SNS: Palavras de Costa "caíram muito mal". "Futebol não é um prémio"

Francisco Louçã criticou declarações do primeiro-ministro sobre o facto de Lisboa ter sido a cidade escolhida para acolher a fase final da Liga dos Campeões. O "futebol não é um prémio para os profissionais de saúde", afirmou o comentador, lamentando ainda a "tradição de inflação de entusiasmo sobre a questão do futebol" em Portugal.

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Melissa Lopes
19/06/2020 23:14 ‧ 19/06/2020 por Melissa Lopes

Política

Francisco Louçã

No seu habitual espaço de comentário, na SIC, Francisco Louçã considerou que as declarações do primeiro-ministro sobre a Liga dos Campeões ser um prémio para os profissionais de saúde "caíram muito mal" a quem deu tudo e continua a fazê-lo para garantir o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

O bloquista recordou que as palavras de António Costa foram mal recebidas, sobretudo, porque "o Governo se recusou a dar um prémio de risco temporário às pessoas que deram as horas necessárias para garantir o funcionamento dos serviços quando estavam sob maior tensão".

"O prémio de risco era totalmente justificado, aconteceu noutros países, era um prémio", justificou, dando ainda o exemplo de uma outra forma de premiar os profissionais de saúde, promovendo o aumento da exclusividade no SNS

Embora seja algo com impacto social e popular no país, "o futebol não é um prémio para os médicos", observou o antigo dirigente do Bloco. "Evidentemente que tratar isto como uma compensação para o pessoal de saúde é um exagero que caiu mal a quem percebe que deu tudo o que podia e que continua a fazê-lo. E esse esforço merecia ser compensado", reforçou. 

Francisco Louçã considerou ainda a cerimónia de festejo de consagração de Lisboa como o lugar da fase final da Liga dos Campeões uma iniciativa "exagerada" e "um pouco estranha".  "Lembra até que o Estado português tem pouca cautela com o fenómeno futebol ", apontou o comentador, recordando o "enorme desperdício de recursos" relacionados com a construção de 10 estádios alguns por ocasião do Euro 2004, alguns dos quais "não têm um jogo por ano". 

Sobre este ponto, o bloquista criticou aquilo que considera ser "alguma tradição inflação de entusiasmo sobre a questão do futebol" que existe em Portugal. "Receber a fase final da Liga dos Campeões é signficativo? Por ventura, sim, é um sinal. Mas ninguém sabe se esses jogos vão ser disputados com público ou não, [ou seja], se terá ou não algum impacto no turismo", analisou.

Perante a "grande incerteza", Louçã retira já uma conclusão do tema. "Se houver espectadores nestes jogos, o PCP festejará e não haverá uma alma em Portugal que a festa do Avante não se pode realizar nas condições do costume porque nos Estádios da Luz e Alvalade isso será possível

Para o bloquista, a cerimónia (em que estiveram presentes primeiro-ministro, Presidente da República, Presidente da Assembleia da República, presidente da Câmara de Lisboa e quatro ministros) aconteceu  porque as autoridades portuguesas e o Governo  "estão preocupadísimos com esta guerra que há nos fluxos turísticos". 

Aliás, prosseguiu, é essa disputa "que leva a Grécia, sem nenhuma justificação, a proibir a entrada de portugueses, para dar um sinal aos mercados turísticos".

Na ótica de Louçã, estamos perante "uma guerra de navalha", considerando que  "os fluxos turísticos são pequenos" e que países como Portugal, Espanha e Grécia  dependem muito desses fluxos que têm 10 a 15 % do seu PIB consagrado no turismo.

Sublinhando existir uma "pressão económica", o economista defende que a postura de Portugal perante as restrições de alguns países à entrada de portugueses  deve ser "procurar negociar e evitar este tipo de conflitos" com os quais "ninguém ganhará nada", uma vez que "não haverá dezenas de milhões de turistas para alguns países como costumava acontecer". 

 

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