"O que a Altice está a fazer é uma operação de baixar os salários em Portugal, está a fazer a Altice estão a fazer outras grandes empresas", disse Catarina Martins.
A líder do BE falava no final de uma reunião com um grupo de trabalhadores que não aceita o processo de despedimento coletivo na operadora de telecomunicações do grupo Altice que envolverá 204 trabalhadores, após uma redução face ao número inicialmente previsto de 232 pessoas, segundo dados da Comissão de Trabalhadores da empresa.
"A Altice está num processo de despedir quase 250 trabalhadores, dizendo que os seus postos de trabalho acabaram, quando é mentira, porque está a substituir trabalhadores do quadro por trabalhadores em 'outsourcing' para deixar de pagar salários que em muitos casos nem sequer chegam aos mil euros, e pagar o salário mínimo nacional a trabalhadores que vão fazer o mesmo que estes já estavam a fazer", disse.
Catarina Martins salientou "a coragem extraordinária" do grupo de trabalhadores com quem hoje reuniu "de recusar estes despedimentos e de os contestar em tribunal".
"A minha expectativa é que possam ganhar os seus processos porque têm razão", considerou.
Em seu entender, "não se pode falar de recuperação da economia ao mesmo tempo que se permite que grandes empresas estejam a substituir trabalhadores que ganham mil euros por trabalhadores que ganham o salário mínimo nacional, é inaceitável".
"O BE já entregou várias propostas sobre esta matéria e, hoje mesmo, entregaremos no parlamento uma proposta que impede as empresas que têm resultados positivos de despedirem durante o tempo da pandemia, portanto, até ao ano de 2022, que é uma altura em que a economia ainda não está a recuperar e em que o Orçamento do Estado e a Segurança Social estão muito pressionados", afirmou.
E acrescentou: "Vamos exigir explicações sobre porque é que, embora seja uma empresa privada, o Governo não colocou nenhum obstáculo a esta substituição ilegal na Altice".
A dirigente bloquista defendeu que é preciso "travar despedimentos como este da Altice e em outras grande empresas e temos dito que é preciso acabar com as leis da 'troika' que desvalorizaram salários e que fazem com que tanta gente, dez anos depois, continue a não ganhar o que ganhava e tenha décadas de salário congelados".
"Preocupam-nos duas coisas, que o aumento do salário mínimo seja concretizado e seja efetivo, mas também alterar as leis do trabalho. Porque nós não queremos um país em que o salário mínimo é a regra, queremos um país que é capaz de ter salários médios que permitam às pessoas viver. Nós queremos acabar com estes despedimentos consecutivos que estão a ser feitos para substituir trabalhadores a receber mil euros por trabalhadores a ganhar o salário mínimo", acrescentou.
Para Catarina Martins, "há um duplo problema" em Portugal: "Um salário mínimo que não permite que quem trabalhe saia da pobreza e temos um salário médio muito baixo e cada vez mais próximos dos salários mínimos, porque mantemos as leis da 'troika' no Código do Trabalho".
"E ninguém acredite que a economia não suporta salários mais altos, suporta, o que não suporta é o aumento das desigualdades", frisou.
O processo de despedimento coletivo de 246 trabalhadores, iniciado em 30 de junho pela Meo -- Serviços de Comunicações e Multimédia, S.A. e pela PT Contact, foi, entretanto, sendo reduzido, sobretudo devido a rescisões, restando cerca de 40 trabalhadores.
Os trabalhadores têm protestado contra este despedimento, tendo realizado uma greve e várias concentrações e plenários.
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