Num quadro de pandemia de covid-19, e após ter decretado na sexta-feira novo prolongamento do estado de emergência em Portugal, o anúncio da sua recandidatura foi feito hoje, na pastelaria Versailles, em Belém, Lisboa, no mesmo espaço que funcionou como sede de campanha da sua candidatura às eleições presidenciais de 2016.
"A minha primeira palavra é para vos dizer que sou candidato à Presidência da República, porque temos uma pandemia a enfrentar, porque temos uma crise económica e social a vencer, porque temos uma oportunidade única de, além de vencer a crise, mudar para melhor Portugal", afirmou.
Há 13 dias, em 24 de novembro, o Presidente da República marcou a data das eleições presidenciais para 24 de janeiro de 2021, com uma antecedência de 61 dias.
Todos os anteriores chefes de Estado eleitos por sufrágio universal após o 25 de Abril de 1974 se candidataram a um segundo mandato e todos foram reeleitos, cumprindo cada um dez anos em funções: António Ramalho Eanes de 1976 a 1986, Mário Soares de 1986 a 1996, Jorge Sampaio de 1996 a 2006 e Aníbal Cavaco Silva de 2006 a 2016.
Nenhum outro Presidente da República anunciou a sua recandidatura a menos de dois meses das eleições nem a menos de 100 dias do fim do mandato.
Até agora, a recandidatura anunciada mais perto da data das eleições tinha sido a de Jorge Sampaio, no dia 19 de outubro de 2000, quando faltavam 87 dias para as presidenciais de 14 de janeiro de 2001, que tinha marcado 24 dias antes, e quando estava a 141 dias de terminar o mandato.
No entanto, a notícia de que se iria recandidatar já tinha saído uma semana antes, com a indicação até de quem seria o seu mandatário. Sampaio fez o anúncio no hotel Altis, em Lisboa, afirmando que era uma "decisão longamente meditada" em defesa de "um país mais justo" em tempos que antevia "mais difíceis".
Por sua vez, Aníbal Cavaco Silva anunciou a sua recandidatura ao cargo de Presidente da República no dia 26 de outubro de 2010, 89 dias antes das presidenciais de 23 de janeiro de 2011 e 30 dias depois de ter marcado a data das eleições.
"Depois de uma profunda reflexão decidi recandidatar-me à Presidência da República", disse Cavaco Silva, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. "Comigo, os portugueses sabem com o que podem contar. Continuarei a falar verdade aos portugueses, porque só a verdade é geradora de confiança. Os portugueses sabem bem distinguir aqueles que falam verdade e aqueles que semeiam ilusões e mentiras", acrescentou.
Este anúncio foi feito dois dias mais cedo do que o de Sampaio face à data das eleições presidenciais, mas Cavaco estava mais perto do fim do mandato do que o seu antecessor, a 134 dias do seu termo.
O primeiro Presidente eleito após o 25 de Abril, Ramalho Eanes anunciou a sua recandidatura no dia 04 de setembro de 1980, 94 dias antes das presidenciais de 07 de dezembro de 1980, que na altura ainda estavam por marcar. Terminaria o mandato 132 dias depois, em 14 de janeiro de 1981.
"Respondo, sem hesitação, que aceito a responsabilidade que o vosso apelo e o vosso apoio representam. Serei, em novembro, candidato à reeleição para o cargo de Presidente da República", declarou Eanes, no Palácio de Belém, após ter sido convidado a recandidatar-se por um grupo 27 personalidades que incluía o então secretário-geral do PS, Mário Soares - que mais tarde retirou o seu apoiou e se autossuspendeu da liderança em divergência com o seu partido.
Na declaração que fez nesse dia 04 de setembro de 1980, Eanes manifestou-se empenhado em impedir qualquer "desvio da ordem e da normalidade democrática" num segundo mandato e em procurar "um consenso estável e duradouro entre as forças centrais e democráticas da sociedade portuguesa".
A Constituição de 1976 estabelecia prazos especiais para as eleições presidenciais, associados à duração da primeira legislatura. Primeiro realizaram-se legislativas, no dia 05 de outubro de 1980, e só depois, no dia 17 de outubro, Eanes marcou as data do ato eleitoral para o cargo de Presidente da República.
Mário Soares foi o Presidente da República que anunciou a sua recandidatura com maior antecedência, no dia 03 de outubro de 1990, 102 dias antes das presidenciais de 13 de janeiro de 1991, 20 dias após ter marcado a data das eleições. Faltavam então 157 dias para o termo do seu primeiro mandato.
"Refleti profundamente e hesitei antes de tomar a decisão de aceitar recandidatar-me, que hoje vos anuncio", afirmou Soares, no hotel Altis, em Lisboa, numa intervenção em que se definiu como "republicano, socialista e laico" e invocou "a delicadeza do momento internacional e os seus eventuais reflexos negativos em Portugal" como um dos motivos para a sua recandidatura.