Os 12 candidatos à Câmara Municipal de Lisboa 'digladiam-se', na noite nesta quarta-feira, num debate com vista às eleições autárquicas.
O frente a frente, transmitido na antena da RTP, reuniu Fernando Medina (PS), Manuela Gonzaga (PAN), Bruno Horta Soares (Iniciativa Liberal), Carlos Moedas (PSD), João Ferreira (CDU), Beatriz Gomes Dias (BE), Nuno Graciano (Chega), Bruno Fialho (PDR), João Patrocínio (Ergue-te), Ossanda Liber (Somos Todos Lisboa), Sofia Afonso Ferreira (Nós, Cidadãos) e Tiago Matos Gomes (Volt).
Carlos Moedas, do PSD, começou por destacar que está "cada vez mais perto" da Câmara de Lisboa, baseando-se nas sondagens, enquanto que Medina, o atual líder da Câmara, prefere não antecipar cenários quanto a possíveis coligações no executivo camarário.
Beatriz Gomes, por sua vez, mostrou-se satisfeita com a experiência de governação do BE com o PS, apontando, porém, que o dossiê habitação foi o que menos avanços registou. Já João Ferreira defendeu que a CDU se apresenta a estas eleições "corporizando uma visão alternativa para Lisboa".
Fique a par dos principais temas do debate:
[Carlos Moedas] Esta eleição é uma missão impossível?
Carlos Moedas: "Mostram as sondagens que estou cada vez mais perto de ultrapassar Fernando Medina e de ganhar a Câmara [de Lisboa]. E é visível na rua o cansaço de uma governação socialista de 14 anos da capital e da arrogância do presidente que não ouve os lisboetas".
Sampaio protagonizou, há 32 anos, uma mudança em Lisboa ao estabelecer uma aliança com o PCP. Voltaria a apostar numa aliança à Esquerda ou não é preciso?
Fernando Medina: "Os tempos não se repetem. Em 1989, a coligação foi pré-eleitoral e isso está afastado. Não é pelo PS que a plataforma Mais Lisboa não é mais abrangente. A cidade está a viver um período de transformação. Conseguimos um estatuto de uma cidade mais internacionalizada, mais global. Essa posição que Lisboa atingiu colocou novos desafios que vão ter um caráter estrutural e permanente, como a habitação e a mobilidade".
Se não tiver maioria absoluta, como vai governar?
Fernando Medina: "Eu não quero fazer nenhum cenário antes das eleições. Este é um momento de apresentarmos as propostas aos lisboetas, de fazermos este diálogo olhos nos olhos. E os lisboetas vão falar no dia 26 [de setembro]".
A experiência de governação do BE com o PS foi positiva? Está arrependida?
Beatriz Gomes: "De modo algum. Estamos muito orgulhosas com o trabalho feito e satisfeitas com alguns dos resultados alcançados. Claro que há muita coisa a mudar em Lisboa e a habitação é sem dúvida uma dimensão onde os avanços foram menos significativos. E o acordo só foi possível porque o PS não teve maioria absoluta. Isso foi fundamental para, por exemplo, ter manuais escolares gratuitos".
O secretário-geral do PCP disse que está fora de causa uma coligação pós-eleitoral. O candidato João Ferreira diz que um entendimento é possível. Em que ficamos?
João Ferreira: "Estamos a terminar um ciclo de 20 anos ao longo do qual Lisboa conheceu no essencial três forças no governo, o PSD e o CDS e o PS (apoio do BE). E a CDU apresenta-se a estas eleições com o seu histórico de ligação a Lisboa e até ao seu executivo municipal. Apresentamo-nos corporizando uma visão alternativa para Lisboa, uma visão que rompe com elementos de continuidade como interesses particulares ligados à especulação imobiliária que entendemos que não devia ter acontecido. Há um conjunto de aspetos negativos que tiveram continuidade nestes 20 anos. E não foi por o PS ter maioria nos últimos 14 anos que isso deixou de acontecer".
Tem um posicionamento diferente e já mostrou disponibilidade para se entender com a candidatura de Carlos Moedas.
Bruno Horta Soares: "Depois de ouvir estes quatro candidatos, fica a sensação que a esquerda concorre para combater a direita, a direita concorre para combater a esquerda. Nós não somos direita, não somos esquerda, somos liberais. Por isso, acreditamos que o voto útil é no primeiro vereador liberal".
Para o PAN, o entendimento com o PS ou o PSD na Câmara é possível?
Manuela Gonzaga: "O PAN é um partido de causas e consensos, há muita coisa a resolver nesta Câmara; há uma imensa opacidade. Há velocidades muito diferentes com que os assuntos da população são resolvidos. Temos ouvido as populações e sabemos que as pessoas sentem-se muito marginalizadas, que a política é um gueto à parte. Os consensos são possíveis desde que quem quem governe tenha em consideração o que para nós é inegociável: direitos das pessoas, dos animais e a questão ambiental".
Lisboa precisa de um abanão? Que abanão é este?
Nuno Graciano: "Lisboa precisa de um abanão geral. Paira uma neblina sobre a Câmara Municipal que nós não queremos que continue a existir. Há um distanciamento entre a Câmara Municipal e os seus munícipes. A Câmara está a governar para dentro. E na rua vai-se ouvindo que pode haver sinais de corrupção. É um tema difícil que eu não ouço mais nenhum dos outros candidatos a falar. A medida para contornar passará por uma auditoria frequente à Câmara".
Diz que vem fazer política de forma diferente. O que quer dizer com isso?
Bruno Fialho: "Estamos a meio do debate e não foi apresentada uma medida. Estamos sempre no marasmo de atacarmos uns aos outros. É altura de dar oportunidade a quem não é político profissional mostrar que está aqui pelos lisboetas".
Tem experiência em comunicação, o problema da Câmara está na comunicação?
Sofia Afonso Ferreira: "Há um problema de propaganda. Parte da preparação da campanha foi passar a pente fino perto de 17 mil contratos da Câmara e o que se passa são milhões e milhões pagos em propaganda. Há uma questão que me aflige: é a falta de transparência e indícios graves de corrupção. Durante doze anos tivemos Manuel Salgado à frente do urbanismo, que foi constituído arguido, e passou a haver um vereador, Ricardo Veludo, que foi agora apanhado em escutas".
Como é que quer tornar Lisboa mais inclusiva e igualitária?
Ossanda Liber: "É um privilégio estar neste que é o único debate de televisão no qual participo. O que temos visto nos debates é a razão pela qual os lisboetas não votam porque, de facto, o que está em causa são os interesses partidários e não os dos lisboetas. Trazemos o oposto disso. Não temos nenhuma agenda partidária, pelo que o único interesse da candidatura são os lisboetas".
O que tem a propor?
João Patrocínio: "O que ouvi é mais do mesmo. Os lisboetas têm o que merecem. Para escolherem Fernando Medina para estar à frente de uma Lisboa há seis anos e há 14 o PS, isso diz muito. Entre os temas que podia falar vou pegar na corrupção. Ouço o partido do Nuno Graciano [Chega] falar de corrupção e dá-me vontade de rir. O partido está sob suspeita de assinaturas falsas na sua essência e vem falar de corrupção. Quando ouço falar o PCP até me arrepio. Uma das nossas ideias é o IMI em Lisboa ser zero".
Tem um cartaz que diz que o Volt não é política, é futuro.
Tiago Matos Gomes: "A frase é provocatória. Não queremos fazer política da mesma forma que se tem feito até hoje. É uma política de futuro. Somos progressistas. Há toda uma nova forma de entender a política. Queremos trazer boas práticas europeias para poder aplicar também na cidade de Lisboa. Por exemplo, queremos melhores ciclovias, tecnicamente bem feitas, como as que foram feitas em Copenhaga, ou corredores verdes, como em Liubliana".
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