A apresentação aos deputados do documento será feita pelos coordenadores científicos do Livro Verde, Teresa Coelho Moreira e Guilherme Dray, seguindo-se as intervenções dos parceiros sociais e do Governo que vão depois responder às questões dos grupos parlamentares.
O Livro Verde, que foi apresentado pelo Governo na Concertação Social no final de março, servirá de base para a regulamentação de matérias laborais, como o trabalho à distância e o teletrabalho ou o trabalho nas plataformas digitais.
Os autores defendem que as situações em que o trabalhador pode optar pelo teletrabalho, independentemente de acordo com o empregador, devem ser alargadas, mantendo-se como princípio basilar o acordo entre empregador e trabalhador.
Esta medida deve ter em conta, nomeadamente, situações "no âmbito da promoção da conciliação entre trabalho e vida pessoal e familiar" e "em caso de trabalhador com deficiência ou incapacidade", pode ler-se no documento.
Deve ainda ficar assegurado, segundo o Livro Verde, que "não existe acréscimo de custos para os trabalhadores" em teletrabalho, uma questão que está a ser também debatida no parlamento, com várias propostas já entregues pelos partidos.
No Livro Verde é ainda proposto uma aposta "em modelos híbridos de trabalho presencial e à distância numa ótica de equilíbrio na promoção das oportunidades e mitigação dos riscos desta modalidade".
É também defendido "efetivar e regular o direito à desconexão ou desligamento profissional para os teletrabalhadores", bem como "implementar instrumentos que garantam que o teletrabalho não penaliza especialmente as mulheres e que não agrava assimetrias na divisão do trabalho não pago, nem compromete a igualdade de género no mercado de trabalho".
O regime de teletrabalho deve ser aplicado à Administração Pública, devendo ser utilizado o seu potencial para a "fixação de postos de trabalho fora dos grandes centros urbanos, nomeadamente em regiões de menor densidade populacional", referem os autores.
Quanto à regulação do trabalho em plataformas digitais, como a Uber ou a Glovo, os autores propõem que seja criada "uma presunção de laboralidade para estes trabalhadores" e também "um sistema contributivo e fiscal adaptado a esta nova realidade".
"Adequar o sistema de Segurança Social às novas formas de prestar trabalho" é outra das principais linhas de reflexão previstas no Livro Verde.
Os autores sublinham que o facto de "o prestador de serviço utilizar instrumentos de trabalho próprios, bem como o facto de estar dispensado de cumprir deveres de assiduidade, pontualidade e não concorrência, não é incompatível com a existência de uma relação de trabalho dependente entre o prestador e a plataforma digital".
No âmbito da inspeção, importa "melhorar o regime jurídico no que respeita aos instrumentos que a Inspeção do Trabalho possa utilizar, em diferentes vertentes, particularmente no âmbito das 'novas' formas de trabalho, como o teletrabalho ou o trabalho em plataformas".
O documento sublinha que é também necessário alargar a cobertura da negociação coletiva a novas categorias de trabalhadores, incluindo os trabalhadores em regime de 'outsourcing' e aos trabalhadores independentes economicamente dependentes.
"Posicionar Portugal como um país de excelência para atrair nómadas digitais" é outra das propostas do Livro Verde, que sugere a criação de "um enquadramento fiscal e um sistema de acesso à proteção social específico para melhor integração" destes trabalhadores.
A apresentação de uma versão do documento para consulta pública e para discussão em Concertação Social estava inicialmente prevista para novembro de 2020.
Leia Também: UGT diz que Livro Verde se afasta da realidade laboral portuguesa