Francisco Louçã considerou as candidaturas de Marisa Matias e de Ana Gomes a Belém "previsíveis", começando por destacar a "capacidade transversal de comunicação" de ambas.
Em concreto sobre a socialista, o fundador do Bloco de Esquerda afirmou que "fez muito bem" em lançar-se na corrida a Belém, uma vez que "representa uma proposta política".
Sobre o discurso de Marisa Matias, no anúncio público da candidatura, Louçã elogiou o prisma de "mobilizar o exemplo das pessoas que puxam pelo país, no sentido de comunidade", apresentando "o contraponto em relação à candidatura que representa o espaço de direita hegemónico na Presidência: Marcelo Rebelo de Sousa".
No entender do economista, é "muito importante como é que os espaços políticos se definem e a pedagogia que trazem", numa eleição que já está decidida. E nesse sentido, o contraponto das candidaturas de Marisa Matias e Ana Gomes é importante até para "evitar a armadilha em que ninguém deve cair, que é a armadilha do pingue-pongue de André Ventura, ou seja, reagir às suas provocações e encenações".
Louçã avisa que se um candidato ou candidata se coloca como "contracenando no festival de André Ventura, está a fazer-lhe um favor e um desfavor à democracia". Neste aspeto, Ana Gomes "resistiu a essa tensão" e "fez muitíssimo bem". "Apresentou as suas propostas, a sua força, o seu trajeto, a sua representação muito bem e com grande elegância", elogiou.
O antigo dirigente do Bloco de Esquerda apontou, contudo, um aspeto desfavorável na candidatura da ex-eurodeputada socialista, o facto de "colocar a sua presença na campanha como o resultado de um conflito no PS". O que, no entender de Louçã, fez com que a mensagem da campanha de Ana Gomes se tornasse centrada sobre a "disputa dentro do PS", o que condiciona, de certa forma, a candidatura. "Ser lida só como alguém contra António Costa é um risco importante na sua campanha", frisou.
Assinalando desejar que seja evitada "arrogância" nesta campanha eleitoral, Francisco Louçã disse ainda estar convencido de que estas eleições "vão revelar temas, presença, afirmação e debates que podem ser importantes para a evolução da política nacional".
Marisa Matias e Ana Gomes apresentaram esta semana publicamente a candidatura às eleições presidenciais de 2021. A eurodeputada do Bloco de Esquerda afirmou ser a "candidata contra a campanha do medo", descrevendo-se como "socialista, laica e republicana”, preparada para lutar pelas suas ideias “ao lado de quem não desiste de Portugal".
Por seu turno, a socialista declarou que não se candidatava contra ninguém mas sim pelos portugueses. Ana Gomes disse não compreender e não aceitar "a desvalorização" que o seu partido está a fazer da eleição para a Presidência da República, considerando-se "qualificada para representar o socialismo democrata progressista". As duas candidatas assumem-se como amigas e não consideram desistir uma pela a outra no desafio presidencial.