Na antena da TVI, na rubrica 'A Meu Ver' de Miguel Sousa Tavares, do Jornal das 8, esteve esta segunda-feira o primeiro-ministro António Costa.
O comentador começou por questionar o chefe do Governo sobre a sua perceção quanto ao estado pandémico atual, ao que o Costa respondeu com o auxílio de um gráfico - que mostra a linha de evolução dos novos casos -, para confirmar que "estamos hoje numa situação bastante mais grave do que aquela que estávamos".
Apesar disso, o primeiro-ministro garantiu que "estamos naquele momento em que conseguimos ainda ter capacidade de controlar" a situação, frisando, contudo, que a evolução pandémica "só é controlável, se a conseguirmos controlar antes de entrar no SNS".
"Não depende do SNS, depende de todos nós parar o aumento de casos" (António Costa)Sobre o exponencial aumento de casos de Covid-19, assim como de óbitos e internados, antes do que se esperava, António Costa admitiu que "ninguém previa uma segunda vaga tão cedo" e justificou com esse argumento o atraso na decisão de certas medidas, como, por exemplo, o facto de, só agora, estarem a recorrer aos funcionários públicos que estão em isolamento profilático para fazer os inquéritos epidemiológicos.
"Nós, tal como todos os outros países da Europa, não previmos que esta segunda vaga surgisse tão cedo, isso é claro. Fomos surpreendidos. Todos estavam muito preocupados com a abertura do ano letivo, felizmente correu muito bem. Sentimos que as pessoas, no seu conjunto, não reagiram tão prontamente como no passado", salientou, acrescentando que, aquilo que o Governo podia preparar, preparou.
"Aquilo que nós podíamos preparar, nós orientamos. Aumentámos o número de chamadas atendidas pela Linha de Saúde 24, o número de testes, a capacidade de internamento, o número de casos em vigilância, mas há uma coisa que não depende do Governo, depende exclusivamente do comportamento das pessoas: a transmissão da doença", asseverou, aproveitando para apelar ao "máximo de isolamento a cada um".
"Se conseguirmos controlar a situação quando ainda há capacidade de metade das camas de UCI alocadas à Covid, vamos conseguir viver sem dramas de rutura", rematou.
Primeiro-ministro reitera "confiança" na ministra da Saúde
Questionado sobre a forma como Marta Temido tem conduzido a situação da pandemia em Portugal, António Costa reiterou a confiança na ministra da Saúde, tal como já tinha feito, a semana passada, em entrevista à Antena 1 e vincou: "Até agora, o SNS, não falhou em nada".
Vacinação contra a Covid-19 "não pode ser um salve-se quem puder"
Sobre o plano da vacinação contra a Covid-19, o primeiro-ministro explicou que, na União Europeia, os países vão receber as vacinas em função da sua população e que, "ainda este mês, têm de apresentar uma estratégia nacional de vacinação", algo que, garantiu, já está a ser preparado em Portugal.
Quanto aos critérios para distribuir as vacinas pelos portugueses, António Costa esclareceu que "está a ser montada operação logística para receber e armazenar (...) Só pode correr bem, não podemos falhar nisso". "Não vai ser o salve-se quem puder", garantiu.
Governo vai anunciar novo pacote de apoio à restauração
Quanto ao impacto das medidas do novo Estado de Emergência, como o recolher obrigatório das 23h às 5h e ao fim de semana, entre as 13h e as 5h, António Costa esclareceu que o que se pretende é evitar o convívio familiar, onde o vírus tem vindo a propagar-se mais nesta segunda vaga e rejeitou a ideia de que estas tenham como objetivo prejudicar a restauração.
"Fora dos 121 concelhos estas normas não estão em vigor. Há uma obrigatoriedade de não circulação em determinadas horas do dia para evitar o convívio familiar, que é uma das principais fontes de contágio. Esses contactos não são os contactos que os agregados familiares têm entre si, mas sim com o resto da família. As pessoas em família sentem-se em segurança e não usam máscara", referiu, acrescentando que, o Governo vai anunciar, ainda esta semana, um pacote específico para apoiar as empresas da restauração pela paragem nos dois próximos fins de semana.
"Nunca negociarei nada com o Chega"
As eleições nos Açores, onde o Partido Socialista perdeu a maioria absoluta, após mais de duas décadas de governação, abrindo as portas a uma 'geringonça' à Direita, também estiveram em cima da mesa, com António Costa a falar enquanto secretário-geral do PS.
Questionado sobre como era "provar do seu próprio veneno", o primeiro-ministro sublinhou que "o que é muito preocupante não é haver uma maioria parlamentar que tem melhores condições para governar do que o PS" é sim "que o PSD tenha dado um passo que a direita democrática da Europa não tem dado, que é fazer um acordo com um partido de extrema direita xenófoba", como considera ser o Chega.
"A xenofobia põe em causa algo essencial, que é a dignidade da pessoa humana", defendeu Costa, deixando uma promessa: "Nunca negociarei nada com o Chega".
Eleição de Joe Biden é uma "boa notícia para o mundo"
A última pergunta da entrevista teve como tema as presidenciais nos EUA. Costa não tocou no nome de Donald Trump, mas admitiu, de uma forma "pouco diplomática" que espera que, com a eleição de Biden, "possa renascer a relação transatlântica".
"Quer a relação Europa-EUA, quer o facto de Biden ter dito que no primeiro dia do mandato vai regressar ao Acordo de Paris, dão um grande alento (...) São boas notícias para o mundo", reconheceu.
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