A escolha da candidata presidencial apoiada pelo BE para o primeiro dia da campanha oficial foi clara: marcar a diferença em relação ao Presidente da República recandidato ao cargo e colocar na agenda uma das suas bandeiras, a necessidade de rever a legislação.
Em tempos de pandemia, esta ação foi adaptada e das quase cinco centenas das antigas trabalhadoras da Triumph - que há três anos fizeram uma vigília, dia e noite, à porta da antiga fábrica, então declarada insolvente, para assegurar os seus direitos - Marisa Matias reuniu-se com oito daquelas que apelidou de "bravas mulheres".
Palmas à chegada da recandidata presidencial ao Museu da Cerâmica, em Loures - o concelho onde estava localizada a fábrica - que antes das declarações aos jornalistas esteve um pouco à conversa com estas mulheres.
Por força da pandemia e para cumprir as regras de distanciamento, as declarações da eurodeputada bloquista e de quatro das antigas trabalhadoras foram feitas de máscara, recorrendo a um microfone colocado no hall de entrada do museu, para evitar a aglomeração e ajuntamento dos jornalistas.
"Estou aqui hoje com estas mulheres para marcar a memória da coragem que elas tiveram, de uma das lutas mais corajosas que assistimos neste país pela dignidade de quem trabalha e pelos seus direitos. Estive aqui há três anos, fui acompanhando, estou aqui hoje pela sua coragem", disse Marisa Matias, em jeito de introdução.
Mas a dirigente bloquista também estava ali para marcar uma diferença em relação ao seu opositor Marcelo Rebelo de Sousa.
"Estou aqui também porque estou presente onde Marcelo Rebelo de Sousa esteve ausente, onde Marcelo Rebelo de Sousa coloca bloqueios para manter as leis da troika naquilo que são as condições de trabalho, eu quero entendimentos e entendimentos que nos permitam salvaguardar a dignidade do trabalho, combater a precariedade", criticou.
A última a falar foi Madalena Nunes, uma trabalhadora que tinha uma crítica direta a Marcelo Rebelo de Sousa a fazer.
"Quero dizer uma coisa acerca do nosso presidente. Eu fiquei muito triste, que eu gostava muito dele e votei nele, mas ultimamente não vou votar porque ele diz que é presidente de todos os portugueses, mas não foi o caso porque ele abandonou as pessoas que trabalhavam na Triumph", lamentou.
Já Cinda Carvalho não esqueceu a presença de Marisa Matias há três anos e hoje quis manifestar-lhe apoio na corrida presidencial e agradecer-lhe.
"Porque desde o primeiro dia que nós começamos na nossa luta, ela vinha de Bruxelas e ia diretamente ali para ao pé de nós. O Bloco de Esquerda e outros partidos também estiveram sempre junto de nós. Assim como a comunicação social", enalteceu.
Perspetiva diferente desta história que vai contar aos netos tem em relação a Marcelo Rebelo de Sousa.
"Convidamos o Presidente da República para ir um dia tomar o pequeno almoço connosco. Ele não foi, mas soubemos que ele ia a Camarate à escola e então fomos ter com ele. Ele ouviu, ouviu, mas nada fez", relatou, convicta de que se o chefe de Estado "fez alguma coisa não se notou", sendo agora altura de o fazer.
Silvina Cordeiro foi a primeira trabalhadora a falar e deixou um apelo "a quem de direito para que resolvam o último passo que há para resolver" do problema destas mulheres que é a indemnização que lhes é devida, sobretudo agora que os subsídios já terminaram e a crise pandémica dificulta o acesso a novos empregos.