Catarina Martins condena ausência de luto nacional por "um libertador"
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, lamentou hoje que o Governo não tenha decretado luto nacional pela morte do militar de Abril Otelo Saraiva de Carvalho, "um libertador" do país.
© Presidência da República
Política Otelo Saraiva de Carvalho
"Otelo Saraiva de Carvalho foi um dos obreiros do 25 de Abril, foi o estratega da operação militar que permitiu o 25 de Abril, que pôs fim ao Estado Novo, pôs fim à guerra, pôs fim ao colonialismo e abriu a porta da esperança da democracia, da liberdade em Portugal. Hoje Portugal está de luto, lamentavelmente o Governo e o Presidente da República não o entenderam, mas Portugal está de luto porque como muito bem disse [o ex-Presidente da República] Ramalho Eanes a pátria deve-lhe a liberdade, a democracia e isso ninguém pode recusar ou negar", afirmou Catarina Martins.
A líder do BE falava aos jornalistas pouco antes de entrar na capela da Academia Militar, em Lisboa, onde esta tarde decorre o velório de Otelo Saraiva de Carvalho, que morreu no domingo.
"O facto é que o país está de luto porque perdeu um libertador, um dos homens que nos trouxe a liberdade e a democracia e digam o que disserem o Governo, o Presidente da República, isso ninguém pode negar e por isso Portugal está de luto porque esta é seguramente uma pátria que reconhece o valor daqueles que permitem a liberdade e a democracia", acrescentou, sem ter respondido a mais perguntas dos jornalistas.
Catarina Martins, acompanhada pelo fundador do BE Luís Fazenda, uma das centenas de pessoas que esta tarde já passaram pelo velório de Otelo Saraiva de Carvalho.
Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, estiveram já na capela da Academia Militar.
Esteve igualmente no velório o deputado do PS Sérgio Sousa Pinto.
Nascido em 31 de agosto de 1936 em Lourenço Marques, atual Maputo, Moçambique, Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho teve uma carreira militar desde os anos 1960, fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, onde se cruzou com o general António de Spínola, até ao pós-25 de Abril de 1974.
No Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, foi ele o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como estratego do 25 de Abril.
Depois do 25 de Abril, foi comandante do COPCON, o Comando Operacional do Continente, durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), surgindo associado à chamada esquerda militar, mais radical, e foi candidato presidencial em 1976.
Na década de 1980, o seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril (FP-25 de Abril), organização armada responsável por dezenas de atentados e 14 mortos, tendo sido condenado, em 1986, a 15 anos de prisão por associação terrorista. Em 1991, recebeu um indulto, tendo sido amnistiado cinco anos depois, uma decisão que levantou muita polémica na altura.
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