"Vou dizer uma coisa que talvez não seja politicamente correta. Nós ganhámos com a Covid-19. E ganhámos porquê? Porque Portugal foi um país que, tendo as suas dificuldades, enfrentou a Covid-19 com êxito". A (polémica) declaração foi proferida pelo secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, durante o salão de vestuário e têxtil Première Visio, em Paris, quando questionado sobre o desempenho da marca 'Made in Portugal'.
"Faleceram pessoas e muitas pessoas passaram muito mal, mas Portugal mostrou-se um país muito organizado, que enfrentou uma realidade muito disruptiva com sucesso", acrescentou o governante, em frases que já 'valeram' reações de personalidades políticas dos vários quadrantes.
Foi Jerónimo de Sousa quem deu 'o pontapé de saída'. À margem de uma ação da campanha autárquica, em Montemor-o-Novo, o secretário-geral considerou que "dizer que Portugal é uma marca, tendo em conta a Covid-19, é no mínimo descuidado". Para o líder comunista, "uma marca onde houve tanto doente e tanto morto nunca é uma boa marca".
O dirigente do PCP advogou que é também "discutível" dizer que o país é uma imagem de marca, quando ainda "estão por resolver consequências" socioeconómicas decorrentes da pandemia: "Mais do que procurar a imagem de marca", primeiro é necessário resolver os problemas que persistem no país. Só aí "deve ser reconhecida" a marca Portugal.
Seguiu-se Francisco Rodrigues dos Santos, presidente do CDS-PP, que, defendendo que a pandemia de Covid-19 "foi uma desgraça que se abateu" em Portugal, ironizou que "o senhor secretário de Estado talvez tenha levado a internacionalização longe de mais e provavelmente esteve a viver noutro planeta nestes últimos dois anos", afirmou.
"Talvez, pergunto eu, o senhor secretário de Estado queria dizer que a pandemia foi uma coisa boa para o PS, porque aumentou a pobreza, tornou as pessoas mais dependentes do Estado e dos seus subsídios, engordou o aparelho do Estado e ainda permitiu ao Governo controlar, na medida do possível, a comunicação social", salientou.
Por sua vez, a coordenadora bloquista, Catarina Martins, considerou "profundamente infeliz" que o secretário de Estado da Internacionalização tenha dito que Portugal ganhou com a pandemia depois do "tremendo sacrifício e sofrimento da população", recusando pronunciar-se sobre consequências políticas. "Eu acho que a frase é profundamente infeliz e acho que não devo dizer mais nada sobre isso", respondeu, por diversas vezes a líder do BE, no final de uma arruada pela Rua Morais Soares, em Lisboa.
Também já Rui Rio, líder do PSD, reagiu às palavras do secretário de Estado. "Ouvi o secretário de Estado Eurico Brilhante Dias, em dia que me parece não brilhante para ele, dizer que pandemia [de Covid-19] até acabou por ser boa para a marca Portugal. Isto até toca o ridículo", observou, no concelho do Nordeste, ilha de São Miguel.
"Acho que, à medida que a campanha avança e chega ao fim, começa a não haver muito para dizer e começam a inventar, mas chegar ao ponto de apresentar António Costa [primeiro-ministro e secretário-geral do PS] como o homem que nos salvou da pandemia e um secretário de Estado dizer que pandemia nem é má, já começa a reinar o absurdo", afirmou o presidente do PSD.
E o que disseram António Costa e o Governo?
O secretário-geral do PS, António Costa, desvalorizou as declarações do secretário de Estado da Internacionalização sobre a Covid-19, mas realçou que a maneira como Portugal controlou a pandemia "não é um cartaz turístico".
"O secretário de Estado estava a fazer uma intervenção em que explicava que, relativamente a esta situação, Portugal, indiscutivelmente e isso é claro, provou bem [a sua capacidade] no contexto internacional. Agora, não é um cartaz turístico", disse António Costa, questionado pelas declarações de Eurico Brilhante.
Em defesa do secretário de Estado saiu o Ministério dos Negócios Estrangeiros, que esclareceu que o governante lamentou as mortes por Covid-19 e salientou os efeitos "profundamente negativos" da doença na saúde. Numa nota, é referido logo à cabeça que "ninguém ganhou com a pandemia" e alegado que o secretário de Estado "respondeu a uma pergunta que tinha como tema os impactos da pandemia na marca Portugal".
Brilhante Dias "também salientou os efeitos profundamente negativos na saúde dos portugueses e lamentou os cidadãos que faleceram e que padeceram da doença. Ninguém ganhou com esta pandemia. Nem Portugal, nem qualquer outro país", pode ler-se ainda.
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