"No futuro ninguém quer ser professor: Mal visto, mal pago, maltratado”

Joaquim Jorge defende a classe docente, questionando, inclusive, o que sentiriam os portugueses "se perdessem mais de nove anos de serviço e que não tivesse efeitos para progredirem na sua vida profissional”.

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© Joaquim Jorge

Filipa Matias Pereira
17/09/2018 11:00 ‧ 17/09/2018 por Filipa Matias Pereira

Política

Joaquim Jorge

De acordo com uma informação recente da OCDE, os professores das escolas portuguesas, assim como os diretores ganham, em média, mais do que outros trabalhadores com formação superior, uma tendência que contraria a maioria dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.

Ora, no entendimento de Joaquim Jorge, este relatório “prestou um mau serviço à educação portuguesa”. Em causa está, como alega, “os portugueses que, por sistema, são invejosos e só pensam na sua vida e no seu emprego. Têm muita dificuldade em colocar-se no lugar dos outros”. E têm “hábito gratuito: dizer mal dos outros”. O comentador atira ainda: “Gostava de saber o que pensam muitos portugueses se perdessem mais de nove anos de serviço e que não tivesse efeitos para progredirem na sua vida profissional”.

Na ótica do fundador do Clube dos Pensadores, “o Governo e os portugueses têm, de uma vez por todas, de dizer se querem uma escola pública de qualidade. Se querem, têm que ter professores bem pagos e satisfeitos com a sua profissão. Se não querem, no futuro não terão professores portugueses, eles virão dos países lusófonos. No futuro ninguém quer ser professor: mal visto, mal pago, maltratado”, defende num texto enviado à redação do Notícias ao Minuto. 

O biólogo advoga que “não podemos continuar a dividir os portugueses que trabalham no privado e no público. Há muitas pessoas que trabalham no privado e que afirmam, de uma forma espúria, que são elas que pagam os salários dos professores! Pura ignorância, os professores pagam tantos ou mais impostos que um privado”.

Os dados da OCDE, continua, “ são erróneos e não entendo onde os foram buscar”. Aliás, “era bom um professor no topo de carreira com mais de 40 anos de serviço ganhar 56.401 euros brutos. Pelas minhas contas aufere brutos 47.096 euros, uma diferença de quase 10.000 euros”. Já um professor no início de carreira “aufere 21.420 euros brutos anuais, e não, 28.349 euros”.

Este relatório “saiu na hora exata para, mais uma vez denegrir, e manipular a opinião pública contra os professores. Veio na altura certa e colocá-lo a favor do Governo, neste braço-de-ferro. Até parece que foi encomendado pelo Governo!”, atira.

Joaquim Jorge gostava que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico “tornasse público um relatório sobre os salários dos políticos portugueses e as respetivas benesses: carros, cartões de crédito, viagens, etc., em comparação com os políticos de outros países.

O comentador gostava ainda que a “OCDE tornasse público um relatório sobre os salários dos bancários e as suas benesses, comparando com os bancários de outros países.” E ainda “dos médicos”.

O que explica em grande medida, acrescenta, “enquanto atitude mental o nosso atraso secular, é a inveja, o ressentimento e o queixume como factores que obstruem o progresso. Eu acrescento outro: comparar o incomparável”.

Aliás, termina Joaquim Jorge, “a idiossincrasia da profissão docente não se compagina em comparações, lida com seres humanos diversos, é peculiar, e não é algo que tenha que dar lucro e se resuma a despesa. Uma sociedade que não investe na educação dos seus filhos não tem futuro”.

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