Francisco Louçã considera que na polémica relacionada com as ligações familiares no Governo “há um empolamento eleitoral”, motivado pelo facto de a medida dos passes sociais entrar em vigor na próxima segunda-feira, dia 1.
Para o bloquista, este é um assunto, mas não “um assunto essencial para a definição dos contornos políticos”. “Creio que há um empolamento eleitoral, como é inevitável”, afirmou Louçã no seu espaço habitual de comentário na SIC Notícias.
E a primeira razão, explicou, prende-se com os passes sociais, uma medida que “vai ter um efeito importante para o país (…) que tem significado para a vida das pessoas”.
“E foi criado um discurso que se baseia num problema real [das ligações familiares no Governo], muito instigado por uma fabricação de opinião da Direita, que é muito instrumental, e que apareceu como uma possibilidade de criar uma mancha que contrariasse as vantagens que o PS tem”, analisa.
Do ponto de vista de Louçã, numa primeira fase, o PS “reagiu muito mal”. “A reação foi o ‘canhão’, Carlos César”, critica. “[César] ficou em pânico porque percebeu que as pessoas podiam achar que há mesmo um problema”.
Com a intervenção de Marcelo, que rebocou Cavaco para a questão, na ótica do comentador, o “foco” da polémica alterou-se.
“Entrou Marcelo para reduzir a tensão sobre esta matéria. Não entrou sozinho mas entrou primeiro, chamando o antecessor, uma pequena rasteira muito bem feita”, observa, sublinhando que tudo o que disse o atual Presidente “é exato”: “As quatro presenças no conselho de ministros não são alteradas pelo facto de Mariana Vieira da Silva passar a ser ministra”.
E “Cavaco quis intervir, quis fazer comparações com o seu próprio governo em que houve membros da mesma família também. Generalizou. Levou uma reprimenda de Marcelo”. Para Louçã, a troca de palavras entre Marcelo e Cavaco é “uma espécie de maratona da política portuguesa”, acabando por beneficiar de cada episódio o atual Presidente.
Quanto à questão central, as ligações familiares no seio do Governo, Louçã é perentório: “Há obviamente um problema”, diz, que se justifica pelo facto de o recrutamento político ser relativamente restrito e e nos partidos se reproduzirem lógicas de proximidade, familiar e outra. “Na seleção entre pouca gente ocorre muito frequentemente haver sobreposição”, constata, frisando que “há um embaraço”.
Todavia, no entender de Louçã, “se há um pai e uma filha [ou marido e mulher] no Conselho de Ministros não se pode presumir que estejam sempre de acordo, não se pode presumir que não tenham sido escolhidos por capacidades”.
Quantos aos outros casos, como envolve Pedro Nuno Santos e a mulher, eleita chefe de gabinete de Duarte Cordeiro, com quem já trabalhava na Câmara de Lisboa, “não são relevantes do ponto de vista de viciar a estrutura do poder político”, conclui.