Numa nota enviada à agência Lusa, Daniel Adrião, que obteve cerca de 4% dos votos nas diretas que perdeu para o atual líder socialista, no ano passado, considera que "Mário Soares deve estar a dar voltas na tumba" com o apoio declarado por Costa a Emmanuel Macron.
"O apoio de António Costa a Emmanuel Macron, que foi o principal carrasco do PSF, e ao seu partido Republique En Marche, que já anunciou a filiação na família dos liberais no Parlamento Europeu - ALDE, para além de constituir uma acto de rendição ideológica e programática às forças liberais europeias, revela igualmente uma atitude de enorme ingratidão e total ausência de memória histórica. Tem de haver limites para o taticismo! Em política não pode valer tudo", escreve Daniel Adrião.
O ex-candidato à liderança dos socialistas lembra que o Partido Socialista Francês (PSF) "apoiou sempre incondicionalmente a afirmação do Partido Socialista (PS) português nos momentos mais difíceis, antes e depois do 25 de Abril, especialmente no processo de consolidação" da democracia e "no processo de adesão ao projeto europeu".
"Enquanto dirigente do PS não só não apoio como denuncio e me demarco desta decisão de António Costa, que certamente foi tomada a título pessoal e que não compromete o Partido Socialista, cujos órgãos nacionais não foram ouvidos sobre uma matéria que fere o dever de solidariedade e de lealdade institucional entre partidos irmãos, membros do Partido Socialista Europeu e da Internacional Socialista", afirma ainda o ex-candidato a secretário-geral do PS.
O primeiro-ministro português manifestou, no sábado, o seu apoio ao Presidente francês para "continuar a fazer avançar a Europa", elogiando a "determinação" de Emmanuel Macron na "mudança progressista" necessária ao "renascimento europeu".
"Caro Emmanuel, contamos com a tua determinação para essa mudança progressista e tu podes contar comigo e com a minha amizade para continuar a fazer avançar a Europa, a paz, a liberdade e o progresso económico e social", afirma Costa numa mensagem em vídeo a que a Lusa teve acesso e que foi transmitida durante os trabalhos de um 'meeting européen' (encontro europeu) do La Republique em Marche (A República em Marcha), o partido do Presidente francês.
Começando por recordar que desde "há dois anos" tem o "privilégio de trabalhar de muito perto com Emmanuel Macron e de testemunhar a sua determinação reformista para um renascimento europeu", o primeiro-ministro português diz partilhar com o chefe de Estado francês a convicção de que "nunca a Europa esteve tão em perigo" como hoje.
"É por isso que devemos proteger a Europa, para que ela possa continuar a proteger-nos a todos. A proteger os nossos valores contra as forças populistas, protecionistas e xenófobas; a proteger a segurança dos nossos cidadãos contra a ameaça terrorista; a proteger o ambiente e a assegurar uma transição energética sustentável; a proteger o nosso bem-estar e o nosso modelo social face a uma concorrência internacional crescente e aos desafios da sociedade digital; a proteger a nossa coesão, assegurando uma maior convergência entre as economias da zona Euro", sustenta Costa.
Considerando que tal não será possível sem a efetivação da união económica e monetária europeia, António Costa diz faltar ainda "concluir a união bancária, a união dos mercados de capitais e criar uma verdadeira zona orçamental da zona Euro para promover a convergência e a estabilização".
"Todos estes desafios exigem uma resposta europeia. Para responder às expectativas dos nossos cidadãos e cidadãs é preciso uma Europa progressista, assente na paz, na democracia e nos valores humanistas e centrada no crescimento, no emprego e na convergência económica e social", afirma na mensagem, salientando que "só esta Europa progressista pode continuar a garantir a paz, a estabilidade e a prosperidade às novas gerações, como tem vindo a fazer há mais de 60 anos".
Neste contexto, o chefe de Governo português defende que, depois das eleições para o Parlamento Europeu deste mês, "as forças progressistas devem unir-se para permitir a mudança necessária" para "restabelecer a confiança e a esperança no futuro" aos cidadãos e às empresas europeias.
A intervenção de Costa no 'meeting' do partido de Emmanuel Macron já tinha sido criticada na quinta-feira pela cabeça-de-lista do Bloco de Esquerda às eleições europeias durante um frente-a-frente da RTP Informação com o cabeça-de-lista do PS, Pedro Marques, com Marisa Matias a acusar os socialistas de estarem na "geringonça" em Portugal, mas entenderem-se com a direita na Europa.