Rui Rio considerou esta quarta-feira, em declarações aos jornalistas, que aquilo que aconteceu no Conselho Nacional do partido - o chumbo da sua proposta para o adiamento das eleições internas - "não foi nem uma vitoria nem com derrota, [mas sim] uma divergência".
"O Congresso do PSD em situação normal podia acontecer em fevereiro, como tivemos eleições autárquicas no fim de setembro, entendemos que talvez fosse melhor antecipar o congresso para não esperar tanto tempo. Acontece que nesse momento aconteceu o que estamos a ver - BE e PCP a anunciarem o voto contra ao OE. Acontece todos os anos, mas este ano tem uma especificidade própria", defendeu o líder social-democrata e recandidato ao cargo, no final de uma audiência com o Comité Olímpico de Portugal
O cenário, considera Rio, é "mais sério e o PSD fica numa situação muito difícil". Nesse sentido, destacou, "para que é que vamos antecipar se podemos ter esse problema. (...) Mas isto não mereceu acolhimento da maioria, o que não quer dizer que por essa razão que sinto que deixo de ter razão", explicou.
O que Rio queria, e reiterou, era "bom-senso, serenidade, pelo interesse do partido", para que se "esperasse pelo que vai acontecer" e, em função disso, marcar, "tranquilamente", uma data. O líder do PSD disse ainda entender a razão pela qual a sua proposta foi rejeitada, mas não quer, publicamente, falar sobre ela.
Questionado sobre o que o leva a recandidatar-se à presidência do partido, Rio afirmou que aquilo que foi decisivo é "aquilo que está escrito no pequeno comunicado", remetendo para depois uma intervenção mais aprofundada sobre o tema. "Verão muito em breve uma intervenção mais sustentada, mas o fundamental está já dito. Estamos em crer que há efetivamente o perigo de ter eleições antecipadas. Mas nós, PSD, CDS, IL, ninguém destes partidos domina o que quer que seja nesta matéria, isto é da inteira responsabilidade do PS, PCP e BE", argumentou.
"Estamos a correr efetivamente o perigo de poder haver eleições antecipadas (...), de termos uma crise política já na próxima semana. Ou não (...)", frisou, atribuindo novamente "a inteira responsabilidade" à Esquerda, caso o Orçamento do Estado não seja viabilizado.
"PSD, CDS, IL, ninguém destes partidos domina o que quer que seja nesta matéria, isto é da inteira responsabilidade do PS, PCP e BE", atirou, reconhecendo que "[PS, Bloco e PCP] estarão a fazer um esforço de entendimento "sério". "Mas que pode não conseguir frutos", observou. "Para o bem e para o mal", reforçou, a responsabilidade do que vier a acontecer só pode ser atribuída à Esquerda.
Rio estará concentrado em "duas coisas"
Interrogado sobre se repetirá a proposta de adiamento das eleições internas, caso o OE2022 seja chumbado já na generalidade, Rui Rio respondeu apenas: "Cada coisa a seu tempo. Vamos ver se é chumbado ou não", disse, lembrando os ataques "violentos" de foi alvo quando levantou a hipótese de se "ponderar" um eventual adiamento do calendário do partido. Para já, Rio vai concentrar-se em duas coisas: "A apresentação da candidatura formal (...) e a preparação do debate do Orçamento do Estado".
Sobre se tem apoio do partido para vencer as diretas, o ex-autarca do Porto atirou, entre risos: "Claro que tenho. Já ganhei muitas eleições, a única que não ganhei foi as Legislativas. Qualquer eleição é sempre difícil. Cada jogo é um jogo, cada eleição é uma eleição", continuou, considerando o seu "desprendimento" uma vantagem.
Para já, Rio sabe que contará com Paulo Rangel como adversário. O eurodeputado do PSD anunciou na semana passada a candidatura, defendendo que o PSD não deve ser "o partido da espera".
A Rio é-lhe "completamente indiferente" a avaliação de quem pode estar ou não em vantagem neste momento. "Isto tem a ver com as convicções e com aquilo que é a minha obrigação. Tenho obrigação ou não tenho obrigação? Tenho obrigação de olhar para a minha vida pessoal e para o que acarreta um esforço pessoal desta função e da candidatura a primeiro-ministro ou colocar em primeiro lugar, não a vida pessoal, mas o país e o partido", explicou.
Na sua ponderação de fatores, o presidente do PSD chegou à conclusão de que "não era facilmente entendível pelos portugueses e pelos militantes" que dissesse "chega". "A maioria não entenderia e, de certa forma, exige-me, com alguma razão, que esteja disponível para esse lugar", afirmou.
Questionado sobre uma alegada vantagem do outro candidato já assumido, em termos de apoios de estruturas, Rio desvalorizou essas contas. "Quem vai decidir é o militante. Cada militante lá pensará e dirá gosto mais do A, gosto mais do B, gosto mais do C. Haverá alguns que não sabem e dirão 'diz-me lá em quem votas', mas a maioria são homens e mulheres livres que irão votar em função do que é melhor para o país e não em que os mandam", afirmou.
Rio não adiantou ainda onde e quando fará a apresentação da sua candidatura, deixando a entender que será no final da semana e fora de Lisboa.
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