Questionado sobre as declarações do primeiro-ministro sobre o responsável pela pasta das finanças holandês, Marcelo colocou-se do lado de António Costa, apontou os passos "tímidos" e "insuficientes" que a Europa deu e considerou "um erro" a resistência de alguns países às eurobonds.
"Sabe que a Europa, já nos últimos tempos, tinha vivido divisões grandes, que levou ao adiamento de tomadas de posição importantes sobre o financiamento para o futuro, sobre as migrações, sobre os refugiados (...)", começou por responder Marcelo, considerando que tal já "era preocupante".
O Presidente da República sublinhou que "Portugal, que tem trabalhado na primeira linha da unidade europeia, tem feito tudo para coser aquilo que muitas vezes não tem estado cosido".
Quanto à crise pandémica, Marcelo apontou que "a Europa deu passos", mas que "são ainda passos insuficientes e tímidos".
"Deu passos", enumerou Marcelo, "no sentido de haver financiamento para enfrentar a crise, definindo um princípio, agora há que concretizar as condições (...) Deu passos no sentido de libertar da rigidez das regras do défice para que os Estados possam atuar enfrentando as crises económicas e sociais".
Contudo, não deu passos na emissão conjunta de dívida, o que Presidente lamenta. "E, infelizmente, não deu passos naquilo que seria os eurobonds e que Portugal tem defendido. Uma minoria de países tem resistido a dar passos menos tímidos, mais solidários e mais determinados".
E Marcelo considera "um erro essa resistência", defendendo que "é nos momentos cruciais que se vê a capacidade de afirmação das instituições". E esta crise causada pela Covid-19, apontou, "é um momento essencial para ver se a Europa quer ser mesmo a Europa corajosa, determinada e virada para o futuro ou se quer esperar mais três meses para ver no que dá o processo sanitário e depois decidir".
Em causa estão, disse o chefe de Estado, "as pessoas que têm salários para receber no fim do mês de abril, que têm empregos que podem desaparecer, as empresas que precisam de ter um sinal para o futuro" e que "não têm três meses para esperar pelas dúvidas e hesitações dos decisores políticos". "Os decisores políticos europeus têm de perceber que este é um problema de toda a Europa", apelou.
"Toda a Europa está a enfrentar o vírus, toda a Europa vai enfrentar as consequências económicas e sociais do vírus, porque é que há-de esperar uns meses para perceber aquilo que pode perceber mais cedo?", questionou.
Também eu me indigno com o facto de a Europa , que tem tanto peso no mundo, não ser capaz de perceber que tem de estar unida, ser corajosa e determinada e ser solidária
Sobre a polémica relativa às declarações do ministro holandês, Marcelo disse não se pronunciar porque não acompanhou "propriamente" o que se passou, mas manifestou-se solidário com a indignação de Costa.
"Mas acredito naquilo que é a posição e o testemunho do primeiro-ministro. E estou obviamente solidário no sentido de considerar que não podemos aceitar que haja, num processo que deve ser de unidade, atuações enfraqueçam a Europa. (...) O primeiro-ministro indignou-se e eu sou solidário com a sua indignação", posicionou-se, pedindo união e solidariedade.
"Também eu me indigno com o facto de a Europa , que tem tanto peso no mundo, não ser capaz de perceber que tem de estar unida, ser corajosa e determinada e ser solidária. Se cada um, na Europa, começa a dizer mal uns dos outros, onde é que vai parar a solidariedade?", indagou, considerando que estamos todos "no mesmo barco".
António Costa, recorde-se, qualificou esta quinta-feira de "repugnante" e contrária ao espírito da União Europeia (UE) uma declaração do ministro das Finanças holandês pedindo que Espanha seja investigada por não ter capacidade orçamental para fazer face à pandemia.
"Esse discurso é repugnante no quadro de uma União Europeia. E a expressão é mesmo essa. Repugnante", disse António Costa quando questionado sobre a declaração do ministro das Finanças holandês, Wopke Hoekstra, na conferência de imprensa que se seguiu ao Conselho Europeu extraordinário de quinta-feira.
Já esta sexta-feira, em declarações aos jornalistas em Matosinhos, reafirmou a posição. "Se me excedi? Está a brincar comigo?", reagiu o primeiro-ministro quando confrontado com as declarações de ontem.