Esta posição foi transmitida por António Costa aos jornalistas, depois de questionado se a atual conjuntura política poderá tornar mais difícil a viabilização da proposta de Orçamento do Estado para 2022 por parte de forças políticas como o PCP, PEV e Bloco de Esquerda.
O líder do executivo contrapôs, que, "até agora, nenhum dos parceiros [de esquerda no parlamento] estabeleceu qualquer relação entre eleições autárquicas e o processo orçamental".
"Isso foi dito publicamente e continua a ser dito. Na própria noite das eleições, aliás, o próprio secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, disse isso. Portanto, não há qualquer razão para que uma coisa altere a outra", sustentou.
O processo de debate do Orçamento, de acordo com o primeiro-ministro, "tal como tem acontecido desde 2016, tem de ter um objetivo fundamental, que é o de dar continuidade às boas políticas para melhoria do rendimento das famílias, criação de mais e melhor emprego e trajetória de crescimento da economia".
Interrogado sobre o facto de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter já recusado qualquer crise política em Portugal, o primeiro-ministro respondeu: "O desejo do Presidente da República de que não haja crises políticas é partilhado pelo Governo e pela esmagadora maioria dos portugueses".
"Mas quem pode desejar crises políticas num momento em que o país está a tentar sair da maior crise económica que alguma vez teve?", apontou, numa alusão às consequências da pandemia da covid-19 em Portugal.
Para o efeito, António Costa apontou que "ainda na semana passada o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou os números da queda da economia em 2020".
"Observámos então a queda brutal que sofremos. Foi talvez anestesiada pelo conjunto de medidas adotadas, em particular ao nível do emprego e para a sobrevivência das empresas (parte delas estiveram meses sem poder trabalhar). Apesar da rede de segurança criada, temos um imenso desafio pela frente", contrapôs.
Neste ponto, António Costa voltou a insistir na recusa de um cenário de crise política, lançando novamente uma questão.
"Perante este desafio do país, quem pode querer acrescentar uma crise política? Crise política é um cenário que não faz sentido, não se põe"
O primeiro-ministro referiu depois que o Governo está a trabalhar para entregar em 11 de outubro um bom Orçamento do Estado no parlamento.
"Espero que o debate permita a seguir melhorar a proposta com o contributo dos partidos com quem temos trabalhado. Está marcada para 26 de novembro a votação final do Orçamento e nessa altura poderemos acrescentar aos recursos que a União Europeia nos disponibiliza os recursos nacionais", assinalou.
Perante os jornalistas, o líder do executivo retomou o discurso de que o país "tem agora oportunidades novas com o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)".
"Portanto, esta é uma fase em que o país tem de estar, não só focado em executar o Orçamento, mas também em não perder tempo com questões políticas que travem a oportunidade extraordinária que a União Europeia nos proporciona. Como ainda na segunda-feira disse o senhor Presidente da República, recuperar não é só repor aquilo que perdemos durante este ano de crise. Temos a estrita obrigação de ir mais além e mais rápido do que em condições normais. Temos as verbas do Portugal 2020, vamos ter as verbas do Portugal 2030 e temos ainda o PRR", acrescentou.
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