"Isto é um orçamento feito ao volante de um mini que meteu as alterações climáticas na bagageira", disse à Lusa Patrícia Gonçalves, que está a ocupar o único lugar que o Livre tem na vereação da Câmara Municipal de Lisboa (CML), em substituição de Rui Tavares.
Patrícia Gonçalves sublinhou que este é o primeiro orçamento "de um executivo que é minoritário", liderado por Carlos Moedas (PSD), que apresentou propostas que "são retrocessos do ponto de vista da descarbonização, da saúde e nas alterações climáticas" que o Livre não pode aceitar.
"Por exemplo, na mobilidade, há o estímulo à utilização do carro privado com o aumento dos lugares de estacionamento à superfície no centro da cidade e com descontos para residentes no valor de 2,5 milhões de euros. Isto são políticas que põem em causa a descarbonização que nós defendemos afincadamente e as metas que nós defendemos e que vão em contraciclo com o que se está a fazer nas cidades mais modernas europeias", disse a vereadora.
A isto se junta, para o Livre, "uma certa hostilidade em relação à mobilidade ciclável" e, em concreto, à rede de ciclovias de Lisboa, já que a proposta é "continuar a executar as que já estão contratualizadas ou em execução", sem que haja propostas "para o futuro, para a expansão da rede".
Na área da saúde, a criação de "um seguro de saúde privado para pessoas com mais de 65 anos" é uma "questão que choca" o Livre.
"Este seguro cobre menos de 10% da população com essa idade e são dois milhões de euros que achamos que deviam estar consagrados a novos centros de saúde e a reforçar equipamentos de proximidade", afirmou.
A vereadora lamentou, por outro lado, que o executivo de direita que lidera a câmara de Lisboa desde outubro passado seja "um executivo minoritário com um discurso público de diálogo, mas que depois não pratica, não o faz".
"É um executivo dialogante não praticante, à moda do PSD", disse Patrícia Gonçalves, que reiterou que não houve qualquer tentativa de diálogo ou negociação com a oposição no executivo camarário nas últimas semanas.
Está a decorrer esta tarde a reunião do executivo camarário para debater e votar as Grandes Opções do Plano (GOP) para 2022-2026 e o orçamento para 2022.
A governar a cidade sem maioria absoluta, o executivo presidido por Carlos Moedas, com sete eleitos da coligação "Novos Tempos" (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança), vai conseguir viabilizar a proposta de orçamento, assim com as GOP, uma vez que os cinco vereadores do PS já anunciaram que se vão abster.
Além do Livre, anunciaram que vão votar contra os dois vereadores do PCP e a vereadora independente Paula Marques, que foi eleita na lista da coligação PS/Livre.
Desconhece-se, até agora, o sentido de voto da vereadora do BE.
O executivo é ainda composto por sete eleitos pela coligação "Novos Tempos" (três do PSD, dois do CDS-PP e duas independentes), que são os únicos com pelouros atribuídos.
A proposta de orçamento para 2022 do executivo de Carlos Moedas prevê uma despesa de 1,16 mil milhões de euros para este ano.
Leia Também: PCP na Câmara de Lisboa vota contra orçamento por ter medidas "gravosas"