"Em relação ao plano de recuperação, ele está longe de estar dirigido à solução dos agravados problemas económicos e sociais do país e aquém na resposta aos seus défices estruturais, designadamente a uma política de substituição de importações por produção nacional", argumentou Jerónimo de Sousa.
"E no que ao Programa de Estabilidade diz respeito, mantém as opções e orientações da política que fragilizou ao longo dos anos o nosso país, o regresso acelerado à política da ditadura do défice, pondo em causa também a necessária recuperação económica e mantendo as mesmas restrições que têm impedido a contratação de milhares de trabalhadores em falta e o justo aumento dos salários na Administração Pública Central e Local", acrescentou.
O líder comunista falava na Sessão Pública `Valorizar os salários, defender o emprego´, realizada hoje em Setúbal, em que ouviu sindicalistas de diversos setores de atividade denunciarem o aumento do desemprego e da precariedade laboral na Península de Setúbal.
Segundo Jerónimo de Sousa, a iniciativa do PCP ocorre "num momento em que os trabalhadores sentem com particular intensidade a enorme pressão que o capital, a pretexto da situação epidemiológica e com a conivência do Governo, vem exercendo sobre o emprego, os direitos e salários para levarem ainda mais longe a exploração dos trabalhadores e o saque dos recursos públicos".
Para o líder comunista, Portugal, que já tinha "sérios problemas económicos e sociais decorrentes de anos de política de direita de governos de PS, PSD e CDS que fragilizaram o país", enfrenta agora uma "crescente precarização das relações laborais" e "elevados níveis de desemprego".
"Enfrentamos agora esses problemas de forma agravada, como o demonstram claramente o uso e abuso do lay-off por parte de grandes empresas e multinacionais com muitas dezenas de milhões de euros de lucro, como a Autoeuropa, a Visteon, a Delphi ou a TST, que afetou mais de 9 mil trabalhadores na Península de Setúbal", disse.
Ao mesmo tempo que denunciava o agravamento das condições de vida dos trabalhadores, Jerónimo de Sousa lembrou que as "contas nacionais já divulgadas, relativas a 2020, dizem-nos que os acionistas e famílias do conjunto das empresas receberam 7,4 mil milhões de euros de dividendos, mais 332 milhões do que em 2019".
"E no que se conhece das contas já divulgadas de 13 grupos económicos do chamado PSI-20 a operar no País, os seus lucros rondam os dois mil duzentos e sessenta milhões de euros, os quais na sua quase totalidade foram parar ao bolso dos seus acionistas, que arrecadaram mil novecentos e trinta e oito milhões, cerca de 85% dos lucros", acrescentou.
Depois de descrever um quadro de agravamento das desigualdades, Jerónimo de Sousa defendeu a necessidade de um "aumento dos salários de todos os trabalhadores, incluindo o aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN), que no curto prazo devia atingir os 850 euros, e dos salários dos trabalhadores da Administração Pública".
"Portugal precisa de pôr em marcha um verdadeiro programa de desenvolvimento do País e romper com um rumo que tem desprezado as atividades produtivas e aprofundado a dependência externa", disse Jerónimo de Sousa, defendendo que "é tempo de pôr Portugal a produzir nos mais diversos domínios, o que exige não esquecer a valorização e defesa da base industrial existente, nomeadamente a indústria transformadora".
"Portugal precisa de soluções para garantir o pleno emprego. Soluções para reduzir as acentuadas desigualdades e injustiças sociais. Precisa de uma outra política, uma política alternativa patriótica e de esquerda, capaz de assegurar o desenvolvimento económico e o progresso social", sublinhou o líder comunista.
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