Cristas bateu com a porta e Costa, sem maioria, abriu novas janelas

As eleições legislativas de domingo determinaram a chegada ao Parlamento de três novos partidos ao mesmo tempo que deixaram órfão o CDS-PP que perdeu a sua líder. Os próximos quatro anos terão, agora, 10 partidos diferentes no hemiciclo.

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Patrícia Martins Carvalho
07/10/2019 04:00 ‧ 07/10/2019 por Patrícia Martins Carvalho

Política

Eleições Legislativas

A noite eleitoral deste domingo trouxe algumas surpresas. Se já era expectável a perda de mandatos por parte do CDS-PP, o que poucos, talvez, estariam à espera era que Assunção Cristas anunciasse a sua saída da liderança do partido após a maior derrota de sempre do CDS-PP.

Derrota é também a palavra que descreve o resultado do PSD, pese embora Rui Rio opte por ver o lado positivo da eleição, garantindo que o partido não sofreu “nenhuma hecatombe”.

Em sentido oposto, dada como certa era a vitória do PS. A única dúvida era se conseguiria uma maioria absoluta, o que não veio a verificar-se – ficou a 10 deputados de tal resultado.

Quanto ao PAN, também já era expectável um aumento do número de deputados, só não se sabia de quantos. Já a chegada de novos partidos ao Parlamento foi outra das surpresas da noite com a eleição por parte do Iniciativa Liberal, do Livre e do Chega – cada um com um deputado.

O Bloco de Esquerda manteve o mesmo número de deputados, apesar de ter tido uma menor votação, e a CDU perdeu nomes de peso: Heloísa Apolónia, Miguel Tiago e Rita Rato.

Finalmente, outro dos grandes vencedores da noite e que se traduz numa derrota para a democracia: a taxa de abstenção voltou a bater recordes.

António Costa venceu e abriu as portas aos novos partidos

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O secretário-geral do PS venceu, nesta noite, as suas primeiras eleições legislativas e no discurso de vitória falou de todos os partidos que foram a votos.

António Costa começou por frisar que o PS “ganhou esta eleições e reforçou claramente a sua posição política em Portugal”, lançando, logo de seguida, a farpa ao PSD e ao CDS que, destacou, “tiveram a maior derrota da história da Direita em Portugal” porque “não apresentaram uma alternativa credível à governação do PS” e porque os “portugueses rejeitaram uma campanha eleitoral assente em casos e ataques pessoais”.

Na sua leitura dos resultados eleitorais, o primeiro-ministro deixou claro que os “portugueses gostaram da Geringonça e desejam a continuidade da atual solução política, agora com um PS mais forte” e, por isso, o PS vai “procurar renovar os acordos da solução governativa”.

Repetiremos os contactos que há quatro anos estabelecemos com o PAN para um acordo político e entraremos também em contacto com o Livre que elegeu um deputado

De fora destes contactos estão o Iniciativa Liberal e o Chega. Sobre este último, António Costa foi perentório: “Nós não contamos com o Chega para nada”.

Falando em números, o PS obteve 36,65% dos votos, ou seja, 106 deputados, o que representa uma subida de 4,27% que equivale a mais 21 deputados do que aqueles conquistados nas eleições de 2015.

Rui Rio desvaloriza vitória do PS e 'atira-se' à comunicação social

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O líder do PPD-PSD começou por destacar que o seu partido “disputou estas eleições num enquadramento muito difícil”. Por um lado, o “surgimento de novos partidos à Direita do PSD, por outro, a “permanente instabilidade” vivida “dentro do partido com a conivência de alguma comunicação social”. E a este respeito, Rui Rio criticou ainda a “prolongada publicação de sondagens” que davam como certa a vitória e até uma maioria absoluta do PS, “desmotivando o voto no PSD”.

No entanto, frisou, oPSD é suficientemente grande e capaz de apresentar uma alternativa sólida para governar Portugal, aliás, a única alternativa para governar Portugal”.

A vitória do PS não foi assim tão grande. Também foram manifestamente exagerados as constantes profecias sobre a hecatombe do PSD, manifestamente falharam. Não há desastre nenhum

Os números mostram que o PSD elegeu 77 deputados quando em 2015, sob a liderança de Pedro Passos Coelho, tinha conseguido eleger 99 mandatos – recorde-se que este número inclui os deputados do CDS uma vez que os dois partidos foram a eleições coligados. Por essa razão, Rui Rio destaca que o “PSD basicamente repetiu o resultado de 2015”.

Cristas consegue o pior resultado de sempre do CDS e 'bate com a porta'

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As sondagens não eram nada animadoras e o pior veio mesmo a confirmar-se: o CDS elegeu apenas cinco deputados.

Face a estes resultados, e ainda a noite eleitoral estava longe de terminar, já Assunção Cristas falava aos seus militantes e aos jornalistas.

Parca em palavras, a líder que sucedeu a Paulo Portas foi perentória:

Dei o meu melhor durante quatro anos, mas em face dos resultado tomei a decisão de não me recandidatar

E anunciou que vai convocar o Conselho Nacional em breve com vista à realização de um “Congresso antecipado”.

O CDS-PP obteve o pior resultado da sua história com uma votação de 4,2%, apenas 1% a mais do que o PAN e também apenas um deputado a mais do que o partido de André Silva – o pior resultado havia sido registado em 1987 (4,3%).

Ainda Cristas estava a caminho de sua casa e já Abel Matos Santos, porta-voz da Tendência Esperança em Movimento-CDS (TEM-CDS), anunciava a sua candidatura à liderança do partido.

PAN quadruplicou o número de deputados e já tem um grupo parlamentar

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Visivelmente satisfeito com os resultados obtidos, André Silva destacou a “grande vitória do PAN” alcançada na noite de domingo. O Partido Pessoas – Animais – Natureza conquistou 3,28% dos votos quando em 2015 se tinha ficado pelos 1,39%. Se há quatro anos só André Silva havia sido eleito, este ano o líder do partido conseguiu obter a companhia de mais três deputados, ou melhor, deputadas.

Somos o único grupo parlamentar em que os homens estão em minoria. Somos um partido feminista

Quanto ao panorama político, André Silva destacou que o partido se “consolidou no sistema político português a contra-gosto de todos os que olharam o PAN como uma moda”.

Bloco aguenta a pressão e estabelece-se como a terceira força política nacional

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Ainda a noite eleitoral ia a meio, ainda não se sabia se o PS teria ou não a maioria absoluta e Catarina Martins já ‘lançava a escada’ a António Costa.

O PS tem todas as condições para formar governo e se não tiver maioria absoluta e precisar de apoio parlamentar tem duas opções: procurar uma solução de estabilidade ou realizar negociações ano a ano para cada orçamento

O garantido, sublinhou, é que o “Bloco de Esquerda manifesta a sua disponibilidade e, se a primeira não se realizar, estaremos disponíveis para a negociação caso a  caso".

Analisando os números é possível perceber que os bloquistas tiveram menos votos nestas eleições, quando comparado com as legislativas de 2015: 9,67% contra 10,22%. No entanto, o número de deputados manteve-se: 19. 

CDU perde deputados, incluindo Heloísa Apolónia

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Vinte e quatro anos depois de ter sido eleita pela primeira vez, a líder do Partido Ecologista Os Verdes vai ficar de fora do hemiciclo português. Heloísa Apolónia, que era cabeça-de-lista por Leiria, não foi eleita e o mesmo aconteceu com Miguel Tiago, cabeça-de-lista por Viseu, e Rita Rato, cabeça-de-lista, pelo círculo da Europa.

No seu discurso da noite de domingo, Jerónimo de Sousa destacou que o próximo Parlamento terá uma “relação de forças semelhante à de 2015”, mas reconheceu que “com este resultado a CDU sai enfraquecida”.

Será em função das opções do PS, que a CDU determinará sempre o seu posicionamento, vinculada aos compromissos que assumiu com os trabalhadores e com o povo

A coligação que junta PCP e Os Verdes obteve 6,46% dos votos e elegeu 12 deputados quando há quatro anos tinha alcançado 8,27% votos e 17 deputados.

Quanto a uma nova Geringonça, Jerónimo avisou que não está disponível para acordos assinados, mas garantiu que a CDU cá estará, como sempre esteve, honrando os compromissos com os trabalhadores e o povo, dando força à sua luta, contando com a mobilização de todos”.

Os pequenos chegaram ao mundo dos grandes: Iniciativa Liberal, Chega e Livre entram no Parlamento

Notícias ao MinutoJoão Cotrim Figueiredo, André Ventura e Joacine Katar Moreira© Global Imagens

Estas eleições ficam marcadas, também, pela chegada de novos partidos ao hemiciclo nacional.

O Iniciativa Liberal, liderado por Carlos Guimarães Pinto, fez história ao eleger um deputado nas primeiras eleições a que concorre ao fim de dois anos de existência.

Hoje fizemos história. Agora, vão ter uma oposição diferente

Com 1,29% dos votos, o IL consegue eleger o seu cabeça-de-lista por Lisboa, João Cotrim Figueiredo.

Quem também entra para a história política (e para o Parlamento) é André Ventura, presidente do Chega. Com apenas alguns meses de vida, o ex-social-democrata conseguiu eleger-se, obtendo 1,30% dos votos (66.442 votos).

Portugal não é um país extremista e quando deu voto de confiança ao Chega foi porque viu,não uma voz extremista, mas sim uma voz contra este sistema corrupto

Por fim, ao fim de cinco anos o Livre conseguiu eleger um deputado. A cabeça-de-lista por Lisboa, Joacine Katar Moreira, faz parte do leque de novos deputados graças aos 55.656 votos (1,09%) alcançados pelo partido liderado por Rui Tavares – há quatro anos tinha-se ficado pelos 39.008.

Aos jornalistas, a deputada do Livre admitiu que se trata de uma “enorme responsabilidade”.

Os eleitores estão à espera de uma ação absolutamente antifascista, antirracista e uma ótica equalitária

Joacine disse ainda que o partido está “completamente” disponível “para dialogar com qualquer partido”. Contudo, é “necessário que o primeiro-ministro nos informe objetivamente em relação às suas intenções”.

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