Num artigo de opinião publicado hoje no jornal 'online' Observador, o centrista alertou que "o CDS tem um problema de sobrevivência" e não tem "muito tempo para resolvê-lo", alegando que "não se trata de uma opinião singular mas de um juízo consensual: não há ninguém que pense" que as coisas "estão a correr bem".
Apesar de considerar que a direção liderada por Francisco Rodrigues dos Santos, eleita há um ano, "tem total legitimidade para continuar em funções, tendo ganho um congresso", o antigo dirigente criticou que "diariamente se confirma que a atual direção do CDS não foi capaz de liderar esse projeto e essa estratégia, independentemente das boas intenções".
E alertou que, "quando o seu mandato terminar, será demasiado tarde para reagir, com os partidos emergentes a consolidar-se cheios de entusiasmo e o CDS a decair projetando uma imagem de erosão".
"A crise de sobrevivência que o CDS hoje atravessa não conseguirá ser resolvida com esta direção", defendeu, advertindo que "daqui a um ano será tarde demais".
Assim, Adolfo Mesquita Nunes propôs à direção do CDS-PP que convoque "um Conselho Nacional urgente que discuta se deve devolver a palavra aos militantes através de um congresso eletivo, se necessário em formato digital, como há dias a Democracia Cristã alemã organizou".
"Em poucas semanas será possível fazer esse congresso, se o Conselho Nacional [o órgão máximo entre congressos] reunir já e assim o deliberar", refere, salientando que se esta mudança acontecer o mais rapidamente possível, ainda será possível ir "a tempo das autárquicas" e "a tempo de projetar um nova força".
O antigo vice-presidente do CDS-PP justificou também que o resultado das eleições presidenciais de domingo confirmou "a consolidação dos novos partidos à direita", e mostrou "a velocidade da erosão do CDS: um partido que não marca a agenda, que não se antecipa, que não passa a mensagem, que não se afirma como alternativa, que não é ouvido nem tido em conta, que parece conformado em caminhar para a irrelevância".
"Portanto, o CDS tem de tomar uma decisão: quer mudar de caminho enquanto é tempo, e portanto mudar de direção; ou quer seguir o caminho até aqui, mantendo tudo como está? As duas opções são legítimas. Mas quem preferir tardar um ano estará a dizer aos portugueses que o CDS não atravessa problema de maior, que o risco não é gravíssimo, que estamos num caminho aceitável, que esta vertigem para a irrelevância é um invenção ou uma ilusão", frisou o democrata-cristão.
Na sua ótica, "o CDS tem de aparecer com nova força, com protagonistas a quem o país reconhece competência e ambição, com capacidade de liderança e agregação, ou corre o risco de confirmar o que muitos já dão por adquirido", "a irrelevância" do partido.
Apontando que o CDS tem "muito pouco tempo", Mesquita Nunes assinalou que este "apelo de mudança" é "um dever de consciência".
"E é um apelo à consciência independente de cada um, de cada militante, sem fações, sem tribos, sem segmentos, sem revanchismo, sem tendências -- de olhos postos no futuro, aberto a todos os que podem contribuir para dar uma nova força ao CDS neste derradeiro momento e que sentem, na consciência da sua militância, que precisamos mesmo de mudar", apontou.
No último congresso, que decorreu nos dias 25 e 26 de janeiro do ano passado, o CDS-PP elegeu Francisco Rodrigues dos Santos como presidente, para um mandato de dois anos.
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