Elisa Ferreira, o rosto português na Comissão Europeia, destacou, na Grande Entrevista na antena da RTP3, esta quarta-feira, o nível de pobreza crescente que afeta os Estados-membros na sequência da pandemia de Covid-19. E, apesar da bazuca ainda não ter chegado, "os dinheiros estão a fluir", garantiu.
O efeito devastador da pandemia potenciou "uma crise brutal", começou por destacar a comissária para a Coesão e Reformas da Comissão Europeia. Esta é, aliás, "a maior crise que houve na história do mundo e na história europeia desde a II Guerra. Quando vamos ver os indicadores da economia e de desemprego, tínhamos expectativas ainda piores do que as que estão a acontecer".
Apesar de os indicadores da economia apontarem para um cenário 'negro', alguns "danos" têm sido "minorados" e a ex-eurodeputada socialista atribuiu essa conquista às "políticas de emergência que a própria Comissão Europeia fez", juntamente com os Estados-membros.
Mais de um ano depois de a pandemia ter chegado à Europa, "estamos num período onde não sabemos como as coisas vão evoluir, para ser franca". Em termos de pobreza, "há já indicadores assustadores porque, por muito que os apoios tenham funcionado, a pobreza aumentou e vai continuar a aumentar".
Por isso, sustentou, "faz todo o sentido que haja um conjunto de iniciativas que protegem o cidadão. Vamos tentar que a estas medidas de emergência se associem medidas de relançamento efetivo da economia".
Questionada se os Estados-membros foram afetados de forma distinta pela crise, a antiga ministra do Ambiente defendeu que, naturalmente, "quanto mais frágil é uma economia, mais facilmente ela quebra numa situação de crise. Isso é óbvio".
Porém, nem "todos os setores sofreram com a pandemia. Os que mais sofreram foram aqueles que dependem da proximidade física e da circulação das pessoas, como a indústria e o turismo. Alguns países foram brutalmente afetados. Noutras, que dependem mais do setor dos serviços e que podem ser feitos de forma digital, há empresas que cresceram e estão a distribuir lucros".
Portugal foi o primeiro Estado-Membro a entregar a Bruxelas o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), mas há prazos para cumprir até que as verbas sejam libertadas. Confrontada com a burocracia da União Europeia, que atrasa o desbloqueio de verbas, a também antiga ministra do Planeamento defendeu que a "Europa não é um estado federal".
"Não é verdade que estejamos todos à espera da bazuca e que não haja fundos a atuar. Do envelope financeiro [Quadro Financeiro Plurianual 2014 – 2020], que é brutal, ainda estão por gastar, no caso de Portugal, 3 mil milhões de euros. O Estado português achou que podia reprogramar esses montantes e mil milhões de euros foram reprogramados para comprar máscaras, apoiar as PME, etc".
Para além desse pacote financeiro, Elisa Ferreira destacou ainda o programa 'REACT-EU'. "Não estamos sem fundos. O dinheiro está a chegar, houve uma antecipação para lhes [aos países] dar liquidez. Os dinheiros estão a fluir para os Estados-membros e também para Portugal. E Portugal, muito do que está a fazer, está a ser financiado e co-financiado".
Quanto ao Fundo de Recuperação de 750 mil milhões de euros, a ex-vice-governadora do Banco de Portugal lembrou que a Comissão Europeia teve de se endividar, de ir aos mercados. "Pediu-se autorização aos Estados-Membros para permitir à UE endividar-se em 750 mil milhões de euros".
Esta é uma dívida "estável, de longo prazo", que será "paga de 2028 até 2058". E a União Europeia, pelo seu rating, "vai conseguir as melhores condições por si" e evita que "cada Estado vá isoladamente ao mercado e fique sujeito ao julgamento dos investidores sobre a sua viabilidade. Irmos todos juntos foi um enorme salto em termos da construção histórica europeia".
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