António Costa repete a sua versão dos acontecimentos no que respeita ao processo que envolve o roubo de armas no paiol de Tancos. Confrontado com as acusações de Rui Rio, no sábado, sobre a sua inalienável responsabilidade em qualquer dos cenários, o primeiro-ministro não muda uma palavra nas suas afirmações.
“Já há muitos meses que disse que nada sabia sobre esse caso [Tancos], e em particular sobre a forma como as armas que foram recuperadas. Disse-o, por escrito, nas respostas que dei à Comissão Parlamentar de Inquérito, onde respondi a dezenas de perguntas”, começou por comentar, este domingo, em entrevista na antena da RTP1.
O secretário-geral do PS relembra, ainda, que a CPI “ teve uma conclusão inequívoca” em relação ao seu “desconhecimento em absoluto desse processo”. “Até hoje, nunca a justiça me fez qualquer pergunta, se houvesse alguma dúvida, seguramente me teriam feito perguntas”.
Finda a explicação, António Costa aponta baterias ao líder da oposição: “O que o doutor Rui Rio faz é uma afirmação que é absolutamente lamentável, devo dizer que surpreendente, numa pessoa quer eu julgava que seria firme nos seus princípios”.
Quando inquirido sobre o impacto dos últimos dias na relação entre os dois, Costa relativiza, mas não sem ironia. “Eu vou procurar esquecer tudo o que de lamentável tem acontecido nos últimos dias, isto tem dignificado pouco a campanha eleitoral. Eu percebo que se possa estar nervoso quando as campanhas não correm bem, mas aquilo que define um político é a capacidade de manter a cabeça fria e nervos de aço nos momentos mais difíceis”, atirou.
Rui Rio está mal habituado porque só tem ido a eleições com vitórias asseguradas“Eu creio que o doutor Rui Rio está mal habituado porque só tem ido a eleições com vitórias asseguradas. Ao longo da minha vida já ganhei, já perdi, o que eu nunca sacrifiquei foi princípios, nem mudo a minha verdade de mês para mês”, continuou.
José Sócrates deu este domingo a conhecer um artigo de opinião onde atribui a Tancos “motivações políticas”, cenário que António Costa contorna. “Eu sou um pessoa que acredita naquilo que é nosso sistema constitucional, no que é a separação de poderes e nas nossas instituições de justiça. Nós não podemos acreditar em princípios quando as decisões são boas e nos são favoráveis e deixar de acreditar quando não nos são favoráveis”, indicou, relembrando o seu papel como jurista para atestar a sua imparcialidade.
Costa mantém o mesmo cuidado ao falar sobre Azeredo Lopes, ex-ministro da Defesa, e as suspeitas de que este poderá não lhe ter veiculado todas as informações. “Há uma acusação que põe em causa aquilo que ele disse. É o momento dele exercer o seu poder de defesa e acho que tem todo o direito para excrescer a sua defesa”, indicou.
Tancos: Estamos a contaminar a campanha eleitoralSobre esta questão, o primeiro-ministro é até perentório, mais à frente, dizendo que não se deve “transferir” para a entrevista um debate que é do tribunal. “A mim não compete, seguramente, e não vos compete a vós, substituir-mo-nos ao tribunal. Estamos a contaminar uma campanha eleitoral onde os portugueses querem saber o que cada um dos partidos propõe fazer nos próximos quatro anos”, disse.
Estando a possibilidade de maioria absoluta mais afastada, de acordo com as sondagens, os jornalistas questionam se o caso Tancos porá este resultado mais em causa. António Costa sublinhou que o “PS não estabeleceu nenhuma meta eleitoral”, acrescentando apenas que é “essencial reforçar o PS para dar força à continuidade das boas políticas que tem dado resultado nos últimos quatro anos”.
Esclarecendo que quer para o partido “o melhor resultado possível”, relembrou que “não são os políticos que ditam quais são as condições da sua governação, são os cidadãos”. “Quem quer novo governo do PS deve votar no PS”, explicou.
Não é pelo facto de haver maioria que o esforço de negociação é menorDentro da questão da maioria absoluta, o primeiro-ministro faz eco das palavras proferidas por Mário Centeno, de que seria mais fácil governar nesses termos, mas sem se prender a essa possibilidade. “Havendo maioria é, obviamente, mais fácil assegurar a estabilidade durante quatro anos e mais fácil executar programa de governo. Não havendo maioria, temos que trabalhar com as condições que temos”, afirmou.
“Não é pelo facto de haver maioria que o esforço de negociação, de concertação, é menor”, assegurou, porém.
Confrontado com as posições do Bloco de Esquerda e do PCP sobre uma possível maioria, criticando essa pretensão, António Costa volta a mostrar diplomacia, mas por pouco tempo: “Percebo a posição deles, mas também tenho registado que nenhum deles se comprometeu até agora em assegurar condições de governabilidade durante os próximos quatro anos”.
Costa lembrou que questionou ambos os partidos sobre a continuidade da atual solução governativa e que ambos foram evasivos. “Um deles disse que as condições atuais são completamente diferentes de há quatro anos, não sei o que é isso significa. Quanto ao Bloco também temos ouvido as coisas mais diversas”, indicou.
"Quando vejo Catarina Martins a dizer que a história desta legislatura foi um combate entre a esquerda e o PS, eu de facto tenho dificuldade" em perceber se está disponível para um novo entendimento, explicou o socialista.
Costa afirmou que foi "o primeiro a dizer que" a apelidada 'geringonça' funcionava e que "funcionará, se for o caso", na próxima legislatura se houver "um PS forte".
[Notícia atualizada às 21h54]