Seis contra Medina num debate (aceso) na luta por Lisboa
Fernando Medina (PS), Manuela Gonzaga (PAN), Bruno Horta Soares (Iniciativa Liberal), Carlos Moedas (PSD), João Ferreira (CDU), Beatriz Gomes Dias (BE) e Nuno Graciano (Chega) 'digladiaram-se' num debate rumo às autárquicas.
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Política Autárquicas
Fernando Medina (PS), Manuela Gonzaga (PAN), Bruno Horta Soares (Iniciativa Liberal), Carlos Moedas (PSD), João Ferreira (CDU), Beatriz Gomes Dias (BE) e Nuno Graciano (Chega) são os candidatos à Câmara de Lisboa que protagonizaram o debate da noite desta quinta-feira, na antena da SIC, no âmbito das eleições autárquicas.
O frente a frente, que teve lugar na Praça do Município, começou por se debruçar sobre o caso do envio de dados pessoais às embaixadas, com Fernando Medina a arrancar com uma 'chuva' de críticas por parte dos concorrentes.
O ambiente 'aqueceu' quando a palavra passou para Nuno Graciano, o candidato do Chega a Lisboa, que mostrou ao atual líder do executivo camarário a capa do jornal Correio da Manhã e lhe leu um documento sobre a mesquita no Martim Moniz, onde diz haver "o perigo do islão radical".
Ora, Fernando Medina contra-atacou, alegando que preferia "não dar palco" ao Chega e defendendo que a intervenção de Graciano tinha sido "uma belíssima síntese do que é a sua participação no Chega".
Manuela Gonzaga também apontou farpas a Graciano, uma vez que não gostou de ouvir o candidato do Chega a classificar os restantes candidatos como "carreiristas da política".
O debate prosseguiu em tom mais morno, mas com pesadas críticas a Medina no dossiê habitação acessível. Perante o coro de críticas, o autarca assumiu que o ritmo do seu programa de habitação não foi o melhor, mas continuou a defender a sua eficácia.
Já quando o tema 'em cima da mesa' é o aeroporto de Lisboa, as opiniões dividem-se. O candidato da coligação PS/Livre à presidência da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, admitiu a extinção do aeroporto Humberto Delgado, solução com a qual o seu principal adversário, Carlos Moedas, não concorda.
Fique com os principais destaques:
Envio de dados pessoais às embaixadas
Fernando Medina: "Não houve qualquer problema com a lei da manifestação em 40 anos, neste caso houve, o que nos levou a tomar as medidas de reorganização que se impunham para assegurar que não voltaria a acontecer. Em todas as grande organizações há problemas. Nunca escondemos o problema, assumi-o na primeira hora, realizámos uma auditoria em tempo recorde e tirámos uma conclusão. Chegámos à conclusão que não era um caso isolado e tomámos medidas para corrigir".
Carlos Moedas: "O que disse [na altura sobre o caso] é que foi uma situação gravíssima. Em qualquer Câmara Municipal na Europa, o presidente tinha-se demitido. Enviar dados que são a dignidade da pessoa humana para um país estrangeiro é gravíssimo. Não me parece normal que aconteça num país como Portugal. Os políticos têm que assumir exatamente o erro político, e Fernando Medina não assumiu. Dever-se-ia ter demitido ele e não um técnico".
Qual a estratégia do Chega para ter sucesso?
Nuno Graciano: "Sou um homem fora deste esquema político. Sou um cidadão comum e como tal vim à procura de algumas respostas dos carreiristas políticos. O que me moveu foi um convite, estou a começar agora. Visitei Lisboa e esta é uma cidade cheia de problemas. [Seguirá as orientações do vice-presidente?] Ele tem a opinião dele, eu tenho a minha e o candidato sou eu. Posso seguir orientações mas não vou perder a minha identidade. Tenho-me deparado com indícios de corrupção que existem na Câmara que são gravíssimos [mostra a capa do Correio da Manhã e lê documento sobre a mesquita no Martim Moniz onde há o perigo do islão radical]".
Fernando Medina: "Não lhe quero dar particular importância [a Nuno Graciano] porque não há eleição autárquica em que essas questões não se coloquem e também não quero dar palco ao Chega que faz das insinuações a sua vida pública. Nuno Graciano fez uma belíssima síntese do que é a sua participação no Chega. Não merece mais nenhum comentário".
Nuno Graciano: "Na verdade não houve uma resposta. São estas as respostas que a população não tem. Não existem. O que Fernando Medina acabou de fazer foi escusar-se a responder ao que são factos".
Manuela Gonzaga: "O Nuno Graciano começou por nos abranger a todos como se fôssemos carreiristas. Eu devo dizer que a minha vida pública tem sido basicamente noutros setores e considero a política uma atividade digníssima. [Nuno Graciano tenta falar e Manuela Gonzaga atira: "Não me interrompa"]. Não aceito o termo carreirista".
Rendas acessíveis
Fernando Medina: "A questão da habitação acessível é a mais importante da cidade de Lisboa. É por isso que o programa que iniciámos e desenvolvemos, e que teve amplo apoio em particular do BE e PCP, é da maior importância porque define que as rendas destas casas são no máximo 30% do salário líquido. Estamos a construir e a reabilitar essas casas. Há 1.200 famílias que terão até ao final do ano casa atribuída. Não vou poder prometer uma construção fora de regras e que as coisas aconteçam por magia. Pela minha vontade, eu assinava um papel e as casas apareciam".
Carlos Moedas: "O ponto aqui é olhar para o problema e perceber o que correu mal. O programa de renda acessível falhou, o urbanismo está estagnado e depois temos os bairros municipais que são vergonhosos. Temos de mudar a maneira como gerimos esses bairros. Há 1.600 fogos [de habitação] que estão vazios. A solução é mudar a empresa [que os gere] e depois adequar a casa à família. A solução da renda acessível tem de ser o privado e o público".
João Ferreira: "Em Lisboa, na habitação, temos de admitir os três regimes de propriedade e temos de encarar a possibilidade de reforçar a propriedade pública e a cooperativa. Não é, como propõe Carlos Moedas, isentando as pessoas de pagar o IMT que vamos conseguir. O que foi feito nos últimos anos? O acordo entre BE e PS previa 25 mil pessoas novas a terem acesso a habitação acessível. Em termos gerais, este compromisso resultou num rotundo fracasso".
Beatriz Gomes Dias: "O acordo que o Bloco de Esquerda assinou com o PS em 2017 permitiu que fosse integrada a proposta de um programa de renda acessível 100% pública. E insistimos sempre que este devia ser 100% público. O PS, com apoio de outros partidos, insistiu num pilar privado. O PCP viabilizou essa medida. O BE votou sempre contra esta operação público-privada".
Horta Soares: "O público não é uma solução ótima. Quando Fernando Medina gastou 60 milhões para reabilitar 250 imóveis no centro da cidade para ajudar a classe média estava a fazer propaganda política. Na pandemia, os sem-abrigo foram enfiados num gimnodesportivo no Casal Vistoso. É uma ilusão. A solução é que empobrecemos as pessoas e depois dizemos que lhes vamos dar coisas grátis. Isto não é um circulo vicioso".
Nuno Graciano: "Fernando Medina prometeu uma quantidade de imóveis que não entregou, recorrendo a uma justificação do Tribunal de Contas. Prometeu 6 mil casas e fez 400 e tal [Medina corrige: 1.203]".
Fernando Medina: "Ficou aquém, ficou. Mas não aconteceu nada neste mandato, pois não?".
Nuno Graciano: “Porque é que diz números que não cumpre? Nós preferimos não ter números e ir aferindo e percebendo aquilo que temos ou não capacidade para fazer para ser exequível. Está há seis anos como presidente da Câmara, como é que não cumpre? Como é que vive com isso?".
[Graciano pergunta se Medina não quer responder. Medina questiona qual a pergunta. Graciano ataca: "Falta de respeito"]
Fernando Medina: “Qualquer pessoa percebe que nós, num programa inovador, tivemos obstáculos no Tribunal de Contas. Nuno Graciano, não sei em que planeta andou nos últimos anos, mas houve uma pandemia. O que temos em procedimento são oito mil fogos. Não estarão prontos no próximo mandato, mas vão avançar. A única crítica que me conseguem fazer é dizer que o ritmo não foi suficientemente rápido. É verdade, mas tenho a certeza que o programa funciona".
Manuela Gonzaga: "De facto, há programas que não foram cumpridos. Temos uma gestão autárquica entre PS e PSD [nos últimos anos] e o problema vem-se arrastando. Precisamos de respostas. A cidade não está a ser gerida como um todo. Temos de gerir a cidade como se fosse um corpo vivo. Foram os pequeninos investidores que se endividaram e que reabilitaram grande parte do edificado na cidade. Com a quebra de turismo, querem passar para um arrendamento de média e longa duração. Não estamos nada de acordo que lhes tirem as licenças".
Aeroporto de Lisboa
Fernando Medina: "O Montijo pode ser o aeroporto principal e Portela o secundário? Sim. Dissemos ao Governo: Alcochete ou Montijo? O Governo que decida. O grande requisito é que haja acessos rápidos à cidade de Lisboa. Há uma coisa que não pode acontecer. Não pode haver a expansão do aeroporto em Lisboa e qualquer solução de futuro tem de assegurar a diminuição do impacto do aeroporto de Lisboa. Estamos a viver um tempo de intervalo. Quando passarmos a fase da pandemia, vamos ter uma recuperação rápida do turismo e a cidade não tem capacidade aeroportuária para 30 milhões de movimentos".
Carlos Moedas: "A minha visão desde 2014 é Portela mais um. De facto, o Montijo poderá ter 24 movimentos por hora, o que é muito pouco. Alcochete permite mais movimentos. A minha ideia é Portela como aeroporto de cidade e depois outro [aeroporto] e penso que Alcochete seria a melhor decisão, mas isso terá de ser decidido pelos técnicos".
João Ferreira: "Aeroporto da Portela existe nesta localização há 80 anos e chegou-se à conclusão que tinha de ser substituído. Lisboa é a única capital com esta aberração que é um aeroporto a crescer dentro da cidade. Chegou aos 30 milhões de passageiros. Há falta de visão estratégica de Medina. Lisboa não precisa de mais um aeroporto, mas de substituir este. Passámos a aceitar como definitiva uma solução que até hoje era temporária, a Portela".
Beatriz Gomes Dias: "O que é fundamental é colocar a saúde e a segurança das pessoas em primeiro lugar. O que não pode continuar é este ziguezague, temos de ter uma decisão e o aeroporto tem de sair da cidade. Montijo teve parecer ambiental negativo, a solução é Alcochete e deve ser estudada".
Nuno Graciano: "A posição do Chega é que a situação Portela como está é insustentável. Há que criar uma solução. Alcochete ou Montijo ainda está em estudo. A solução é acabar com a Portela progressivamente. A melhor decisão é a que nos mostrarem os estudos. Tirar o aeroporto da cidade é fundamental e até hoje não houve um acidente graças a Deus".
Bruno Horta Soares: "[Não houve acidente não foi graças a Deus], mas ao avanço tecnológico permanente. Não é uma discussão a ter numa campanha. Espero que venham muitos turistas do Montijo, da Portela e muita gente e essa continua a ser a nossa visão".
Manuela Gonzaga: "Somos um partido decididamente ambientalista. Nem Alcochete nem Montijo, ali é o Estuário do Tejo. Aquele sítio é inviável. Temos um aeroporto perfeito em Beja e que com ligação ferroviária não é assim tão longe. Só falta uma autoestrada. Não desistimos Beja, mas não devemos desmantelar Portela".
Prioridades
Nuno Graciano: "Quanto à mobilidade. A Câmara de Lisboa construiu x quilómetros de ciclovias e o que se passa é que estão a obstruir a liberdade de circulação. Prejudicam a mobilidade de forma afincada".
Bruno Horta Soares: "Baixa de impostos e modernização deste monstro que está aqui ao lado. Tivemos um ano e meio de merda e estas serão provavelmente as eleições da nossa vida. Portanto, faço um apelo a que as pessoas votem".
Beatriz Gomes Dias: "Queremos continuar a influenciar a forma como a política é feita na cidade de Lisboa, queremos impor medidas que consideramos fundamentais como aumentar o parque de habitação pública da cidade. É fundamental ter mais casas e nós queremos construir 10 mil casas 100% públicas".
Manuela Gonzaga: "Para além da causa animal, que quero reforçar, uma das nossas bandeiras é uma cidade livre de touradas".
João Ferreira: "Temos um desafio em Lisboa que é conjugar de forma harmoniosa várias prioridades estratégicas. Precisamos de mais habitação a custos acessíveis, precisamos de intervir na habitação que existe. Tem de haver vida para além do turismo. Precisamos de qualificar ambientalmente a cidade. Temos de fazer de Lisboa uma cidade da cultura e do desporto e precisamos de um urbanismo mais transparente".
Fernando Medina: "A grande prioridade é, indiscutivelmente, a habitação para os jovens e para a classe média. Assegurar que estes têm casas a preços que podem pagar. Ao contrário do que aqui foi dito, o nosso programa está a avançar. Este é um caminho que não se faz sem dificuldades. Mais aposta no transporte público coletivo e requalificar espaço público".
Carlos Moedas: "Vim da Comissão Europeia para mudar a maneira como se faz política e a transparência será uma das minhas bandeiras. Acesso à saúde para os mais velhos. Trazer para Lisboa a experiência da construção de uma fábrica de empresas".
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