"Tivemos de ir encontrar muitos votos novos e, por isso mesmo, é que valorizamos esse resultado [obtido por João Ferreira]. Naturalmente, pretendíamos mais, o João merecia mais", sublinhou Jerónimo de Sousa, advogando que houve "muitos democratas e patriotas" que encontraram "um ponto de convergência" na candidatura apresentada por João Ferreira a Belém.
O dirigente comunista respondia a questões dos jornalistas ladeado pelo candidato apoiado pelo PCP e pelo PEV, depois de conhecidos os resultados das presidenciais que culminaram na reeleição do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Interpelado sobre como olha para o 'recuo' dos comunistas na região do Alentejo, em particular em detrimento do candidato de extrema-direita, André Ventura, Jerónimo recusou associar a este fenómeno o presidente e deputado único do Chega, mas apontou a Marcelo -- cuja candidatura foi apoiada por PSD e CDS-PP.
"Estamos a falar de uma região profundamente fustigada por processos de desertificação, naturalmente, com uma população também idosa. No fundo, é a Geração de Abril que, com uma história heroica, neste momento com idades avançadas, num quadro de pandemia, num quadro de medo e de insegurança, num quadro até de possível transferência de votos, tendo em conta a dramatização que foi encontrada pelo Presidente da República, como candidato" relativamente à "ideia de uma segunda volta", criticou o também antigo candidato à Presidência da República, em 2006.
Jerónimo deixou também uma advertência para o Governo, que recebeu do PCP a 'luz verde' sob a forma da abstenção no Orçamento do Estado para 2021.
"O Governo bem precisa de continuar a concretizar, porque se não o fizer, então sim, começam a surgir vozes que levem à sua própria demissão, à sua substituição. E, portanto, podemos acusar o senhor Ventura ou outro senhor liberal daquilo que dizem, daquele estilo próprio, mas é a não resolução dos problemas económicos e sociais do nosso país que pode determinar a dimensão e o futuro do atual Governo e de outros que possam vir", sustentou.
Questionado também sobre se o 'pupilo' João Ferreira 'passou no teste' nestas eleições para suceder a Jerónimo na liderança do PCP, o secretário-geral do partido descartou, para já, que essa hipótese esteja a ser equacionada.
Contudo, "as razões de saúde podem levar a outro desfecho", considerou, refutando imediatamente que, de momento, nada aponta nesse sentido.
"Posso garantir que estão criadas as condições para eu continuar com a responsabilidade que o meu partido me entendeu atribuir (...). Sou comunista e comunista serei independentemente da responsabilidade", finalizou.