Em entrevista à revista Visão por vídeo-conferência, conduzida pelo jornalista Pedro Rainho, Catarina Martins reiterou que o BE foi o primeiro a querer chegar a um entendimento com o PS, logo no início da legislatura (outubro de 2019), mas que o executivo de António Costa recusou e não fez sequer uma "contraproposta".
"O BE propôs esse acordo ao PS no princípio da legislatura. O PS não quis, foi recusando várias vezes e não apresentou contraproposta. Estar agora a dizer que se quer pensar o que se vai fazer em 2022 ou 2023 sem discutir o que vamos fazer já, que é tão urgente, parece-nos que não tem sentido. Temos toda a disponibilidade para negociar, mas não para negociar no abstrato, tem de ser no concreto", afirmou.
No debate parlamentar sobre o estado da Nação, em 24 de julho, o primeiro-ministro dirigiu-se aos parceiros da denominada "geringonça" (BE, PCP e "Os Verdes") e pediu "uma base de entendimento sólida e duradoura", afirmando ser condição indispensável face à crise pandémica, rejeitando "competições de descolagem" entre partidos e "calculismos" eleitorais.
"Nós estamos em agosto, as conversas começaram em julho. O Governo só quis conversar sobre o futuro no final de julho quando nós temos um orçamento (OE2021) que deve entrar no parlamento no início de outubro e temos uma enorme crise neste momento. O que o BE tem defendido é que para termos uma solução para o país devemos concentrar esforços a pensar o que deve ser este OE2021, como responde à crise de uma forma muito concreta", descreveu.
Para Catarina Martins, "se o PS quiser negociar políticas de esquerda, sabe que encontra no BE a disponibilidade e a vontade de o fazer".
"Agora, se o PS não quiser negociar à esquerda e construir políticas de esquerda, claro que não o vai fazer com o BE. Seria tonto. Não tem nenhum sentido. Portanto, fará com o PSD", previu.
Segundo a líder bloquista, se o PS "quiser acordo à esquerda, terá de ter políticas de esquerda: tão básico como defender quem vive do seu trabalho", pois para o BE é claro: "entre o Novo Banco ou apoiar quem perdeu tudo, vamos escolher apoiar quem perdeu tudo com a crise".
"Se o PS tiver a disponibilidade e der os passos concretos para alterar a legislação do trabalho, para que os salários sejam protegidos e a precariedade seja efetivamente combatida e a chantagem não seja o quotidiano de quem trabalha, claro que o BE está aqui para fazer uma maioria na defesa de quem trabalha. Se o PS tiver a vontade de cumprir com o que já acordámos sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e contratar os profissionais que já devia ter contratado, claro que estaremos cá para essa maioria, mas é preciso que o PS o faça", continuou.
A coordenadora do BE resumiu o seu ponto de vista sobre a atual situação: "as pessoas estão a perder emprego e salário agora, com dificuldade em manter a sua habitação agora, o SNS está com problemas agora, o ano letivo está quase a começar. Portanto, é preciso agir agora".