"Exagerar nessas medidas, pensar que se resolve como um problema securitário, assim não resolvemos o problema. É essa pedagogia para que o povo compreenda o sentido e não procurar de uma forma fácil uma medida securitária, designadamente de confinamento das pessoas, com toda a paralisação da atividade económica e do plano social", criticou Jerónimo de Sousa, no final de uma reunião de mais de uma hora com o primeiro-ministro, António Costa.
O secretário-geral do PCP defendeu ainda que as medidas a anunciar pelo Governo no sábado "são inseparáveis" de medidas de reforço do Serviços Nacional de Saúde (SNS), dizendo discordar de uma requisição civil dos privados se tal significar desvalorizar o sistema público.
"Não transformemos um problema de saúde num problema policial", apelou.
Questionado se o PCP aceitaria um novo estado de emergência ou uma medida como recolher obrigatório, Jerónimo de Sousa não respondeu diretamente, mas referiu que a lei da proteção civil e a lei de vigilância da saúde "são instrumentos que podem responder neste contexto à situação" sanitária.
"Procurar todas as medidas de defesa da saúde, mas que essas medidas não sejam transformadas num caso de polícia", referiu.
Quanto ao SNS, Jerónimo de Sousa defendeu que não se pode secundarizar "a necessidade absoluta" do seu reforço, quer em termos de profissionais de saúde (admitindo até o recurso a enfermeiros reformados que se voluntariem), quer de disponibilidade de camas, face ao agravamento da pandemia.
Questionado se o PCP defende - como fez poucos minutos antes o BE - uma requisição civil dos setores privado e social da saúde, Jerónimo de Sousa respondeu negativamente, se tal significar subalternizar o sistema público.
"Se isso for para subestimar ou secundarizar o SNS estaremos em desacordo, não pode haver desresponsabilização e considerar o SNS como algo secundário", defendeu.
Questionado de saiu deste encontro com o primeiro-ministro mais preocupado com as medidas que aí vêm - no qual esteve acompanhado pelo líder parlamentar João Oliveira e pelo dirigente Jorge Pires -, o secretário-geral comunista disse que "por razões de ética" se escusava a fazer caracterizações do que possa vir a ser anunciado no sábado pelo Governo.
Jerónimo de Sousa foi o terceiro líder partidário a ser recebido em São Bento, num dia em que António Costa ouve todos os nove os partidos com representação parlamentar para procurar um consenso para a adoção de medidas imediatas de combate à pandemia de covid-19, que tem registado um continuado aumento em Portugal.
As medidas a tomar pelo Governo serão depois anunciadas por António Costa, no sábado, no final de uma reunião do Conselho de Ministros extraordinária.
Na sexta-feira, Portugal registou um novo máximo de pessoas internadas em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) desde o início da pandemia de covid-19, com 275 pessoas hospitalizadas. O último boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS) contabilizou também 40 mortos e 4.656 infetados.