Frugais? "Muitos países estão num fato que já não serve, passou de moda"

António Costa quer um acordo que não se fique pela "ilusão" e que "responda às necessidades efetivas", mesmo que assumindo que possa existir alguma espécie de corte à proposta inicial.

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Anabela Sousa Dantas
19/07/2020 10:43 ‧ 19/07/2020 por Anabela Sousa Dantas

Política

Cimeira

O primeiro-ministro português quer uma resposta "robusta e rápida" para aquela que é uma "crise de dimensão extraordinária" e não compreende as reticências de alguns países. "É incompreensível a dificuldade das lideranças europeias em chegar a um acordo rápido", disse António Costa aos jornalistas, em Bruxelas, antes do reinício do terceiro dia de negociações da cimeira extraordinária de chefes de Governo e de Estado da União Europeia.

O chefe de Governo listou os números do desemprego e as dificuldades das empresas para sublinhar que "a resposta tem que estar à altura desta crise, que é enorme". "Não estamos a negociar mais milhão menos milhão, não é isso que está em causa", disse, explicando que a preocupação é a resposta a longo prazo.

Quando questionado sobre a redução na proposta inicial da Comissão Europeia, Costa explicou que "é possível conseguir alguma redução sem atingir os envelopes nacionais" mas que "mais importante é saber se saímos com um instrumento que depois já não tem capacidade para responder às necessidades efetivas" - o que seria "algo muito perigoso, uma ilusão para os europeus".

Costa admite, assim,  que possa existir alguma redução em relação à proposta inicial do orçamento da União, mas atentando à necessidade dos países. "Ninguém sabe se já estamos a meio ou se ainda estamos no princípio. Temos que desejar o melhor, mas temos de nos prevenir para o pior", disse.

Um dos principais obstáculos a um acordo a 27 tem sido, de acordo com fontes europeias, as reticências de alguns países, autodenominados de 'frugais', como a Holanda, Áustria, Suécia, Dinamarca e até Finlândia. António Costa, indagado sobre as posições destes países, que são pertencentes a um projeto comunitário, respondeu que há uma "razão mais profunda" que seria difícil de explicar rapidamente, mas que assenta em "visões profundamente distintas do que é a União Europeia".

"Hoje, os governos já não são os mesmos dos que eram quando se constituiu a União, as situações políticas em muitos países já não são as mesmas do que quando se constituiu a União. O espírito mudou muito e nós temos agora muitas vezes, isso é o que eu sinto, muitos países que estão num fato que já não lhes é confortável. Sabe como é, quando uma pessoa compra um fato, depois engorda, e o fato deixa de servir, ou passa de moda", comentou, usando da comparação para falar de um "espírito que já não é partilhado por todos" e apontando uma "visão utilitarista" do projeto europeu.

"Portanto, hoje há muitas formas diferentes de estar aqui na União, e isso condiciona a visão global que há", disse.

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