“Tanto disparate não merece comentário”. É assim que reage o padre Mário Pais Oliveira às orientações contidas no documento que D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, publicou anteontem e que hoje foram reveladas pelo jornal Público, onde defende que os casais recasados vivam “uma vida em continência na nova relação”.
Ainda que reitere que “aquele texto nem merece ser comentado”, Mário Pais Oliveira, padre e autor de várias obras, não esconde os seus pensamentos sobre “esta igreja”.
“A igreja não deixa nada. Não tem nada que deixar. As pessoas são livres e autónomas e decidem a sua vida. Nós é que fomos educados e formatados para pensar que precisamos de autorização de alguém”, começa por dizer o padre ao Notícias Ao Minuto.
“O que eu digo há muito tempo, desde que escrevi o livro ‘Que fazer com esta igreja’, é que a deitemos fora. Esta igreja. Este modelo deitemo-lo fora, não a igreja em geral. É um modelo que vem desde Constantino no século IV, a chamada cristandade. O Concílio Vaticano II quis mudar tudo e mudou a nível dos documentos aprovados. Embora não fosse por unanimidade, mas sim apenas pela esmagadora maioria. Mas o que é certo é que os Papas que vieram a seguir deram cabo dele”, explica Mário Pais Oliveira.
Padre Mário Pais Oliveira© DR
O padre e escritor não se coíbe de ‘arrasar’ as ideologias de D. Manuel Clemente e questiona a “moral” de um “clérigo” para opinar sobre o casamento seja de quem for.
“O disparate que o Cardeal escreve sobre os casais é tão grande que os casais andam muito mal se neste início de terceiro milénio ainda estão à espera de uma palavra de alguém que não pode casar por uma lei que impede que case. Que autoridade moral tem um clérigo que está proibido de casar para dar orientações a casais? Primeiro case-se e divorcie-se e, depois, quando tiver outra união, experimente na carne o que isso é”, atira, deixando no ar uma questão: “Diz-se aos casais: podem recasar mas abstenham-se, sejam celibatários. Então para que é que se casam?”.
Sem papas na língua, o padre encoraja os recasados a não seguirem as orientações do Cardeal Patriarca de Lisboa. “Deitem fora essa porcaria. Cada um rege-se pela sua consciência não tem de andar a pedir autorização a ninguém. Na igreja não há ninguém, nem Deus está acima de nós. Deus está ao nosso serviço, não está a mandar em nós. A responsabilidade dos nossos atos é exclusivamente nossa. É o princípio de Jesus, não há nada mais sagrado na terra do que o ser humano. Não são as leis, não são os códigos, não são os cânones, nem os mandamentos, são os seres humanos. Cada adulto deve decidir de acordo com a sua consciência”, afirma.
Em jeito de conclusão, Mário Pais Oliveira, que embora siga a palavra de Jesus, não se revê neste modelo caduco - palavras suas - de Igreja reafirma a liberdade dos casais e enfraquece a posição católica. “Um casal nunca tem de ir perguntar a um padre, que por lei nem sequer pode casar, o que é que há-de fazer. Faz conforme sua consciência e está feito. O contrário é que é pecado”.