Esta posição foi assumida pelo cientista e professor universitário na sessão solene comemorativa do 47.º aniversário 25 de Abril no parlamento, num discurso em que alertou para "a fragilização das democracias", fenómeno que disse estar a crescer.
"O populismo e a demagogia, fortissimamente financiados, ganham força de forma insidiosa. E os Estados Unidos da América escaparam por pouco", observou, numa alusão à turbulenta transição de poder de Donald Trump para Joe Biden na presidência deste país.
Alexandre Quintanilha sustentou que os desafios do presente "são imensos, são globais, complexos e interdependentes" e "exigem uma sólida união de esforços e de recursos".
"Ou nos ajudamos mutuamente ou naufragamos todos juntos. É essa também a lição da pandemia. A emergência climática, as desigualdades obscenas, as novas e antigas doenças, a insegurança laboral, a transição demográfica e os conflitos armados não podiam ser mais evidentes", declarou.
O deputado independente do PS apontou em seguida que se prevê que dois terços das futuras doenças infecciosas sejam transmitidas dos animais ao homem.
"A escravatura atual é diferente e deixou de ser encapotada. As previsões apontam para alterações demográficas profundas com impactos desconhecidos na organização das sociedades. Precisamos de conhecimento, muito mais conhecimento, muito mais partilhado, e em todos os domínios. O digital vai ajudar, mas não chega", assinalou.
No plano estritamente político, Alexandre Quintanilha frisou que "a multiplicidade e diversidade de visões enriquece o debate democrático" e que "a nobreza da política está precisamente na defesa intransigente da confrontação de ideias".
"Mas também em conseguir agregar esforços para construir o tal mundo sustentável que todos desejamos. Sempre inspirada na empatia e na solidariedade, e guiada pelo conhecimento e pela coragem. Sim, essa coragem destemida que nos permite renascer todos os dias", afirmou.
Na sua intervenção, o deputado do PS começou por observar que, na sessão solene do 25 de Abril de 2020, já em pandemia de covid-19, "era impossível prever o ano difícil que se iria viver".
"A incerteza com que ainda nos confrontamos afeta-nos profundamente. São muitas as imagens de sofrimento que jamais esqueceremos. Mas hoje percebemos que as metáforas da mola e da luz ao fim do túnel não foram em vão. O crescente ritmo das vacinações e a progressiva responsabilização cidadã são reconfortantes", considerou.
A seguir, o cientista e professor universitário evocou a "determinação e ousadia daqueles que tornaram possível a conquista da liberdade e da autoestima dessa esmagadora maioria dos que sofriam a opressão dum regime baseado na perseguição, no medo e na falsidade".
"Foi exatamente há 150 anos, que em referência à data fatídica de 1545, Antero [de Quental] nos convoca para renascermos - cito - da morte moral que não invadira só o sentimento, a imaginação, o gosto: invadira sobretudo a inteligência dos povos peninsulares", referiu, numa alusão à inquisição.
De acordo com Alexandre Quintanilha, "esse renascer da esperança aconteceu no 25 de abril".
"Foram mais de quatro séculos de espera. E foi enorme esse momento", acentuou.
O deputado do PS salientou que os portugueses ganharam então "liberdade política".
"A desigualdade, exposta nas Novas Cartas Portuguesas, ainda não foi completamente eliminada, mas ninguém desistiu. Somos agora milhões a exigir a igualdade e a estendê-la à exuberante multiplicidade de identidades emergentes", acrescentou.
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