No tão aguardado discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, no dia 25 de Abril, o Presidente da República começou por recordar o passado colonial de Portugal e pediu que se olhe para a História sem temores nem complexos, sem alimentar campanhas e combatendo intolerâncias.
Marcelo começou “por revisitar a história” para lembrar que existe hoje “uma missão ingrata que é a de julgar o passado com o olhar de hoje, sem exigir aos que viveram esse passado, que pudessem antecipar valores com o seu conhecimento que são agora tidos por evidentes, intemporais e universais".
Na sessão solene comemorativa do 47.º aniversário do 25 de Abril, Marcelo Rebelo de Sousa pediu que se faça "história da História" e que se "retire lições de uma e de outra, sem temores nem complexos, com a natural diversidade de juízos própria da democracia".
Marcelo quis lembrar os tempos de colonização para chegar à conclusão de que o “desenvolvimento, liberdade e democracia”, tudo aquilo que hoje se celebra, “sempre foram imperfeitos e, por isso, não plenos", lembrando que nunca foram resolvidos os problemas da "pobreza estrutural de 2 milhões de portugueses e desigualdade pessoais e territoriais", por exemplo. Tudo isso “a pandemia veio revelar e acentuar”. Contudo, defende, a mudança “foi complexa”, tal como foi a conquista dos Capitães de Abril, em 1974.
"Esses Capitães de Abril não vieram de outras galáxias nem de outras nações. Nem surgiram num ápice naquela madrugada para fazerem história", recordou, referindo "que os heróis daquela madrugada" questionaram-se durante anos, enquanto membros das forças armadas, "se deveriam cumprir ou questionar".
Nessa senda, deixou uma palavra especial "àquele que depois de ter estado no terreno, e veio a ser peça chave na mudança de regime e primeiro Presidente da República eleito pela democracia portuguesa, e que sempre recusou o marechalato que merece, o presidente António Ramalho Eanes".
Marcelo Rebelo de Sousa prosseguiu considerando que as suas reflexões "são atuais porque não há nada como o 25 de Abril para repensar o nosso passado, quando o nosso presente ainda é tao duro e nosso futuro tão urgente e porque a cada passo pode haver a tentação de repensar o passado em argumento da mera movimentação tática ou estratégica, num tempo que ainda é e será de crise na vida e na saúde". Assim, pediu que se encare com "lúcida serenidade o que pode agitar o confronto politico, mas não o que corresponde ao que é prioritário aos portugueses".
O chefe de Estado referiu que os que fizeram o 25 de Abril de 1974 "souberam superar muitas das suas divisões durante a revolução e depois dela" e que "nações irmãs na língua" de Portugal "têm sabido julgar um percurso comum olhando para o futuro, ultrapassando séculos de dominação política, económica, social, cultural e humana".
"Que os anos que faltam até ao meio século do 25 de Abril sirvam a todos nós para trilharmos um tal caminho, como a maioria dos portugueses o tem feito nas décadas volvidas, fazendo de cada dia um passo mais as glórias que nos honram e os fracassos pelos quais nos responsabilizamos, e bem assim no construir hoje coesões e inclusões e no combater hoje intolerâncias pessoais ou sociais", apelou.
"Nunca houve, nem haverá um Portugal perfeito, como não há, nunca houve, um Portugal condenado. Houve, há e haverá sempre é um só Portugal , um Portugal que amamos e do qual nos orgulhamos, para além dos seus claros e escuros, também porque é nosso, porque nós somos esse Portugal. Viva o 25 de Abril, Viva Portugal", culminou.
O discurso de Marcelo foi aplaudido por todos os presentes, à exceção do deputado do Chega, André Ventura.
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