Os representantes dos reitores das universidades e dos presidentes dos politécnicos estiveram hoje a ser ouvidos pela comissão parlamentar da Educação, Ciência, Juventude e Desporto, a pedido do CDS-PP, que se mostrou particularmente apreensivo com as consequências do atraso na retoma das atividades presenciais, suspensas desde o final de janeiro devido à pandemia da covid-19.
Na abertura da audição, a deputada Ana Rita Bessa, do partido requerente, começou por sublinhar que o ensino a distância, à semelhança do que acontece nos outros níveis de ensino, também não é para o superior o regime desejável.
Referindo-se, concretamente, à qualidade da formação, a deputada centrista quis saber o que é que as instituições estão a fazer para "dar substância e validade aos cursos.
A mesma questão foi também levantada à esquerda, com a deputada do PCP a referir os estágios curriculares e o deputado bloquista Luís Monteiro a questionar como é que as empresas vão olhar para os certificados de alunos "que tiveram mais de metade do seu percurso académico 'online'".
"Há algumas deficiências e devo confessar que alimentei a esperança de que agora, com o aliviar do confinamento, [as atividades práticas] fossem, de alguma forma, permitidas antes de 19 de abril", admitiu o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP).
António de Sousa Pereira já tinha admitido que o atraso na retoma das atividades poderia comprometer a qualidade da formação, em particular dos cursos com maior componente prática que tinham agora essa componente suspensa.
Por isso, tanto os reitores como os presidentes dos politécnicos esperavam poder reabrir portas ainda antes da interrupção letiva da Páscoa, mas o plano do Governo aponta o dia 19 de abril para esse regresso.
"Aquilo que vamos fazer é, a partir de 19 de abril, aproveitar ao máximo os tempos disponíveis para fazer com que os estudantes adquiram essas competências", disse o presidente do CRUP, admitindo que, em alguns casos, poderá ser necessário adiar o final do ano letivo.
Também nos politécnicos já está a ser feito esse planeamento e, segundo a vice-presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), Maria José Fernandes, as instituições estão a repensar os horários para concentrar esforços nas aulas práticas a partir dessa altura.
Relativamente aos estágios, Maria José Fernandes assegurou que não têm sido particularmente afetados e estão a decorrer, considerando até que, comparativamente ao ano passado, as empresas têm manifestado uma maior disponibilidade para receber alunos.
Por outro lado, o CDS-PP e o PCP também se manifestaram preocupados com as consequências do ensino a distância no abandono escolar, mas os representantes das instituições desvalorizando.
Utilizando como indicador o recurso aos instrumentos de apoio extraordinário criados pelo Governo e pelas próprias instituições, o presidente do CRUP disse que não tem havido uma elevada procura por parte dos estudantes.
O também reitor da Universidade do Porto referiu o caso que melhor conhece para ilustrar isso mesmo, dando como exemplo o fundo de emergência criado, que até agora não foi esgotado.
"Neste momento, mantemos as candidaturas abertas para que estudantes com necessidades agudas possam concorrer, e estamos disponíveis para reforçar a verba se tal se vier a mostrar necessário, o que não aconteceu até agora", disse.
Já o presidente do CCISP, Pedro Dominguinhos, admitiu que a questão da ação social continua a preocupar os politécnicos, acrescentado, por outro lado, que a quebra de receitas associada ao reforço dessa componente também tem de ser acautelado.
Foi precisamente esse um dos temas a que o PSD quis dar maior atenção durante a audição, o do reforço orçamental, com a deputada Isabel Lopes a considerar que "se o subfinanciamento das instituições já se verificava antes da pandemia, hoje é ainda mais visível".
O deputado socialista Tiago Estevão Martins, por outro lado, sublinhou a "capacidade de resiliência do sistema do ensino superior".
Leia Também: AO MINUTO: Recuperamos de pausa na vacinação "em cinco ou seis dias"