A comunicação de Marcelo Rebelo de Sousa ao país, em que foi anunciada a renovação do Estado de Emergência, foi "bastante mais clara" do que têm sido as do primeiro-ministro. A constatação é de Francisco Louçã que, no seu habitual espaço de comentário na antena da SIC Notícias, analisou a pertinência das principais medidas de combate à pandemia de Covid-19.
O Presidente Marcelo enfatizou, ao longo do discurso desta sexta-feira, que as próximas semanas e meses serão de grande pressão para as instituições de saúde. Esse cenário, aliás, é já uma realidade, considerando que, por exemplo, os hospitais de Lisboa já esgotaram 80% da capacidade.
Como vincou o comentador, "dizia-se [nas reuniões do Infarmed] que havia cerca de 820 lugares disponíveis para cuidados intensivos, mas devido à forma como estão distribuídos, a partir de 600/700 camas ocupadas já há uma pressão muito grande. É uma situação de muita gravidade e que exige enorme cuidado e isso requer que haja medidas de precaução".
O recolher obrigatório semanal, imposto a partir das 23h00, aos olhos de Francisco Louçã, "não tem grande eficácia porque a noite altera pouco o comportamento social, exceto para um pequeno setor da população e aí tem incidência efetiva". Quanto às alterações no fim de semana, nomeadamente, o recolher obrigatório entre as 13h00 e as 5h00, "está por ver se terão grande significado".
Perante o cenário, em que Portugal regista, em média, cerca de 6 mil casos diários, "o que é facto é que chegamos a este ponto com uma grande impreparação e não é só o problema da antecipação desta segunda vaga. É que a segunda vaga tinha de ocorrer e toda a gente sabia. A prepação tinha de estar pronta, fosse ela em outubro, em setembro ou nos primeiros dias de novembro e não estava".
As sucessivas medidas que têm vindo a ser implementadas têm um caráter de "urgência" e revestem-se de "sinais muito contraditórios". Por exemplo, "decidir-se que não pode haver rescisões no SNS no mesmo momento em que os hospitais estão a ser forçados a terminar alguns dos contratos de enfermeiros", assinalou.
PCP. As "consequências" de um congresso em pandemia
O Congresso do PCP, que se realizará nos dias 27, 28 e 29 de novembro, tem assumido especial destaque no cenário político nacional e Louçã pressagia que "vá ser mais intenso na próxima semana porque o Governo decidirá sobre a inibição de viagens entre os concelhos".
Ainda sobre o tema, acredita o ex-líder partidário que "há uma mensagem que é muito clara: O Governo tem toda a razão e o PCP também". A Constituição da República Portuguesa "não foi suspensa nos direitos políticos e democráticos. Houve manifestações no fim de semana passado e elas não foram contestadas do ponto de vista desse direito e a realização desse congresso partidário entra no mesmo âmbito de direitos essenciais. Portanto, não pode ser posta em causa".
Contudo, Francisco Louçã reconhece que o evento político tem importância "na vida do partido, isso é indiscutível, mas podia ter sido noutro momento e essa era uma escolha prudente porque ficará sempre a perceção de que houve uma situação de favor para os partidos políticos que só um utilizou", o PCP.
A direção do PCP "não se devia ter colocado na situação em que pode - e vai - ser acusada de ter beneficiado de uma espécie de estatuto especial de que se quis aproveitar. Isto tem consequências políticas graves".
No que ao Estado de Emergência hoje renovado diz respeito, o bloquista não está convencido de que "esta modalidade devesse ter sido aplicada agora. Mas estou convencido de que, se não se traduzir em medidas que se vejam, que se sintam, que tenham eficácia para a proteção da saúde, então é simplesmente um jogo político do qual as pessoas se vão sentir muito defraudadas e isso vai ter consequências".
Leia Também: "Não faltarão eleições" mas o tempo agora "ainda é outro"