do Portugal Fashion, têm marcado presença em semanas da moda e feiras internacionais. Por isso, Eduarda Abbondanza compreende que "pelo investimento que tinham feito não tinham como não continuar a cumprir com esse acordo com o Portugal Fashion".
A diretora disse ainda que "mais criadores foram contactados para não fazerem ModaLisboa", mas "puderam dar-se ao luxo de dizer que não, porque ainda não iniciaram processo internacional".
"O Portugal Fashion precisa de criadores e na plataforma de Lisboa há criadores. Se vêm buscar os nossos ativos, deveria haver colaboração. É um contorno perverso que não entendemos", afirmou.
Eduarda Abbondanza considera a ModaLisboa "o ativo maior na criação de marca", com "capacidade de acelerar projeção da marca".
Para João Rafael Koehler, "em Portugal há demasiados desfiles de moda" e, por isso, "foi havendo uma seleção natural por parte dos designers".
Eduarda Abbondanza assumiu algum receio em relação ao futuro: "Temos mais marcas a serem preparadas. E no futuro como vai ser?".
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