"Portugal precisa do PSD, seja na oposição ou no Governo", começou por dizer o presidente do PSD, no discurso de abertura do 38.º Congresso do partido que se realiza entre hoje e domingo em Viana do Castelo. Depois de dirigir os cumprimentos a todos os dirigentes e militantes, Rui Rio colocou o foco na "obrigação" do partido.
"É por isso que é nossa obrigação lutar por um partido mais moderno, mais capaz, mais unido e, acima de tudo, verdadeiramente comprometido com a resolução dos reais problemas dos portugueses", enfatizou o líder social-democrata, três semanas depois de ter sido, novamente, o escolhido para comandar os destinos do PSD.
Agradecendo aos que de forma "livre" votaram nas diretas do mês passado, Rui Rio destacou que "os militantes quiseram que o PSD prosseguisse no mesmo rumo de atuação política que iniciamos no congresso de há 2 anos".
"Como presidente do partido, agradeço a todos os que por vontade própria participaram neste ato eleitoral e que com essa atitude engrandeceram o PSD. Aos que a mim votaram, agradeço a confiança depositada", declarou, deixando uma promessa: "Não só tudo farei para a justificar, como procurarei também conquistar a confirnaça dos nossos companheiros que, democraticamente e de boa-fé, votaram numa das outras duas candidaturas concorrentes".
Baterias apontadas às autárquicas para "recuperar terreno perdido"
Feitos os agradecimentos, Rio fixou o primeiro grande objetivo do PSD - as autárquicas de 2021 - , dizendo que "a implantação de uma força partidária mede-se, em primeiro lugar pela dimensão da sua presença nas autarquias locais".
Neste sentido, o líder social-democrata defendeu "mais do que o número de deputados que consegue eleger para AR, é o número de autarcas eleitos que do ponto de vista estrutural mede a verdadeira força de um partido na sociedade". Rui Rio sublinhou que os autarcas "são os primeiros agentes da mudança e do trabalho em prol dos portugueses".
"Se há conquista conseguida em 25 de Abril de 1974 a do poder local democrático é seguramente uma das mais relevantes que podemos e devemos enunciar", sendo o trabalho dos autarcas uma "obra verdadeiramente notável a que nem sempre prestamos a devida homenagem", criticou.
Prosseguindo na crítica, Rui Rio afirmou que "mergulhamos, muitas vezes, nos erros que o poder local cometeu e esquecemos com demasiada frequência o bem que tem trazido às nossas populações". O antigo autarca do Porto destacou as imensas as tarefas que as autarquias têm desempenhado pelos portugueses. "Em abono da verdade, que o têm feito, na sua grande maioria, com equilíbrio e rigor orçamental", realçou.
E acrescentou ainda que, "se aos inadmissíveis de 120% da dívida pública portuguesa retirarmos a parte da responsabilidade das autarquias locais, essa mesma percentagem cai uns escassos 3 pontos, para 117%". Ou seja, continuou Rio, "foi a administração central que na sua irresponsabilidade e na sua incompetência endividou Portugal muito para lá dos limites do aceitável".
No entender do líder laranja, não foram as várias câmaras do país as responsáveis pelo endividamento do Estado, mas sim o "centralismo do Terreiro do Paço".
"Não foi a câmara de Viana, nem de Ponte de Lima nem de Monção que endividaram o Estado. Não foi tão pouco a câmara do Porto, nem de Lisboa ou a de Loures. Foi o centralismo do Terreiro do Paço e as directrizes por si emanadas que levaram ao nosso endividamento. Colocaram nas costas das gerações futuras um peso que elas, infelizmente, terão de carregar por muitos anos. É também por isto que temos vindo a defender a descentralização e a desconcentração na nossa vida política e administrativa" .
Assim sendo, "quantas mais verbas públicas estiverem sobre a responsabilidade de quem tem maior proximidade aos problemas e maior controlo legal e político na sua utilização melhor será o rigor e menor será a probabilidade do endividamento daí decorrente", defendeu Rio no seu discurso, argumentando que "a administração central é bem mais eficaz a tentar controlar os gastos dos outros do que a impor regras a si própria".
Por tudo isto, enfatizou o presidente social-democrata, "o PSD tem de se voltar a afirmar como o partido do poder local, apostando na sua vitalidade, na sua proximidade às pessoas e no seu conhecimento dos problemas reais". Mas, ao mesmo tempo, "exigindo-lhes rigor, seriedade e, acima de tudo, transparência", disse, prometendo combater os abusos e escolha de candidatos autárquicos competentes.
"A escolha de um autarca não é a escolha de um amigo nem a do líder de uma qualquer fação partidária. Ela tem de ser ditada com base em critérios de competências, dedicação e de credibilidade. Temos, em 2021, de recuperar o terreno perdido em 2013 e em 2017. Recuperar presidências de câmara, mas também de vereadores e eleitos de freguesia", considerou.
Em termos de fasquia eleitoral, Rui Rio adiantou que, nas autarquias em que o PSD não vencer, deve eleger um número de vereadores consentâneo com a dimensão histórica do partido, "ultrapassando os fracos resultados obtidos nos dois últimos atos eleitorais, designadamente nos concelhos mais populosos do país".
"Temos de aumentar, de uma forma muito significativa, o número de votos nas listas do PSD, mesmo quando estes não sejam suficientes para eleger os nossos candidatos ao lugar cimeiro", reforçou.
Na sua intervenção, o líder social-democrata abordou também a questão da corrupção, deixando aqui um aviso: "Sempre que houver aproveitamento abusivo de meios públicos autárquicos para fins de natureza pessoal ou partidária, ou da utilização da autarquia como empregador de clientelas partidárias, esses casos têm de merecer o nosso inteiro repúdio e uma atenção especial do próprio Ministério Público - independentemente do partido a que pertencer o presidente da autarquia em causa", frisou Rui Rio, recebendo palmas dos delgados sociais-democratas.
O 38.º congresso do PSD arranca hoje à noite no Centro Cultural de Viana do Castelo com o discurso do presidente reeleito Rui Rio, defendendo a sua moção 'Portugal ao Centro'.
O Congresso realiza-se três semanas depois de umas eleições diretas muito disputadas e que levaram o PSD a uma inédita segunda volta.
Rui Rio foi reeleito para um segundo mandato à frente do PSD em 18 de janeiro com 53,2% dos votos, contra 46,8% de Luís Montenegro, depois de, na primeira volta, ter falhado por pouco a necessária maioria absoluta dos votos expressos, com 49%. Pelo caminho, ficou o terceiro candidato, o presidente da Câmara Municipal de Cascais, Miguel Pinto Luz, que conseguiu 9,5% dos votos.