"Se as pessoas continuarem a ter de apanhar transportes lotados, se não tiverem condições de segurança no trabalho e estiverem a habitar em condições de sobrelotação, as medidas implementadas ontem [segunda-feira] não serão capazes de conter nada", defendeu Catarina Martins, em declarações aos jornalistas, no final de uma audiência com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
A coordenadora do BE defendeu que "os novos surtos que têm surgido não estão relacionados tanto com as condições de desconfinamento", mas com pessoas que continuaram a trabalhar durante toda a pandemia em áreas como as limpezas, construção civil ou supermercados.
"Sem dúvida que o apelo a comportamentos individuais responsáveis é muito importante, mas também têm de existir políticas públicas para proteger pessoas cuja infeção acontece no trabalho", defendeu.
A líder do BE defendeu que existem "medidas de curto prazo" que pode ser implementadas imediatamente, como a criação de planos de contingência nas empresas em conjunto com as Comissões de Trabalhadores e autoridades sanitárias, o desdobramento dos transportes públicos e o "realojamento imediato" de famílias que vivam sem condições de salubridade.
Questionada se as medidas que entraram hoje em vigor na Área Metropolitana de Lisboa podem estar a passar ao lado da raiz do problema, Catarina Martins defendeu ser necessário olhar para "os dados científicos" e "não basta ter medidas para uma realidade eventual".
"É muito fácil olhar para os números e dizer que o problema é de um comportamento individual aqui ou acolá. O que nos dizem os dados é que onde estão a aparecer os casos é em população com idade ativa que ficam infetadas no decurso da sua atividade laboral, em profissões que nunca pararam", afirmou.
A líder do BE defendeu que "é preciso não esquecer a responsabilidade coletiva de proteger os que estiveram na linha da frente e com os salários mais baixos" durante a pandemia.
A Área Metropolitana de Lisboa (AML) está sujeita, a partir de hoje, a medidas mais restritivas para conter os casos de covid-19 - como a proibição de ajuntamentos de mais de dez pessoas ou o encerramento de todos os estabelecimentos comerciais a partir das 20:00 (exceto restaurantes) - e quem desrespeitá-las pode incorrer em crime de desobediência, determinou o Governo.
Portugal regista hoje mais seis mortos relacionados com a covid-19 do que na segunda-feira e mais 345 infetados, 87% dos quais na Região de Lisboa e Vale do Tejo, segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS).
Os dados da DGS indicam 1.540 mortes relacionadas com a covid-19 e 39.737 casos confirmados desde o início da pandemia.