Em entrevista à agência Lusa, no âmbito das eleições legislativas de 18 de maio, Rui Tavares afirmou que o Livre se apresenta a este sufrágio "não só como candidato a alargar o grupo parlamentar, mas também como candidato a uma alternativa de funções executivas", considerando que essa é "uma clareza que faltava à política portuguesa, nomeadamente à esquerda".
Questionado se o partido vai exigir ao PS integrar um executivo em troca de apoio parlamentar, o cabeça de lista por Lisboa respondeu que não.
"Isso é secundário. O Livre está pronto para essas responsabilidades, se essas responsabilidades nos forem endossadas. Mas, acima de tudo, o Livre é construtivo e não obstrui uma solução governativa que achemos que possa ser boa para o país, que possa ser de progresso, que possa ser de ecologia, que possa estar ancorada numa maioria à esquerda", respondeu.
O dirigente argumentou que esta "clareza" em relação à disponibilidade para assumir funções executivas "é importante, porque durante décadas ouviu-se sempre aquele pretexto de uma esquerda que enjeita responsabilidades como uma justificativa para depois o PS e o centro-esquerda basicamente terem uma certa autossuficiência em relação à governação, como se governar o país fosse apenas um monopólio deles".
Na entrevista, Tavares rejeitou estabelecer metas eleitorais concretas, mas considerou "pouco" se o partido mantiver a representação parlamentar de quatro deputados alcançada nas legislativas do ano passado, almejando crescer.
A argumentação do Livre para combater o chamado voto útil à esquerda passa por convencer o eleitorado de que um governo liderado pelo PS apenas avançará em determinadas áreas com a "pressão" deste partido.
"O Livre sabe ser insistente quando tem que ser, vulgo chato, e às vezes é preciso sê-lo. O Livre é, acima de tudo, exigente e impaciente", assegurou.
Tavares rejeitou ter "linhas vermelhas à partida" num eventual acordo parlamentar, mas reiterou algumas das principais reivindicações do Livre, como a exigência de o futuro primeiro-ministro vender, fechar ou entregar a uma gestão profissional independente qualquer empresa que esteja na sua posse, evitando situações como a de Luís Montenegro.
A obrigatoriedade de os governantes serem ouvidos no parlamento antes de assumirem funções executivas, a rejeição de "qualquer privatização do Serviço Nacional de Saúde", ou o reconhecimento do estado da Palestina são outras das propostas que o partido pretende levar a uma eventual mesa de negociações.
O deputado defendeu que o programa eleitoral do Livre apresenta medidas "razoáveis e realistas" do ponto de vista orçamental, exemplificando que os mil milhões de euros anuais que o partido quer investir em habitação, para alcançar os 10% de parque público até 2040, teriam origem num imposto extraordinário sob lucros de empresas do imobiliário, seguradoras e banca.
A herança social -- um "pé-de-meia" de cerca de 5.000 euros que o partido quer atribuir a todos os bebés nascidos no país -- terá um custo de cerca de 400 milhões de euros, segundo contas do Livre, financiados "através de um imposto sobre as grandes heranças e as grandes fortunas, a exemplo do que foi feito em Espanha, e calculado à proporção do que é o nosso PIB e o PIB espanhol".
Tavares justificou a "prudência" do programa com a atual instabilidade internacional, criticando o "aventurismo e irresponsabilidade" de outros partidos.
O dirigente do Livre disse que chamará a si eventuais responsabilidades no caso de um mau resultado eleitoral, mas manifestou confiança de que o partido vai crescer e ter um maior "enraizamento pelo país".
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