O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou esta segunda-feira que a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus "é o maior desafio do domínio da vida e da saúde nos últimos 100 anos".
Em declarações feitas através de uma vídeo no programa 'Prós e Contras', da RTP1, o chefe de Estado apelou à convergência entre todos para ultrapassar a crise sanitária provocada pela Covid-19.
"O desafio que estamos a enfrentar como nenhum outro nos últimos 50 anos. Tivemos muitos desafios sociais, económicos e financeiros, muitas crises, mas este é o maior desafio do domínio da vida e da saúde nos últimos 100 anos, em dimensão e em duração no tempo. Temos uma realidade que é nova na nossa vida. Este desafio tem exigido a unidade de todos, que não é a unicidade nem uma interrupção da democracia. É a convergência no essencial no combate à crise sanitária durante o presente surto", começou por dizer o presidente da República.
O chefe de Estado referiu ainda que no plano político existe agora "convergência no essencial", mas que mais tarde "diferentes serão, naturalmente, os caminhos propostos - como já são hoje - para enfrentar os efeitos económicos e sociais da pandemia".
"Uma vez passado este processo serão naturalmente diferentes os caminhos propostos, como já são hoje, para enfrentarmos os efeitos económicos e sociais da pandemia. Esta unidade tem sido vivida de uma forma diferente da unidade de outros tempos, por exemplo da unidade dos tempos das crises económicas, nos anos 70 e 80, e até da crise 2009/2010 ou 2014. Ou da mobilização por Timor, ou dos incêndios, ou da solidariedade para com os países irmãos, por exemplo Moçambique há um anos. Temos estado confinados, separados fisicamente, mas nunca estivemos tão juntos. Estamos juntos apesar de separados fisicamente. O digital tem facilidado isso", acrescentou.
Abril determinante no combate à pandemia
Durante a mesma intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa alertou que o corrente mês de abril vai ser decisivo no combate à pandemia do novo coronavírus.
"Depois tivemos de começar pelo princípio, e o princípio é a vida e a saúde. Não podemos facilitar nesse combate que ainda não está terminado. Há sinais positivos nos últimos dias, mas são sinais. Parece estar terminado, mas não está. O mês de abril é determinante. Os meses seguintes são também importantes, mas este é determinante. Até ao final de abril esperamos ver se se consolida ou não aquilo que é a tendência aparente neste momento", realçou.
O Chefe de Estado chamou ainda a atenção para o facto de este combate à Covid-19 não ser uma luta pelos grupos de risco, mas por toda a sociedade.
"Todos também percebemos que não se trata de um combate por um grupo de risco, pelo idosos ou pelos doentes com certas vulnerabilidades, mas por toda a sociedade. Temos resistido, e bem, a pensar e a sentir que podíamos fechar apenas protegendo idosos e doentes mais vulneráveis, deixando o resto da sociedade levar uma vida normal como se a crise lhe não respeitasse. Tudo seria mais fácil e mais certo. Não seria. Como não seria se o grupo de risco fossem crianças e jovens. Se pensássemos assim estaríamos a criar guetos e discriminações. No fundo, xenofobias involuntárias e é irrealista. Os idosos de que falámos são quase um terço da nossa população, e se somarmos os doentes mais vulneráveis estamos perto de 40%. Não há como uma democracia que respeita a pessoa marginalizar 30 ou 40% da sociedade, não esquecendo de que somos dos quatro ou cinco países da Europa mais envelhecidos e dos países da Europa com mais imigrantes na Europa, dos mais abertos à circulação de pessoas e ao turismo", atirou.
"Por outro lado, sabemos que nenhuma crise como esta é fácil e isenta de erros, de recuos, atrasos avanços, de ajustamentos constantes. Não vale a pena negá-lo, e não vale a pena negar que economias, sociedades e sistemas mais frágeis têm de se superar para responder a desafios assim. Somos uma sociedade com fragilidades, desde logo na demografia, e outras nos sistemas sociais e administrativos e políticos. Como outras sociedade que enfrentaram este desafio não esperado também isso me influencia na resposta, como ela é dada e vai sendo corrigida ao longo do tempo", alertou.
Segundo o chefe de Estado, "à medida que o sufoco sanitário passa", o que disse esperar que aconteça durante este mês, "importa que economia e sociedade se normalizem", com a consciência de que "vai ser um arranque lento, desigual e difícil".
Embate na economia "pode durar uns anos"
"À medida que o sufoco sanitário passa, e nós desejamos que se confirme que vai passar durante o mês de abril, importa que a economia e a sociedade se normalizem, sabendo todos nós que essa normalização não vai ser recomeçar tal como estava o país no dia 15 de março ou em fevereiro e janeiro. Vai ser um arranque lento, desigual e difícil", explicou Marcelo Rebelo de Sousa.
Neste contexto, deixou um alerta: "Há ainda apoios diretos e financiamentos que não podem esperar meses pelo fim da crise sanitária, são os apoios mais urgentes dos urgentes. Depois desses apoios é preciso investimento público e privado com o contributo europeu, nacional, estatal, da banca e dos empresários. Em todo este segundo processo, económico e social, a solidariedade tem de estar ainda mais presente do que agora porque a crise sanitária, como a crise económica e social, bate mais e mais fundo nos mais pobres e excluídos, nos mais marginalizados e nos mais dependentes."
No seu entender, os portugueses estão unidos e mostram coragem e empenho em "vencer o surto atual até ao verão e, se reaparecer mais esbatido no próximo inverno, até à primavera", e em "ir aguentando a economia e a sociedade".
"Tudo ainda vai muito no começo, mas há uma coisa que não vai no começo que é a unidade que tem havido nos portugueses, a coragem, a resistência, a paciência e a esperança, e vontade de vencer o surto atual até ao verão e, se reaparecer mais esbatido no próximo verão, até à primavera. E ir aguentando a economia e a sociedade. E ir vencendo depois o embate na sociedade e na economia, que pode durar uns anos, mas que não devem ser intermináveis e que não devem ser só a tapar buracos, tem de ser pensar no futuro a prazo", concluiu.