"Não sinto confiança para dizer que a Geringonça é uma solução estável"
Caso o PS não vença as legislativas com maioria absoluta, que cenários poderão estar em cima da mesa? Saiba como decorreu o debate entre Jerónimo de Sousa e António Costa.
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Política António Costa
O secretário-geral do PS, António Costa e o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defrontaram-se, esta terça-feira, na TVI, num debate em que revelaram o que os separava.
O confronto de ideias começou leve, mas logo António Costa começou por apontar o dedo indicando que o 'chumbo' do Orçamento, para o qual contribuiu a Esquerda, "foi um ato de enorme irresponsabilidade política".
O secretário-geral do PS declarou-se sem confiança na "Geringonça" como modelo estável de governação após este 'chumbo', enquanto o líder do PCP acusou os socialistas de terem preferido eleições em vez de soluções.
Jerónimo assumiu ainda que "não há inimigos" entre o PS e PCP e, sobre um possível acordo com os socialistas, afirmou que não faz "futurologia".
"Não há mortes definitivas a não ser a própria morte, mas nas atuais circunstâncias, não tenho condições para dizer que [é] solução estável", concluiu o atual primeiro-ministro.
Eis os principais destaques:
Se o PS vencer sem a maioria, sente que o partido não terá outra hipótese senão negociar com o PCP e outros partidos de Esquerda?
Jerónimo de Sousa: "Em primeiro acho que é importante esclarecer alguns equívocos que existem. Estas eleições não são para o primeiro-ministro, são para eleger 230 deputados que mediante a correlação de forças pode surgir uma solução. Mas mais do que a preocupação com o PS, consideramos fundamental, tendo em conta a situação do país, que um Governo deve governar não com quem, mas para quê. Os eleitores ainda não decidiram e nesse sentido vamos aguardar pelo resultado eleitoral."
"Não terei a precipitação de fazer contas antecipadas."
"Os portugueses estão mais interessado no que cada um defende."
António Costa: "O país percebe bem que esta crise política que foi criada com o chumbo do orçamento em plena pandemia numa altura em que o país tinha de estar focado na recuperação económica e na recuperação social, foi um ato de enorme irresponsabilidade política."
"Os portugueses sentem a necessidade de colocarmos toda a energia no esforço de recuperação e virar esta página da pandemia e responder aos problemas sociais e económicos que o país tem, e para isso precisamos de estabilidade."
"Depois do que aconteceu, para termos uma estabilidade segura e certa, é podermos contar com uma maioria. Jerónimo de Sousa coloca a questão 'para quê a maioria'?, eu digo que a resposta é que esta maioria é necessária para que entrem em vigor todas as medidas importantes para as famílias, importantes para as empresas e que foram chumbados no Parlamento."
"Os cidadãos decidirão. Aquilo que me compete dizer é aquilo que eu acho necessário e o que pretendo fazer. Primeiro lugar: se o orçamento tivesse sido aprovado, todos os pensionistas que recebem pensão até 1097 euros já estariam, neste mês, a receber um aumento extraordinário. As micro, pequenas e médias empresas já teriam visto eliminado o pagamento especial. 170 mil famílias já estavam isentas de pagar o IRS. 120 mil crianças que vivem em situação de extrema pobreza já estariam a receber, neste momento, a garantia infantil."
Jerónimo de Sousa: Porque não avançou com essas medidas?
António Costa: "Não avançou porque o PCP se juntou com outros partidos para chumbarem o Orçamento do Estado. Nós fizemos o aumento normal que o regime de duodécimos nos permite, não podemos fazer o aumento extraordinário porque o regime de duodécimos não permite. Estaríamos a fazer mas o orçamento foi chumbado. Porque chumbaram o orçamento?"
Porque chumbaram o Orçamento. Tinha ou não a marca do PCP?
Jerónimo de Sousa: "Neste orçamento, o que era marcante não era tanto a linha de avanços que tinha sido alcançado noutros anos, mas... essa pergunta do por que é que chumbámos o orçamento é porque, para além do conteúdo geral, o PCP, numa altura crucial de discussão do orçamento do estado, colocou três questões fundamentais ao governo: a revogação da legislação laboral que atinge direitos individuais e coletivos, aliás o governo vai ter de explicar como é que se aumenta o salário médio se em relação à definição dos montantes em critérios como o que está a acontecer na administração pública, onde os trabalhadores não tiveram praticamente nenhum aumento... portanto, salários, a questão do SNS, como elementos cruciais para resolver problemas e responder aos anseios dos portugueses."
"Toda a imagem de o governo quer uma maioria, depois quer uma maioria estável, depois a maioria mais um e finalmente a maioria absoluta."
As negociações e cedências foram suficientes para a aprovação do OE2022?
António Costa: "Estamos a viver há quase dois anos em pandemia. Eu pergunto se alguém acha que um primeiro-ministro, no meio da mais grave crise sanitária que alguma vez tivemos de viver, no meio de uma enorme incerteza em que temos governado nestes últimos dois anos, e que os peritos se dividem se é para usar ou não máscara, se é para estarmos isolados 5 dias ou 7 dias. Neste momento de enorme incerteza, onde tivemos a maior crise económica que o país alguma vez teve, onde fizemos das tripas coração para proteger empresas, empregos e rendimentos, numa crise económica destas há algum primeiro-ministro que quer abrir uma crise e ir para eleições? Mas algum primeiro-ministro no mundo provoca eleições antecipadas no meio de uma crise destas? Toda a gente sabe que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance."
"É por isso que queremos uma maioria, porque não queremos que os portugueses vivam de crise em crise e com governos provisórios de dois anos."
Mas não era possível ter chegado mais longe no Orçamento?
António Costa: "Houve um tema fundamental que foi do aumento do salário mínimo nacional. Fizemos este anos o maior aumento do salário mínimo nacional de sempre: 40 euros. A proposta do PCP é que a 1 de janeiro fizéssemos mais do dobro: 755 euros. E fizéssemos mais do triplo em junho chegando aos 800 euros. O que eu pergunto é o seguinte: É exigível, neste momento, às empresas, em particular às que pagam o salário mínimo como a restauração, setor do turismo, o setor têxtil - que teve quase dois anos sem vendas -, os setores mais afetados pela crise queremos impor-lhes um aumento desta natureza? Quando há uma enorme incerteza sobre o que acontece com o preço das matérias primas, da energia... ouça isto é o maior aumento de sempre do salário mínimo nacional! Desde o 25 de abril que nunca houve um aumento tão grande e pergunta se podíamos ter feito o dobro?"
"Estas eleições não são sobre recriminações sobre o passado, são sobre o futuro. Não aceito é acusações. Estou aqui para fazer avanços."
Jerónimo de Sousa: "Considero que não é momento nem espaço de acusações mútuas, mas temos de ser rigorosos. O Governo do PS chegou a um momento em que claramente desistiu e em vez das soluções começou a pensar em eleições".
Que confiança é que fica entre os dois partidos?
Jerónimo de Sousa: "Não há aqui inimigos, existem naturalmente adversário políticos, mas não tenho ideia de um discurso belicista. A nossa perspetiva é clara, mas para encontrar soluções, o país precisa de soluções."
António Costa: "Não há mortes definitivas a não ser a própria morte, mas nas atuais circunstâncias, não tenho condições para dizer que a solução estável". "Neste momento, não sinto confiança para dizer que essa é uma solução estável (...), a solução segura e certa é uma maioria do PS nas eleições legislativas antecipadas."
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